- Um juiz pré-candidato
- Um procurador pré-sunçoso
- Um prefeito pré e pós mentiroso
- Um grupo de empreiteiros pré-julgados

Há coisa de dois anos e meio, o grupo de empreiteiros banca uma série de estudos e levantamentos, visando materializar um megaprograma de saneamento na região metropolitina da Capital, visando, de um lado, estancar a maior fonte de poluição do Pantanal e, de outro, gerar empregos e lucrar algum, claro -- o que, até segundo aviso, não é crime nem pecado.

Tudo pronto, o pré-projeto é apresentado à bancada no Congresso. Ninguém -- à exceção de um cujo curral eleitoral não seria beneficiado, registre-se -- acredita no sucesso da empreitada e na possibilidade de alguém nos altos escalões da República "comprar a idéia", principalmente pelo volume de recursos envolvidos -- qualquer coisa muita parecida com 300 milhões de reais.

Pior: o mais jurássico deles debochava -- pelas costas, como de hábito.

Puta velha no trecho e conhecedor dos meandros da República, único deputado que abraçou a idéia, sugere ao grupo de empreiteiros que idealizou e bancou o pré-projeto de 300 milhões de reais para obras de saneamento na região metropolitana da Capital, que fosse elaborado um documentário com imagens do Pantanal e dos estragos que o lançamento de esgoto "in natura" nos cursos d'água a montante provocava naquele ecossistema.

Providenciado o DVD, o parlamentar marcou uma audiência com uma poderosa ministra. Ela, quando viu o documentário*, mandou o ministério da área analisar tudo com urgência -- o que foi feito -- para apresentar ao chefe.

Nascia, assim, o PAC-Saneamento -- o maior programa de saneamento básico da história de Mato Grosso. Nascia, também, uma frase que o companheiro-presidente passou a repetir como um mantra:

Desembaraçados os trâmites burocráticos, companheiro-presidente, com sua poderosa ministra a tiracolo, faz questão de vir pessoalmente lançar o programa PAC-Saneamento, em sua primeira visita oficial à Capital de Mato Grosso.

Pego de surpresa -- não sabia de nada, até então -- prefeitinho pré e pós mentiroso apressou-se em tentar capitalizar politicamente o evento: comprou -- não se sabe se já pagou -- uma viola de cocho para mimar o visitante.

Foi sua única participação nos acontecimentos, até começar a produzir um edital pra lá de esquisito -- e bota "pra lá de esquisito" nisto!

A notícia da chegada de tanto dinheiro na praça -- 300 milhões são 300 milhões -- provocou o maior alvoroço, dentro e fora do Estado: até pastelaria, tipografia, serralheria e quejandos -- ou seja, quem nunca foi do ramo --, ficou de olho gordo em um naco.

O volume de recursos para as obras do PAC-Saneamento -- R$ 300 milhões --, como era de se esperar, despertou o interesse das grandes empreiteiras nacionais e, conforme vimos, atiçou a cobiça até de quem não é e nunca foi do ramo, mas é "assim" com os bambambans do pedaço.

Para fazer frente à concorrência leal -- e desleal -- e somar forças, as empreiteiras locais formaram um consórcio, pois sozinhas não teriam condições de barrar a "legião estrangeira" e todo o dinheiro seria carreado para fora do Estado e, terminadas as obras, todo os trabalhadores sumariamente demitidos.

Isto feito, começou o jogo bruto, também como era de se esperar:

-- Sai pra lá, jacaré... Fique na sua que fico na minha... Não vem que não tem... Pode vir quente, que tô fervendo, etc e tal... Enfim, essas coisas, absolutamente normais, corriqueiras, no mundo dos negócios, onde se é obrigado a matar um leão por dia e deixar outro peado para sangrar na manhã seguinte.

...Com autorização do juiz pré-candidato, o Ministério Público Federal gravava tudo -- e não é a primeira vez que isto acontece -- para, espetaculosamente, entrar de cabeça numa guerra comercial...

...Enquanto tentativas descaradas de manipular a opinião pública, via factóides, para alterar o curso de uma eleição presidencial, como o "Caso dos Companheiros Aloprados" -- que completa três aninhos no próximo dia 15 de setembro -- não se sabe bem porque, mas não está proibido imaginar, toma "embargo de gaveta" no MPF em Mato Grosso.

Juiz pré-candidato solta os cabos: para não deixar dúvidas quanto à verdadeira motivação que levou à ordem de prisão de empreiteiros, do agora ex-procurador-geral do municipio e de outros funcionários graduados da administração da Capital -- prisões não solicitadas pelo delegado da Polícia Federal que investigou o caso e elaborou o inquérito, registre-se...

...Passou a vistoriar obras -- coisa que não é de sua função -- sem esquecer, claro, de informar antecipadamente a mídia, a fim de garantir a maior publicidade possível, como é de seu estilo...

...Isto depois de transformar em vassalo o prefeito pré e pós mentiroso -- casualmente candidato adversário e líder em todas as pesquisas de intenção de voto, pelo menos até a "Operação Pacenas" -- que agora sonha com a providencial chegada da "Cavalaria Ligeira", mais para tentar salvar sua candidatura do buraco que, propriamente, para tapar os buracos deixados nas ruas por conta da súbita paralisação das obras.

Coincidentemente -- acontece! --, um grupo de "simpatizantes" -- vamos simplificar assim -- encomendou uma pesquisa, para consumo interno, a fim de aferir os "benefícios" produzidos pela Operação Pacenas à imagem do juiz pré-candidato...

...Justamente no período em que a Capital é inundada por panfretos apócrifos qualificando o adversário como chefe de quadrilha, entre outras excelsas virtudes peregrinas...

...Pesquisa esta que será cotejada com o resultado de uma primeira -- também encomendada e paga por "simpatizantes" -- pouco antes da tal operação...