Laboratórios anunciam fabricação de vacina contra a gripe suína 13/06/2009
- Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
No dia seguinte à declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) da primeira pandemia de gripe em 41 anos, começou uma corrida entre governos e laboratórios pela produção e fornecimento de vacinas contra o vírus influenza A(H1N1). Atualmente há medicamentos antivirais, mas não prevenção.
O anúncio de maior impacto veio da Novartis, que diz ter conseguido chegar a uma primeira versão da vacina e que o produto pode estar no mercado em setembro. Durante o dia, as ações da empresa na Bolsa de Valores de Zurique chegaram a subir. O Instituto Butantã informou ter capacidade para iniciar a produção em outubro, mas em pequena quantidade.
A GlaxoSmithKline afirmou que estaria pronta em "apenas algumas semanas" para iniciar uma produção em larga escala de vacinas. Já a Sanofi-Aventis informou estar trabalhando em uma versão própria. Segundo a OMS, quase 30 mil pessoas já foram afetadas pelo vírus A(H1N1) em 74 países, com 145 mortes. No Brasil, os casos passaram para 54, com mais um em Minas e outro na Bahia.
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A corrida em busca da produção da vacina, no entanto, explicita as contradições do sistema de saúde público mundial e se transforma em um teste para a OMS. Não há acordo sobre como essas vacinas, recursos e remédios chegarão aos países mais pobres. Com a declaração de pandemia anteontem, a entidade elevou o nível de alerta (que varia de 1 a 6) para o máximo diante da constatação de que a disseminação é global. Sem poder conter o vírus, a OMS passou à estratégia de mitigar os efeitos. Para isso, a vacina será fundamental.
PATENTE
O método usado pela Novartis para chegar a uma vacina é patenteado. Governos de países emergentes temem que o produto final também tenha proteção. A tecnologia usada é baseada em células, e não no desenvolvimento da vacina em ovos como ocorre tradicionalmente.
O problema é que, antes mesmo da produção final da vacina, alguns dos países ricos já depositaram suas encomendas às multinacionais. Só a Novartis já recebeu 30 encomendas de diferentes países. França, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos assinaram acordos há meses.
No total, a estimativa é de que a capacidade mundial de produção de vacinas chegue no médio prazo a 2,4 bilhões de doses. Mas ainda não há certeza se a proteção será garantida com uma ou duas doses. Com mais da metade da população mundial desprotegida, a OMS admite que está preocupada com a possibilidade de que as populações mais pobres simplesmente sejam deixadas sem vacinas, diante dos contratos dos países ricos. Mas insiste que, até agora, a maioria das regiões atingidas foi países ricos.
"A pandemia é um sinal para comunidade internacional de que precisa atuar de forma conjunta, em solidariedade, para garantir que nenhum país seja deixando sem ajuda", diz Margaret Chan, diretora da OMS.
Em maio, Chan e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se reuniram em Genebra com empresas de todo o mundo, inclusive o Instituto Butantã, para tentar chegar a um acordo sobre o fornecimento de vacinas aos países mais pobres. Mas os únicos que prometeram doação foram os emergentes, indicando que dariam 10% de sua futura produção de vacinas à OMS para distribuição.
O chefe de operações humanitárias da ONU, John Holmes, também admite que a organização está preocupada com o impacto que o vírus A(H1N1) pode causar nos países em desenvolvimento. "A América Latina e a África são regiões que nos preocupam, principalmente as áreas mais vulneráveis", disse.
O mesmo dilema ocorre na distribuição de antivirais. A Roche praticamente domina o mercado e fez doações de 10,6 milhões de doses do remédio para a OMS, distribuídas para 121 países. Mas governos alertam que isso é uma gota d?água diante do que seria necessário. Só a França conta com mais de 30 milhões de doses. Chan evitou dar seu aval à quebra de patentes para que se possa produzir o remédio genérico. Hoje, há só uma empresa indiana que o produz, além da Roche.