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DIA A DIA

Especialistas não sabem porque avião não desviou da tempestade
08/06/2009 - G1

Uma simulação do voo 447, Rio-Paris, mostra que o comandante do Airbus A-330, da Air France, que caiu no Oceano Atlântico no último domingo de maio (31), conduziu o avião por uma tempestade que tinha um topo de 18 km. Por quê? A resposta é um dos enigmas do caso.

“Ele (o comandante) não foi pego de surpresa”, diz um dos especialistas que usou o simulador da cabine de comando do Airbus para procurar algumas explicações.

Um piloto com 17 anos de experiência observa: “É impossível passar? Não é impossível. É recomendável? Não é.”, diz José Mauro Lins de Oliveira. O instrutor e piloto Luiz Almeida, 24 anos de experiência, afirma: “Eu ia desviar, sem dúvida alguma”.


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E não foi por falta de informação, porque, segundo o professor de Ciências Atmosféricas da USP, a tripulação sabia que ia encontrar tempestade no caminho até a França. Já o engenheiro mecânico, piloto e investigador de acidentes Jeffeerson Fragoso acredita que, em vez de uma série de panes, o avião pode ter sofrido apenas um grande colapso e caído em quatro minutos:

“Se houver uma fratura estrutural no nível de voo que eles estavam - 34, 35 mil pés - você demoraria exatamente quatro minutos pra chegar ao solo, né?”, explica Fragoso.

A sequência dos acontecimentos

19:00 – O Airbus se apronta para a partida do avião do aeroporto Internacional Tom Jobim. Como é comum nesses voos os passageiros da primeira classe e da executiva se sentam na parte da frente. Mais atrás, viajam os da classe econômica.

19:30 - O avião com capacidade para 219 passageiros decola com apenas três lugares vazios. A tripulação é composta por três pilotos e nove comissários. O comandante do Airbus sabia que ia encontrar tempestade, mas, no primeiro momento, a situação era bem tranquila:

O professor de Ciências Atmosféricas da USP, Augusto José Pereira Filho, explicou que o sobrevoo no Oceano Altântico começou sem problemas: .

“Subindo, ele entrou na área alta do Atlântico onde não tem nem nuvem, voo muito tranquilo, mas muito tranquilo até aqui nessa região”.

Piloto há 17 anos e experiente no mesmo tipo de aeronave, José Mauro Lins de Oliveira diz que os pilotos sabiam as condições climáticas que enfrentariam: “Nós recebemos toda uma programação meteorológica de toda a rota, em função disto você programa junto com a tripulação determinadas ações durante o vôo”.

21:00 - A reconstituição indica que as condições climáticas sobre o Oceano Atlântico tinham se agravado, com a uma forte tempestade. “Essa tempestade foi alimentando outras tempestades que formaram uma região de muita tempestade profunda. É como se eu tivesse o estado de Pernambuco na frente dele, um paredão”, explicou o professor da USP.

O Centro de Controle da Aeronáutica Cindacta 3 faz o acompanhamento meteorológico da região, conforme explicou o tenente-brigadiero Ramon Borges. “Nós temos um sistema que permite ao piloto se comunicar com esse centro meteorológico e perguntar sobre modificações ou informações que sejam necessárias para ele fazer a correção do seu voo”.

O instrutor e piloto Luiz Almeida acredita que o radar meteorológico do avião funcionava: “Você já decola com o radar ligado e faz o voo inteiro com o radar ligado”.

22:30: O piloto faz o último contato de voz com o controle aéreo brasileiro, informando sua posição.

23:00: O Airbus da Air France envia uma mensagem eletrônica para a companhia aérea.

“Ele apertou uma tecla e abriu uma página transmitindo à empresa que ele ia passar por uma área de instabilidade”, explicou o instrutor Luiz Almeida. O piloto José Mauro chamou a atenção para um fato: “Ele não foi pego de surpresa”.

Neste ponto da simulação da trajetória do avião, há alguns pontos sem resposta: “Ele cruzou a tempestade na região onde o topo é da ordem de 18km”, diz o professor do USP. E o piloto José Mauro sublinha:

“É impossível passar? Não é impossível. É recomendável? Não é”.

Segundo pilotos entrevistados pelo “Fantástico”, através do radar do avião seria possível enxergar brechas entre os núcleos do temporal, o que, de acordo com o instrutor Luiz Almeida, seria recomendável: “Como qualquer piloto, eu ia desviar, sem dúvida nenhuma”.

Os últimos momentos do voo

23:10: O avião informa problemas no leme e o desligamento do piloto automático.

“A aeronave começa a perder altitude”, explica Luiz Almeida, enquanto mais uma mensagem mostrou que os sistemas de proteção do A 330 pararam de funcionar.

“Ele já está me dando o primeiro alarme aqui, a velocidade está começando a entrar em uma altitude não certa de voo, uma altitude anormal”, continua Luiz, enquanto o avião perde o sistema anticolisão, o acelerador automático e telas com dados do voo.

Sentando na posição de piloto no simulador do Airbus, o instrutor diz: “Agora ele está subindo sem eu comandar. Está fazendo uma curva do lado direito, nós estamos começando a perder a velocidade”.

Os computadores de navegação se apagam. “Você perdeu seu lado do copiloto”, explica Luiz. O momento seria de muita tensão, segundo a simulação, em um minuto o avião vai desaparecer começar a cair. Os computadores principais entrariam em colapso.

“Você vê com esta perda que nós começamos a cair, são 2.700 pés por minuto, a aeronave está botando o nariz para baixo. É uma posição de descida grande”, explicou Luiz.

Na simulação, a última mensagem indica perda de pressão da cabine. O que poderia indicar queda livre. “Em uma velocidade muito alta, ela começa a desintegrar, o avião começa a desintegrar. Ele está ganhando todo o embalo, aumentando a velocidade, ele vai embora até o chão”, diz Luiz. “O que mais me deixa perplexo foi ele não ter tipo tempo de ter pedido socorro”, lamenta o piloto José Mauro.

Uma hipótese: grande colapso no avião

As 24 mensagens eletrônicas e automáticas foram enviadas em apenas quatro minutos. O engenheiro mecânico e piloto Jefferson Fragoso, que também é investigador de acidentes aéreos, tem uma hipótese: em vez de uma série de panes sucessivas antes da queda, o avião pode ter sofrido apenas um grande colapso.

“Se houver uma fratura estrutural no nível de voo que eles estavam - 34, 35 mil pés -, você demoraria exatamente quatro minutos pra chegar ao solo E durante este período todos os alarmes estão tocando, toda possível informação de falha está sendo mandada. Aconteceu ali em cima aqueles quatro minutos? Pelo o que a gente está vendo de evidência, não, durante a queda isto foi acontecendo”.

Uma possível queda livre em quatro minutos explicaria também por que o piloto não pediu socorro. “Se ele está realmente com tempo pra dar uma mensagem de emergência, ele com certeza diria: mayday, mayday, estou caindo”, completou Jefferson.

  

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