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DIA A DIA

Em 10 anos, mais 12 mil km de trilhos
22/06/2009 - João Domingos - O Estado de S.Paulo

Acesso fácil e barato aos portos de exportação para o Atlântico norte, para o Atlântico sul e até para o Pacífico, via Peru. Essa rede de transporte pode ficar pronta dentro de uma década, quando terminarem as obras de um sistema de transporte de cargas por ferrovias que cortará o País. Os trilhos passarão pelas grandes áreas produtoras de minérios e de grãos do Sul, Sudeste, Centro-Oeste.

Ao todo, as novas ferrovias deverão ter cerca de 12 mil quilômetros de trilhos, sempre com a bitola larga de 1,6 metro. Os primeiros 585 quilômetros já estão prontos e pertencem à Ferrovia Norte-Sul, cuja construção teve início no governo de José Sarney (1985-1990) e foi incrementada no atual, que já construiu 370 quilômetros. A primeira parte, de 215 quilômetros entre Açailândia e Porto Franco, começou a operar em 1996, no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Desde o início da operação, foram transportadas 5 milhões de toneladas de grãos, com economia calculada em 30% em relação ao preço do frete rodoviário. Até o fim do ano a Norte-Sul deverá chegar a Palmas, capital do Tocantins. O trecho foi concedido à Vale, que ofereceu R$ 1,47 bilhão e venceu a licitação para explorá-lo por 30 anos. A empresa já está instalando os escritórios nas cidades cortadas pela ferrovia, como Araguaina, Colinas, Guaraí, Paraíso e Palmas. Será inaugurado até dezembro.


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Os cerca de 800 quilômetros da capital do Tocantins a Anápolis (50 quilômetros a nordeste de Goiânia) estão todos em obra. O plano é inaugurar a outra parte até julho do ano que vem, informou o presidente da Valec-Engenharia, Construções e Ferrovias S.A, José Francisco das Neves, conhecido pelo apelido de Juquinha. "Pode haver um pequeno atraso. Aí, inauguraríamos o restante até o fim de 2010", disse Juquinha. Em Anápolis já foram terminados dois túneis, um de 460 metros e outro de 360 metros, que passam sob as principais avenidas da cidade.

INICIATIVA PRIVADA

A Valec foi criada por Sarney para tocar a Norte-Sul. No governo de Luiz Inácio Lula da Silva ganhou força, principalmente por causa das obras das ferrovias, incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Saiu de um orçamento anual de R$ 400 milhões, em 2006, para R$ 3,25 bilhões em 2009. Os quase 1,5 mil quilômetros entre Estreito, no extremo sul do Maranhão, e Anápolis, obras do governo de Lula, custarão R$ 4,2 bilhões. Ao contrário da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA), a Valec não administrará as ferrovias. Os trechos, quando prontos, serão licitados e entregues à iniciativa privada, como já ocorre com parte da Norte-Sul.

De Anápolis, a Norte-Sul seguirá pelo Sudoeste goiano, passando por importantes polos do agronegócio, como Rio Verde e São Simão. Depois, entrará no Triângulo Mineiro, região também grande produtora de grãos, cana-de-açúcar e gado, e chegará a Estrela d''Oeste, no noroeste de São Paulo, quase fronteira com Mato Grosso do Sul. A Norte-Sul termina aí.

Há um plano de levá-la até o porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, cortando os Estados do Paraná e de Santa Catarina. Mas por enquanto esse trecho está na fase de estudos de viabilidade.

Na parte norte, a ferrovia ganhou mais um pedaço. Um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que seja estendida de Açailândia (cerca de 500 quilômetros a sudoeste de São Luís) a Barcarena , em mais cerca de 450 quilômetros de trilhos, já na região da Grande Belém. Com isso, a Norte-Sul terá, quando concluída, 2.760 quilômetros. Em Açailândia, a Norte-Sul encontra-se com a Estrada de Ferro Carajás, da Vale, que leva minério de Carajás a São Luís e faz também o transporte de grãos. A Vale tem ainda um trem de passageiros que liga o sudoeste do Pará ao Maranhão.

MENOS PERDAS

No novo planejamento ferroviário, serão construídos também 1,5 mil quilômetros de trilhos do Porto de Ilhéus, no sul da Bahia, até Figueirópolis, no sul do Tocantins, onde a Ferrovia Oeste-Oeste se encontrará com a Norte-Sul. Passará por Brumado (produtor de Magnesita), Santa Maria da Vitória, Vitória da Conquista, Bom Jesus da Lapa, no centro da Bahia, e entrará pelo grande Planalto da Soja, em Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, no oeste. Em seguida, passará por Campos Belos (nordeste de Goiás) e entrará no Tocantins, cruzando as cidades de Arraias, Paranã e Peixe, até se encontrar com a Norte-Sul. O orçamento desta ferrovia é de R$ 6 bilhões. Deverá ser iniciada no segundo semestre.

Pelos cálculos de Adalgiso Telles, diretor de comunicação e desenvolvimento sustentável da Bunge, o agronegócio perde US$ 3 bilhões por ano com a falta de logística, incluídas as questões portuárias, rodovias em péssimo estado, falta de opções de ferrovias e transporte aquaviário. Por causas destes problemas, a safra perde entre 3% e 8% durante o transporte.

De todos os traçados ferroviários , o mais ousado é o da Ferrovia Transcontinental, que pretende ligar o litoral fluminense, a partir de São João da Barra, a Boqueirão da Esperança, no Acre, fronteira com o Peru, num trecho previsto de 4,4 mil quilômetros de trilhos. Os custos da Transcontinental ainda não foram previstos. A intenção da Valec é iniciá-la em 2012 e terminá-la em 2016, embora haja previsão de atraso de uns quatro anos.

A ferrovia sairá de São João da Barra e avançará pela região de minérios de Ipatinga, em Minas. De lá, pretende atravessar o Distrito Federal, cruzar com a Norte-Sul em Uruaçu, norte de Goiás, e chegar às grandes plantações de grãos de Mato Grosso. Depois, seguirá até Vilhena, no sudeste de Rondônia, percorrerá o Estado no sentido noroeste, até a capital Porto Velho, e dobrará para o sudoeste, até Rio Branco, no Acre. De lá, os trilhos serão levados até Cruzeiro do Sul e Boqueirão da Esperança, fronteira com o Peru.

NÚMEROS

- 5 milhões de toneladas de grãos foram transportados pela Ferrovia Norte-Sul desde 1996

- 585 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, que começou a ser construída no governo Sarney, estão prontos

- 800 quilômetros estão em construção, ligando Palmas, no Tocantins, a Anápolis, em Goiânia

  

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