Perdemos por muito pouquinho, diz Kirchner após eleições legislativas 29/06/2009
- Folha Online
O ex-presidente argentino Nestor Kirchner reconheceu nesta segunda-feira sua derrota nas eleições legislativas realizadas neste domingo no país, após uma forte campanha que contou, sob críticas da oposição, com grande aparato do governo e medidas populistas da presidente Cristina Kirchner.
"Perdemos por muito pouquinho, lutamos com toda dignidade em Buenos Aires", comentou o ex-presidente. Com entre 91,4% e 99,2% dos votos apurados, Kirchner aparece derrotado nos cinco maiores distritos do país, informou a Junta Eleitoral.
Na Província de Buenos Aires, a principal disputa desta eleição, o partido de Kirchner, Frente Justicialista para a Vitória, tem 32,18% dos votos contra 34,51% da União-Pro, partido dos peronistas de direita e liberais. O Partido Acordo Cívico e Social, dos socialdemocratas e liberais, teve 21,43% e outros 5,60% foram para o Novo Encontro, de centro-esquerda.
PUBLICIDADE
Recebido pelo governador da Província, Daniel Scioli, Kirchner rompeu seu silêncio e compareceu oito horas depois do fechamento das urnas perante centenas de simpatizantes reunidos no hotel onde o governo organizou seu "quartel-general'.
Ele reconheceu a derrota frente ao opositor Francisco de Narváez em Buenos Aires e minimizou o impacto do revés generalizado sofrido pelo governo -- apontado por alguns como preocupante, há apenas dois anos do fim do mandato de Cristina Kirchner.
"Com o quadro nacional que temos ficará a responsabilidade de dar aos argentinos a tranquilidade e serenidade que precisam", comentou Kirchner. "Estamos em caminho para recuperar a iniciativa, a governabilidade e construir, com muita força. Estamos absolutamente preparados para continuar trabalhando", insistiu.
A perda do controle do Senado e da Câmara dos Deputados, contudo, dificultará a governabilidade da presidente no Congresso, sua capacidade de aprovar legislação e projetos fundamentais para garantir a alta popularidade na eleição presidencial de 2011. O resultado prejudica ainda a reputação do ser partido peronista e desenha uma oposição fortalecida.
Com sua taxa de aprovação em queda pela crise agrícola e uma retração drástica da economia, a presidente Kirchner adiantou as eleições legislativas em quatro meses, aprovou medidas populistas, ampliou a propaganda do governo e defendeu o pleito como a chance de passar pelos obstáculos econômicos.
Seus rivais, contudo, desenharam a votação como uma tentativa de garantir o apoio no Legislativo antes que sua popularidade afundasse mais.
Motivos a parte, muitos analistas viram a eleição legislativa deste ano como um referendo sobre a capacidade da presidente de lidar com a economia e o lançamento do primeiro passo para um possível retorno de Nestor Kirchner à Presidência.
O ex-presidente afirmou que uma vitória na eleição deste domingo era crucial parta proteger a economia e lembrou os eleitores de seu sucesso em recuperar o país do colapso vivido durante sua administração, entre 2003 e 2007. "Nós temos que permanecer neste modelo. É nós ou o caos", disse em um comício no dia 30 de maio.
Francisco De Narváez, da União-Pro, um carismático milionário e representante da oposição peronista, comemorou a vitória.
"Eu disse que um dia mudaríamos a história, e este dia é hoje", afirmou, da sede de sua campanha eleitoral. "A má política dos velhos tempos foi derrotada."
Resultados
Na Capital Federal, que tem 99,25% das urnas apuradas, o partido de Kirchner obteve 11,62% dos votos para deputados contra 31,09% da União-Pro.
Já na Província de Córdoba, com 99,03% das urnas apuradas, a vitória é da Frente Cívica, social-democratas, com 30,63% dos votos para senadores. A União Cívica Radical, dos radicais social-democratas, tem 26,70% dos votos. Já a União por Córdoba, do peronismo dissidente, tem 26,05% e o partido de Kirchner, 8,77%.
Nos votos para deputados da Província, o cenário muda pouco. A União Cívica Radical tem 29,03% dos votos contra 27,97% da Frente Cívica, 25,65% do Justicialista e aliados (peronista dissidente) e apenas 9,11% da Frente para a Vitória.
Já na Província de Santa Fé, com 98,28% dos votos para senadores apurados, o partido peronista dissidente Santa Fé Federal lidera com 42,26%. O Frente progressista, dos socialistas, tem 40,59% e o partido do casal Kirchner tem 7,76%.
Na mesma Província, os votos para deputados indicam vitória da Frente progressista, com 39,85%. O Santa Fé Federal tem 39,84% e a Frente para a Vitória 9,56%.
Na Província de Mendoza, onde 97,1% dos votos para senadores foram apurados, a UCR-Con Fé, dos radicais social-democratas, tem 50,03% dos votos. A Frente para a Vitória tem 25,2% e o Democrata-Pro (direita) tem 14,66%.
Na Província de Mendoza, com 97,1% dos votos apurados, o Fte Civico-UCR-Con Fe (social-democrata) tem 48,38% dos votos contra 27,06% da Frente para a Vitória e 14,40% da Democrata-Pro (direita).