Zelaya volta a Honduras e pede refúgio na embaixada do Brasil 21/09/2009
- Folha Online com agências internacionais
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, escolheu retornar em segredo à capital do país, Tegucigalpa, para evitar fatos de violência, segundo um comunicado da embaixada hondurenha em Manágua. Os Estados Unidos já reiteraram o seu pedido de que ambos os lados evitem a violência.
Segundo o jornal hondurenho "El Heraldo", que faz oposição a Zelaya, as Forças Armadas estão reunidas na capital para debater o episódio.
O hondurenho chegou nesta segunda-feira a Tegucigalpa e buscou abrigo na Embaixada do Brasil pois há ordens de prisão expedidas contra ele. Em entrevista concedida à TV Telesur por telefone, Zelaya revelou que já conversou com o chanceler brasileiro, Celso Amorim, e que aguarda um telefonema do presidente Lula, que viaja para Nova York, onde participará nesta quarta-feira (23) da abertura da Assembleia Geral da ONU.
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Na embaixada, o presidente deposto disse aos jornalistas presentes que deseja estabelecer um diálogo pacífico com o governo que se instalou após sua deposição e que quer o "apoio moral" da comunidade internacional para promover a reconstrução democrática de seu país.
"Sou um homem pacífico, de diálogo, que pratica não violência", afirmou Zelaya. "O poder do povo serve para fazer as grandes transformações", completou. O hondurenho pediu ao povo que vá à capital protegê-lo e às Forças Armadas que não intervenham para tentar expulsa-lo. Zelaya disse querer "dialogar e trilhar um caminho para voltar à paz e tranquilidade".
O mesmo havia sido dito, mais cedo, pela mulher de Zelaya, Xiomara Castro, a simpatizantes dele que tinham cercado o escritório da ONU (Organização das Nações Unidas) na capital, já que, inicialmente, a informação era a de que ele estivesse abrigado lá."O presidente voltou ao país para iniciar o diálogo. Ele está na Embaixada do Brasil e, graças a Deus, está muito bem. Ele está disposto a iniciar um diálogo pela paz", afirmou Castro.
O primeiro a confirmar a presença de Zelaya em Tegucigalpa foi o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Em entrevista à mesma Telesur, Chávez disse que o hondurenho havia viajado "durante dois dias por terra, cruzando montanhas e rios, arriscando a sua vida, com somente quatro companheiros, e conseguiu chegar à capital de Honduras". "Exigimos que os golpistas respeitem a vida do presidente e que entreguem o poder pacificamente", acrescentou.
Logo após a notícia, o presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, veio a público para dizer que Zelaya não estava na capital hondurenha, mas em um hotel da Nicarágua; e chamar todo o episódio de "terrorismo midiático".
Histórico
Zelaya foi deposto nas primeiras horas do dia 28 de junho, dia em que pretendia realizar uma consulta popular sobre mudanças constitucionais que havia sido considerada ilegal pela Justiça. Com apoio da Suprema Corte e do Congresso, militares detiveram Zelaya e o expulsaram do país, sob a alegação de que o presidente pretendia infringir a Constituição ao tentar passar por cima da cláusula pétrea que impede reeleições no país.
O presidente deposto, cujo mandato termina no início do próximo ano, nega que pretendesse continuar no poder e se apoia na rejeição internacional ao que é amplamente considerado um golpe de Estado -- e no auxílio financeiro, político e logístico do presidente venezuelano, Hugo Chávez -- para desafiar a autoridade do presidente interino e retomar o poder.
Isolado internacionalmente, o presidente interino resiste à pressão externa para que Zelaya seja restituído e governa um país aparentemente dividido em relação à destituição, mas com uma elite política e militar -- além da cúpula da Igreja Católica -- unida em torno da interpretação de que houve uma sucessão legítima de poder e de que a Presidência será passada de Micheletti apenas ao presidente eleito em novembro. As eleições estavam marcadas antes da deposição, e nem o presidente interino nem o deposto são candidatos.