Pessimismo global atinge preço de matérias-primas e faz Bovespa recuar 1,35% 29/07/2009
- Folha Online
A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) sofreu hoje sua segunda queda seguida, atingida por uma onda de pessimismo global causada por dados macroeconômicos e corporativos ruins nos Estados Unidos e o temor de que ocorra uma bolha de crédito na China -- o país que neste momento vem liderando a lista de países que se recuperaram mais cedo da crise.
A perda aqui foi mais profunda do que a que ocorreu em Wall Street, motivado pela queda do preço das matérias-primas --a maioria das principais empresas com negociação na Bolsa paulista, como a Petrobras, a Vale e as siderúrgicas, são produtoras de commodities.
O Ibovespa (Índice Bovespa, principal indicador da Bolsa paulista) fechou o dia com recuo de 1,35%, para 53.734 pontos. O giro financeiro foi de R$ 4,649 bilhões, um pouco inferior à media diária deste ano (R$ 5 bilhões), com cerca de 340 mil negócios realizados. Já o dólar comercial encerrou os negócios com alta de 1,16%, vendido a R$ 1,904.
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Os investidores nos Estados Unidos repercutiram negativamente os dados de pedidos de bens duráveis no país, que recuou 2,5% em junho. Resultados corporativos também não vieram com boas notícias: os lucros da Time Warner e da General Dynamics recuaram, enquanto a Sprint Nextel e a ArcelorMittal tiveram prejuízos no segundo trimestre.
No geral, esses dados de hoje nos EUA pressupõem que a recuperação econômica daquele país não será tão rápida quanto o mercado esperava ao fazer o índice Dow Jones subir mais de 11% nas últimas duas semanas. Por isso, agora fazem a correção --o que, inclusive, garante aos investidores que realizem lucros. O Dow Jones recuou hoje 0,29%, enquanto o tecnológico Nasdaq Composite perdeu 0,39%.
"A persistência das altas nos mercados só será possível se os indicadores macroeconômicos e números corporativos confirmarem essa perspectiva mais otimista embutida nos preços e que, ao contrário, sinais que indiquem exageros na alta farão com que os investidores busquem posições mais defensivas", explicou Miriam Tavares, diretora de câmbio da corretora AGK, em nota a clientes.
Outra preocupação do mercado, esta mais "surpreendente" aos investidores, é o temor de uma bolha creditícia na China. O sinal de alerta veio com dois bancos do país tomando novas medidas para restringir a concessão de empréstimos. A Bolsa de Xangai sentiu o golpe e desabou 5% no pregão de hoje.
Como a China é hoje principal compradora de matérias-primas do planeta, a situação também fez com que o preço das commodities recuasse mais ainda, o que deu resultado direto na Bolsa paulista. O preço do petróleo, por exemplo, recuou 5,77% em Nova York.
O fato de as ações mais negociadas da Bovespa serem de produtoras de commodities fez com que o Ibovespa recuasse mais do que os índices de Wall Street. A preferencial da Petrobras, a mais líquida da Bolsa, perdeu 2,67% hoje. As ordinárias da petrolífera caíram ainda mais: -3,66%. Já as preferenciais classe A da Vale tiveram queda de 1,69%.
Nem mesmo uma série de dados macroeconômicos positivos divulgados hoje por aqui foi capaz de diminuir o pessimismo do investidor.
O destaque ficou para a sétima alta seguida da confiança da indústria no mês de junho. O ICI (Índice de Confiança da Indústria) cresceu 6,2%, chegando a 99,4 pontos, maior nível desde outubro de 2008 (104,4 pontos), segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas).
Além disso, a taxa de desemprego caiu para 14,8% em junho, ante 15,3% em maio, segundo pesquisa da Fundação Seade e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), e a produção industrial em São Paulo avançou 2% entre maio e junho, segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).