"Produzir mais, às vezes, é ter mais prejuízo" 30/08/2009
- José Maria Tomazela - O Estado de S.Paulo
Produtividade nunca foi problema para Frederico D'Ávila, dono da Fazenda Jequitibá do Alto, em Buri, no sudoeste paulista. Em 1,3 mil hectares de culturas anuais, ele colhe quantidades de trigo, soja e milho bem acima daquelas previstas na nova tabela. Para isso, usa alta tecnologia, sementes melhoradas geneticamente, plantio direto sobre palhada, irrigação e não economiza em adubo e fertilizantes. A região é tão produtiva que poucas vezes foi assediada pelos grupos de sem-terra.
Mesmo assim, Ávila se diz preocupado. Nas últimas safras, o preço de grãos como o milho e o trigo não acompanhou os custos de produção. "A gente investe na alta produtividade para ganhar no volume, mas produzir mais, às vezes, significa ter mais prejuízo."
Em alguns casos, alega, é preferível ter produção menor a custo muito baixo. "Aí você colhe menos, não tem prejuízo, mas fica sujeito à desapropriação. Será que o governo compra tudo o que a gente produzir garantindo renda mínima?"
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Em Mato Grosso, produtores rurais vendiam milho na sexta-feira a R$ 8 a saca, bem abaixo do custo de produção, R$ 13. O prejuízo por hectare chegava a R$ 500. O gerente técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato), Luciano Gonçalves, contou ter encontrado agricultores em situação de desespero. "É óbvio que, com todo esse prejuízo, eles terão dificuldade para plantar a próxima safra. Muitos têm medo da desapropriação."
Houve casos, segundo Gonçalves, de fazendas desapropriadas por improdutividade com os índices atuais. "Com a atualização, a margem de segurança desaparece."
"ESPECULAÇÃO"
Para João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), os ruralistas que têm medo da atualização não produzem e usam as terras para especulação. Segundo ele, os dados usados para atualização são de 1996, por isso os índices vão continuar defasados. "Aqueles que estiverem produzindo, nada precisam temer", avisou.
João Paulo disse que os conflitos no campo ocorrem porque o governo não faz a reforma agrária. "Se aumentar as desapropriações e a reforma, é evidente que vai diminuir a pobreza e a desigualdade no campo e, com isso, diminuem os conflitos."
O líder do MST destaca que não são apenas as terras improdutivas que devem ir para a reforma agrária. "Só em Mato Grosso do Sul, mais de 30 mil hectares estão parados na Justiça, por uso do tráfico de drogas, que deveriam ser destinados aos trabalhadores sem-terra."
Ele acusa os ruralistas de fazerem uma batalha ideológica na defesa ao direito absoluto da propriedade, que não existe na Constituição. "Por essa razão, até hoje barram na Câmara a lei que que determina a desapropriação de fazendas com trabalho escravo."
O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, considera a desapropriação para a reforma agrária um desperdício de dinheiro público. "Criam-se favelas rurais, sem nenhuma produção", critica.
Para Nabhan, em muitos casos a improdutividade é consequência das ocupações. "Conheço propriedades que foram invadidas três, cinco, dez vezes, até que o dono ficou exaurido e não conseguiu retomar a produção." Ele considera discriminação a exigência de índices de produtividade só do setor agrícola. "Não é exigido de nenhum outro setor privado da economia."