Ferrugem da soja resiste mais aos fungicidas 27/05/2009
- Niza Souza - O Estado de S.Paulo
Quase dez anos após o surgimento dos primeiros focos no Brasil, a ferrugem asiática da soja está incorporada à rotina dos produtores, que já dominam tecnologias e manejo de controle da doença. Entretanto, na safra 2008/2009, encerrada em abril no Centro-Sul, um fato novo chamou a atenção de pesquisadores e da indústria de defensivos: algumas populações do fungo Phakopsora pachyr hizi, causador da ferrugem, estão menos sensíveis a fungicidas do grupo químico triazol, o mais usado contra a doença.
"Os triazóis, sozinhos, eram muito bons, até como 'curativos'. Hoje não têm tanta eficiência", disse a pesquisadora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja, durante o Congresso Brasileiro da Soja e Mercosoja 2009, que terminou na sexta-feira, em Goiânia (GO).
A alternativa para manter a eficiência do controle químico, ainda a principal ferramenta contra a doença, é a aplicação do triazol combinado com um produto de outro grupo químico, a estrobilurina. A pesquisadora explicou que, como o triazol é uma opção barata para o produtor - enquanto os produtos à base de misturas podem custar o dobro -, houve uso indiscriminado. "Quando se usa muito um determinado grupo, é comum ocorrer uma seleção natural de fungos menos sensíveis, ou seja, eles vão ficando mais resistentes. Por isso também é recomendada a rotação de princípios ativos, uma boa estratégia para evitar problema de resistência."
PUBLICIDADE
RECOMENDAÇÃO
Para algumas regiões, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, importantes produtoras do grão, a Embrapa orienta, desde a última safra, predominantemente, o uso das misturas dos dois grupos. "Um grupo atua na inibição da síntese ergosterol (que forma a parede do fungo) e outro na respiração do fungo. Com os dois grupos juntos, o fungo precisaria mutar em dois pontos diferentes para criar resistência ao fungicida", explica.
Em Mato Grosso, a eficiência dos fungicidas à base de triazol caiu da faixa de 80% a 90% para 40% a 50%, confirma o pesquisador Fabiano Siqueri, da Fundação MT. "O manejo com triazóis vinha bem até a safra 2007/2008. Nesta safra (2008/2009) percebemos, com dados de experimentos, a queda da eficácia, considerando o mesmo número de aplicações e a mesma quantidade de produto", diz. "A partir daí, os triazóis (há muitos produtos e genéricos no mercado) ficaram nivelados por baixo e passamos a recomendar a mistura."
A boa notícia é que o clima nas duas últimas safras colaborou e a ferrugem chegou mais tarde, e de maneira esparsa, às plantações. "Este ano, por exemplo, tivemos seca em janeiro, o que dificultou a disseminação e multiplicação do fungo", comenta Siqueri. "Mas se fosse um ano de clima estável, poderíamos ter alta incidência da doença no Estado."
As pesquisas também mostram outro fator animador. "Com o vazio sanitário, obrigatório em todas as regiões produtoras, percebemos que as populações menos sensíveis ao triazol não predominaram. Isso mostra que, por enquanto, elas não estão tão adaptadas", diz Cláudia.
NÚMEROS
- 13,4 bilhões de dólares é o impacto da ferrugem da safra 2001/2002 até a safra 2007/2008
- 26% foi o aumento registrado nas vendas de fungicidas de 2007 para 2008, segundo o Sindag
- 2.884 ocorrências de ferrugem foram detectadas até abril, ante 2.106 focos na safra anterior