Analistas têm dúvidas sobre atual patamar da Bovespa 21/09/2009
- Fabrício Vieira e Toni Sciarretta - Folha de S.Paulo
A Bolsa de Valores de São Paulo superou os 60 mil pontos na semana passada, o que não ocorria desde julho de 2008. Muitos analistas esperavam que tal patamar fosse atingido apenas próximo do final do ano. Nesse nível, surgiu a dúvida: há mais espaço para alta na Bolsa ainda neste ano?
A valorização da Bolsa em 2009 alcança os 61,7%. Se o ano acabasse agora, teria sido o segundo melhor da década, perdendo apenas para a alta de 97,3% registrada em 2003, após o forte mergulho com as tensões eleitorais de 2002.
Apesar de esperarem que a tendência de alta se mantenha, os analistas ponderam que alguns tombos devem ocorrer até o final do ano, como forma de os investidores embolsarem lucros acumulados e ajustarem os preços de ações que, talvez, tenham subido demais.
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O patamar "correto" da Bovespa foi um dos assuntos mais discutidos na Expo Money, feira de investimentos pessoais ocorrida na semana passada em São Paulo.
Para Gustavo Cerbasi, escritor de livros sobre investimentos pessoais, a recente alta da Bolsa tornou o ambiente arriscado para novos entrantes. "Minha sensação é de incômodo [com a sustentabilidade da alta]. Estou feliz com a alta, ganhei muito dinheiro, mas me assusta esse ganho rápido, que abre espaço para correções."
Na avaliação de Didi Aguiar, analista grafista da corretora Icap, a Bolsa tem condições de se manter relativamente em alta até a casa de 66 mil pontos do Ibovespa, antes de ceder a uma forte correção de preços, que poderia levar o índice para 61 mil. "Até agora as correções que a gente tem tido são todas sem-vergonha. Essa próxima será mais corpulenta. O mercado nunca anda direto; não sobe reto nem cai reto", disse.
Segundo analistas, é importante lembrar que, apesar da escalada dos últimos meses, o Ibovespa está um pouco distante de sua máxima histórica, de 73.516 pontos, alcançado em 20 de maio de 2008. A Bolsa ainda teria de subir mais de 21% para quebrar esse recorde.
Como a economia mundial está apenas dando seus primeiros passos para sair da recessão, há quem defenda que as Bolsas subiram demais.
As principais Bolsas mundiais estão com ganhos neste ano. Em dólares, a Bovespa registra apreciação de 109,3%. A Bolsa da Rússia já subiu 89,6%. No México, a alta é de 40,3%. Dentre os maiores mercados do mundo, a Bolsa de Londres tem ganhos de 30,2% em dólares. E a Bolsa eletrônica Nasdaq, nos EUA, referência de alta tecnologia, registra valorização de 35,25% em 2009.
Nesse cenário, não faltam analistas com visão mais pessimista. Eles apontam o risco de nova bolha estar em formação. Isso significa que os preços de muitos ativos estariam subindo sem fundamento e poderiam desmoronar de repente.
De 15 mil a 150 mil
No longo prazo, porém, Didi Aguiar aposta que o Ibovespa poderá chegar em 150 mil pontos até 2012. O principal argumento, segundo ele, é que os retornos mensais da Bolsa voltaram aos patamares anteriores à crise, o que permite uma sustentação maior de longo prazo.
"Os mercados terão um período longo de alta. O dólar deve fechar o ano em R$ 1,72, mas pode cair a até R$ 1,46 em três a quatro anos. Os juros vão cair mais um pouco, mas não muito mais do que o atual [8,75%]."
Para Fausto Botelho, grafista da Enfoque, no entanto, o rumo dos negócios na Bolsa é nitidamente de queda, depois da recuperação após a crise. Pessimista, ele ressalva que o Ibovespa poderá ter quedas fortes com eventos inesperados e descer até entre 10 mil e 15 mil pontos, dependendo do dólar.
"As pessoas precisam saber que isso é uma possibilidade real e que [a queda] pode ser imediata. É uma falácia dizer que o pior passou e que, no longo prazo, a alta da Bolsa é garantida. Tudo vai depender da economia dos EUA. Deram uma injeção de adrenalina ao morto", disse Botelho.