Copom interrompe política de corte de juros e mantém Selic em 8,75% 02/09/2009
- Eduardo Cucolo - Folha Online
O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu nesta quarta-feira manter inalterada a taxa básica de juros em 8,75% ao ano. A decisão de hoje, que já era esperada pelo mercado financeiro, interrompe uma sequência de cinco cortes consecutivos na taxa Selic, que vinha sendo reduzida pelo BC desde janeiro.
Na nota divulgada para justificar a decisão, o Copom afirma que o nível atual da taxa de juros é capaz de garantir a recuperação da economia sem gerar pressões inflacionárias.
"O Comitê avalia que esse patamar de taxa básica de juros é consistente com um cenário inflacionário benigno, contribuindo para assegurar a manutenção da inflação na trajetória de metas (...) e para a recuperação não inflacionária da atividade econômica", diz a nota do BC.
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No começo de 2009, os juros estavam em 13,75% ao ano. Na reunião do Copom de janeiro, foi realizado o primeiro corte desde a piora da crise econômica registrada a partir de setembro, para 12,75% a.a.. Na reunião de março -- as reuniões sobre a taxa básica são realizadas a cada 45 dias -- os juros caíram mais, para 11,25% ao ano.
Em abril e junho os cortes foram de um ponto percentual. Na reunião de julho, no entanto, o BC reduziu a intensidade do corte para 0,5 ponto percentual e indicou que não haveria mais nenhuma redução dos juros neste ano.
O Copom ainda tem mais duas reuniões neste ano, em outubro e dezembro. Porém, a previsão do mercado financeiro é que a taxa permaneça no nível atual até 2010. Para o próximo ano, com a retomada do crescimento econômico, a expectativa dos economistas é que os juros voltem a subir.
Menor da história
Essa foi a maior sequência de corte de juros realizada desde o início do governo Lula, em 2003. Naquela época, no entanto, os juros estavam em quase 30% ao ano. Agora, estão no menor nível da história.
A decisão de manter a Selic inalterada indica que, na avaliação do BC, o nível atual dos juros já é suficiente para garantir a recuperação da economia brasileira, que vinha desacelerando desde setembro.
O Relatório Trimestral de Inflação divulgado pelo BC no final de junho reforça essa perspectiva. No documento, o BC diz que a maior parte do impacto da redução dos juros sobre a atividade econômica será sentida neste segundo semestre. Por outro lado, o efeito sobre a inflação aparecerá na virada de 2009 para 2010, já que, nesse caso, a defasagem é maior.
Consumidor
Os cortes na taxa básica realizados nesse ano já tiveram impacto sobre os juros cobrados pelos bancos para empresas e pessoas físicas. No ano passado, mesmo com a taxa Selic estável, os juros bancários subiram devido à falta de recursos para crédito no mercado financeiro.
O aumento do crédito e a queda na taxa básica ajudaram, no entanto, a melhorar esse quadro. Segundo pesquisa do próprio BC, a taxa média do crédito bancário para o consumidor no país está hoje em cerca de 45% ao ano. Em novembro do ano passado, chegou a quase 60% a.a.. No mesmo período, a taxa do cheque especial recuou de quase 175% para 167,3% ao ano.
Inflação
Em relação aos efeitos do corte de juros sobre a inflação, o mercado financeiro prevê uma taxa ligeiramente abaixo da meta de 4,5% para 2009 e 2010. Essa previsão chegou a ficar acima da meta. Desde que o BC indicou que interromperia sua política de corte de juros, no entanto, a expectativa de inflação vem caindo.
Os números já divulgados mostram que o IPCA (índice oficial de inflação) acumulou uma taxa de 4,5% nos 12 meses encerrados em julho. É a primeira vez neste ano em que esse indicador fica no centro da meta do BC.
Política
Há ainda pressão dentro do governo para que os juros continuem caindo. Há cerca de duas semanas, em discurso, o presidente Lula afirmou que seria "possível e desejável" que houvesse novas reduções nos juros.
Outra questão política é a esperada filiação do presidente do BC, Henrique Meirelles, a algum partido até o final deste mês. A expectativa é que ele concorra ao governo de Goiás em 2010.
Meirelles já afirmou que não irá deixar o cargo caso se filie a algum partido e disse que não haverá nenhum tipo de motivação política nas suas decisões.