Lula usa pré-sal e defesa da Amazônia para justificar acordo militar com França 07/09/2009
- Gabriela Guerreiro - Folha Online
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, da França, confirmaram nesta segunda-feira o início das negociações entre os governos dos dois países para a compra de 36 aviões-caça Rafale dos franceses, com o compromisso de transferência de tecnologia ao Brasil relacionada às aeronaves.
Lula e Sarkozy não revelaram os valores oficiais que envolvem a negociação, mas o governo brasileiro confirmou que negocia apenas com a França a compra das aeronaves -- excluindo temporariamente a Suécia e os Estados Unidos, que também ofereceram as aeronaves ao Brasil.
Lula justificou a compra dos aviões de caça com o argumento de que o Brasil precisa reforçar o controle de suas fronteiras, especialmente na Amazônia. "Vamos produzir equipamentos que reforçarão a capacidade tecnológica do Brasil para proteger e fortalecer suas riquezas naturais. Esse é um componente essencial da estratégia de defesa que meu país aprovou. Queremos preservar o continente como zona de paz. O Brasil aposta em projeto regional de defesa para a integração e o desenvolvimento", afirmou.
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Ao discursar ao lado de Sarkozy, o presidente disse que o Brasil é um país que "prima pela paz", mas precisa preservar suas fronteiras diretas -- o que inclui a área de descoberta da camada pré-sal de petróleo.
"Deve sempre passar pela nossa cabeça a ideia de que o petróleo já foi motivo de muitas guerras, muitos conflitos. Não queremos nem guerra nem conflito. O Brasil vê oportunidade do pré-sal como oportunidade de daqui a 10 ou 15 anos se transformar em grande economia mundial", afirmou.
Lula disse que Brasil e França consolidaram nesta segunda-feira uma "parceira estratégia entre dois povos que têm muita coisa em comum". Na opinião do presidente brasileiro, a França e o Brasil não querem apenas vender aeronaves, mas "pensar juntos, criar juntos, construir juntos e, se for possível, vender muito juntos".
Acordo
Na conversa entre Lula e Sarkozy, representantes do governo francês se comprometeram em repassar tecnologia ao Brasil caso o país decida efetivamente pela compra dos caças Rafale.
"Para nós, o avião é importante. Mas o importante mesmo é ter acesso à tecnologia para que possamos produzir esse avião no Brasil. É isso que estamos negociando agora, com o ministro da Defesa da França, a empresa que produz [o avião]. No fundo, o Brasil quer comprar um avião que dê ao Brasil a garantia de uso total desse avião com transferência de tecnologia", disse Lula.
Segundo o presidente, caberá ao comandante da Aeronáutica e ao ministro Nelson Jobim (Defesa) negociar os termos financeiros da operação de compra e venda das aeronaves. "Nós decidimos começar as negociações para a compra do Rafale. Eu não sei o total ainda. Esta semana estarei discutindo pormenores com comandante da Aeronáutica e o ministro Jobim, porque eles vão ter que viaja re discutir esses assuntos", afirmou Lula.
Sarkoszy, por sua vez, disse que a disposição dos dois governos é fazer uma espécie de operação "casada" para a compra e venda das aeronaves com as respectivas transferências de tecnologia entre França e Brasil.
Ao contrário de Lula, que evitou confirmar o fim da concorrência com outros países para a compra dos caça Rafale, Sarkozy disse que o governo brasileiro quer negociar diretamente com a França a aquisição das aeronaves.
"Eu anuncio aqui a decisão de, a princípio, comprar os aviões de transporte brasileiro para substituir nossos C- 130. A negociação está começando, nas mesmas condições. Se eles [brasileiros] estiverem de acordo, gostaríamos de nos associar a essa construção de aviões numa verdadeira troca, como faremos da mesma maneira com o Rafale, que será desenvolvimento em comum acordo com os brasileiros", disse Sarkozy.
Além da compra dos caça Rafale, o governo brasileiro firmou com a França o compromisso de adquirir helicópteros de transporte do tipo EC-725 e submarinos com tecnologia nuclear.