Produtor vê questão ambiental limitando safra de soja em 2009/10 18/06/2009
- Roberto Samora - Reuters
Apesar de a indústria estar com uma visão otimista para o plantio de soja na próxima temporada (2009/10), o produtor avalia que as questões ambientais são atualmente limitadoras para a safra no Brasil, de acordo com informações divulgadas em seminário realizado ontem em São Paulo.
"Não estamos acreditando em crescimento de área. O Brasil tem um problema ambiental muito grande para ser resolvido. Isso não estimula ninguém a aumentar área, ao contrário, penaliza quem expandiu", declarou o presidente da Aprosoja, Rui Prado, a jornalistas.
Há incertezas, em meio às discussões para a atualização do Código Florestal brasileiro, sobre o tamanho da área nativa das propriedades agrícolas que terá de ser preservada. No passado, a reserva legal na Amazônia era de 50 por cento e, em meados da década passada, foi elevada para 80 por cento.
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Muitos produtores, inclusive aqueles que compraram propriedades recentemente com desmatamento acima dos níveis permitidos, também se preocupam com o passivo ambiental que, em tese, eles não formaram, e aguardam uma atualização da legislação.
Tirando a questão ambiental, e sem falar de dificuldades logísticas e de crédito, constantes preocupações para o setor produtivo, Prado afirmou que as condições de mercado são favoráveis.
"O custo de produção diminuiu, o preço está a um valor interessante, remunera. Então achamos que o produtor vai produzir sim, mas não para um aumento expressivo de área."
A área plantada em 2008/09 cresceu apenas 2 por cento, para 21,7 milhões de hectares, segundo o Ministério da Agricultura, o que resultou em uma produção de 57,1 milhões de toneladas.
Mas o Brasil já plantou até 23,3 milhões de hectares, como ocorreu em 2004/05, quando o país teve um plantio recorde, segundo o ministério.
Prado afirmou ainda que o sojicultor de Mato Grosso, o principal produtor nacional, já comprou, por meio de trocas de produto por insumos, aproximadamente 80 por cento de suas necessidades, em termos de adubo, defensivos e sementes para 09/10.
Ele revelou também que "metade das compras foi feita com entrega de produto (disponível) e a outra metade com produto para entregar" após a colheita da safra 09/10 --nessa segunda modalidade, o agricultor faz o que se chama de venda antecipada da safra.
"Ela dá uma segurança maior, mas pode limitar lucros, se houver uma explosão de preços", acrescentou.
INDÚSTRIA VÊ ÁREA CRESCENDO
De acordo com Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira da Agribusiness (Abag) e também da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o setor prevê crescimento de, "no mínimo, 5 por cento" na próxima safra (09/10), em condições normais de clima.
"Alguns falam em 10, 12 por cento, com o aumento da produção vindo um pouco mais de aumento de área do que em produtividade", declarou Lovatelli, após evento sobre logística promovido pela Abag.
Não fosse o mal tempo em 08/09 em algumas áreas, o Brasil poderia ter colhido mais de 60 milhões de toneladas.
Considerando a previsão de Lovatelli, o país teria em 09/10 uma colheita de ao menos 63 milhões de toneladas.
Para o presidente da Abiove, a safra deve crescer muito em função dos preços, "que estão se sustentando".
"Tanto é que os produtores não estão se queixando de remuneração", declarou.
O impulso na produção do Brasil, segundo produtor mundial, se deve à grande demanda externa, especialmente da China --o Brasil está batendo recorde no atual ano comercial, com exportações de quase 25 milhões de toneladas.
E no ano que vem, provavelmente um novo recorde será registrado. "O grande aumento na demanda vai ser na exportação, porque o mercado interno está relativamente estabilizado."