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DIA A DIA

Usinas pequenas devem triplicar geração de energia
20/07/2009 - Agnaldo Brito - Folha de S.Paulo

O Brasil deve ao menos triplicar a capacidade instalada em PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) nos próximos anos, com a liberação dos 6.500 MW em potência hidrelétrica tramitando na Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). É algo equivalente a um complexo hidrelétrico do rio Madeira, em Rondônia, onde são construídos neste momento as usinas de Jirau e Santo Antônio.

Até o fim do ano, os investimentos em curso no país elevarão a capacidade instalada para 3.000 MW.

Com 12% da água doce do mundo, é de supor que o Brasil tenha número abundante de rios com quedas d'água suficientes para aproveitamento hidrelétrico. A quantidade de projetos que estão sendo tirados da gaveta ou de estudos antigos em fase de revisão abre uma opção de investimento em infraestrutura no país.


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Sozinhas, as pequenas centrais não darão conta da expansão anual de 3.000 MW a 4.000 MW necessários ao país em período de crescimento econômico, mas representam uma contribuição importante.

Do ponto de vista ambiental, são menos nocivas. Do ponto de vista do investimento, a demanda (tanto para os grandes consumidores livres como para o mercado cativo, formado por pequenos consumidores que são clientes das distribuidoras) chama a atenção de muitos investidores interessados em aplicações de longo prazo.

A despeito dos problemas de atraso no trânsito dos projetos, uma onda de propostas de PCHs começou a ser anunciada nos últimos anos. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) já financiou R$ 815 milhões em PCHs neste ano, número que deve crescer ainda, dado o volume de projetos em andamento no banco. No ano passado, a instituição liberou R$ 1,25 bilhão a obras do tipo.

Muita gente tem descoberto que investir, em média, R$ 5 milhões em cada megawatt instalado numa usina promete tornar-se um tiro certeiro para remunerar capitais.

"Tem gente entrando nesse negócio de olho numa rentabilidade de 15% ao ano. Claro que existe uma série de condições para que isso seja possível - qualidade do projeto, tamanho do aproveitamento e tamanho do investimento -, mas um bom projeto pode dar um retorno muito bom, além de ser um negócio seguro", afirma Roberto Paes, sócio da Union Engenharia.

A empresa acaba de fechar um acordo internacional com a Elea Corporación, braço empresarial de uma fundação espanhola controlada por seis famílias. Com o negócio oficializado, o projeto da Braes (nome da nova empresa que acaba de ser criada) é montar em até dez anos um parque de pequenas centrais hidrelétricas com potencial total de 1.500 MW. O aporte de capital para o plano é de R$ 7,5 bilhões. Uma parte dos recursos virá da Espanha.

A DEB (Duke Energy Brasil), holding que controla 2.307 MW no rio Paranapanema (que divide os Estados de São Paulo e Paraná), criou a DEB PCH para investir nesse tipo de negócio. A companhia investe neste momento R$ 200 milhões nas usinas de Retiro e Palmeiras, duas pequenas centrais hidrelétricas com capacidade instalada de 16 MW cada, em fase de construção no rio Sapucaí-Mirim, entre os municípios de Guará e São Joaquim da Barra, na região de Ribeirão Preto (SP). Mais de 600 trabalhadores correm para aprontar as novas usinas até o segundo semestre de 2010.

Segundo Rui Pires, gerente-geral de engenharia de desenvolvimento da DEB, a empresa fechou parceria com a Cemig para reavaliar o potencial hidrelétrico no rio Doce, em Minas Gerais. "Existe mercado para energia, as obras são menores, o investimento é inferior e o prazo para iniciar a operação de um projeto desse porte é muito menor", afirma.

Negócio para grandes companhias? Também, mas não apenas. No Rio de Janeiro, município de Santa Maria Madalena, Raul Veloso Mariath, ex-avicultor, está perto de viabilizar um sonho: inaugurar a pequena PCH Tudelândia.

"A avicultura no Rio acabou. Apostei tudo nessa usina", diz Mariath, que detém 68% da usina em parceria com a Denge, empresa de engenharia que coordenou toda a instalação da minúscula PCH, que, quando pronta, terá capacidade para gerar apenas 2,4 MW.

Segundo os cálculos da APMPE (Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Produtores de Energia Elétrica), organização que representa investidores de PCHs, as perspectivas sobre o futuro desse negócio não são modestas.

De grão em grão

A potência hidrelétrica já identificada nos inventários disponíveis hoje soma 10 mil MW, cerca de 9% de toda a capacidade instalada no país. São projetos hoje "órfãos", que aos poucos ganham paternidade.

"Não é só. Em potencial a ser identificado, a associação estima outros 15 mil MW", explica Ricardo Pigatto, presidente da APMPE. Considerado o custo médio de R$ 5 milhões por MW instalado, em 15 anos o Brasil pode ter 25 mil MW em PCHs em operação, o que representará aporte de R$ 125 bilhões. Seria uma expansão de oito vezes o potencial instalado até o fim de 2009. É uma projeção otimista, principalmente se considerado que, de 1998 a 2009, a capacidade instalada em PCHs pouco mais que triplicou.

A Aneel tem ampliado o número de autorizações para investidores interessados em desenvolver projetos de pequenas hidrelétricas. Em 2007, a agência havia concedido nove licenças para empreendedores construírem suas PCHs. Em 2008, foram 25. E de 1º de janeiro a 15 de junho deste ano, segundo informa a Aneel, foram concedidas 17 autorizações para novas PCHs.

Segundo Jamil Abid, superintendente de gestão e estudos hidroenergéticos da Aneel, a agência tem mais 60 projetos prontos para autorizar, ou 800 MW novos que poderiam ser gerados em pequenas usinas.

  

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