Bovespa fecha em alta de 2,41% e já acumula ganho de 76,3% em 2009 14/10/2009
- Epaminondas Neto - Folha Online
As Bolsas de Valores mundiais passaram por um dia de euforia pouco visto desde o ano passado. A razão principal é que, após meses de indicadores de atividade melhores nos EUA, o mercado já começa a ver resultados nos balanços das empresas. E a expectativa de que grandes bancos americanos, muito avariados pela crise de 2008, revelem lucros mais fortes, fez investidores disparem ordens de compra pelo mundo afora, num movimento do qual a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) não escapou. Por aqui, um coquetel de números muito favoráveis da economia brasileira deu sustentação e volume para o entusiasmo do mercado financeiro.
Como resultado, a Bolsa brasileira voltou a um nível de preços não visto desde 19 de junho de 2008, bem antes do período de turbulências financeiras. E o dólar retrocedeu para o menor preço em 13 meses. Para alguns analistas, no entanto, essa euforia significa somente que pode estar mais próximo a fase de ajustes no valor das ações.
O índice Ibovespa, que reflete os preços das ações mais negociadas, teve forte ganho de 2,41%, cravando os 66.201 pontos. O giro financeiro foi de R$ 9,32 bilhões, um volume acima da média por conta do operações com derivativos.
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Nos EUA, a Bolsa de Nova York fechou em alta de 1,47%. O índice local Dow Jones retomou a marca dos 10 mil pontos, um "preço" perdido há um ano, devido à crise financeira global.
As ações preferenciais da Vale movimentaram sozinhas R$ 1,5 bilhão em negócios, e tiveram forte valorização de 4,60% na jornada de hoje. A China, uma das principais importadoras mundiais de commodities metálicas, informou um volume recorde de compras externas de minério de ferro.
O dólar comercial foi vendido por R$ 1,703, em um decréscimo de 1,38% no dia. O valor representa uma desvalorização de 27% no acumulado deste ano. A taxa de risco-país marca 206 pontos, número 3,28% abaixo da pontuação anterior.
"Você tem um fluxo de dinheiro muito forte entrando no país, por conta dos IPOs [lançamentos de ações] que ainda restam neste ano, como Cetip e Cyrela", comenta Mário Paiva, especialista da corretora de câmbio Liquidez. "O dólar está se desvalorizando no mundo inteiro. Por aqui, a valorização do real é muito mais acentuada porque o país está numa posição mais privilegiada", avalia o profissional.
Expectativas
Carlos Levorin, sócio e gestor da Grau Gestão de Ativos, é um dos profissionais de mercado que vê adiante uma correção de tamanho não desprezível nas Bolsas de Valores, diante da valorização acumulada neste ano.
"O que explica essa euforia toda é a liquidez [disponibilidade de dinheiro]. Em março, estava todo mundo em pânico, vendo os bancos americanos quebrarem e ninguém via luz nenhuma no fim do túnel. Quando a economia dos EUA começou a voltar um pouco normal, com indicadores um pouco melhores, o mercado voltou a se arriscar", sintetiza Levorin.
O gestor vê, no entanto, ações de grandes empresas já sobrevalorizadas: "tem alguns bancos que precisariam entregar lucros com crescimento de 35% no ano quem, e também no outro, para justificar os preços das ações. Eu acho que dificilmente isso vai acontecer", avalia.
"A questão realmente é de liquidez: o dólar se desvalorizou no mundo inteiro, porque o mundo percebeu os graves problemas da economia americana. Nesse ponto, a defesa [dos grandes gestores globais] foi correr para ativos reais, como ouro, commodities e mesmo ações. E temos que lembrar que o Brasil entrou na moeda hoje", diz ele.
Por esse motivo, Levorin avalia que o revalorização da moeda americana em nível mundial pode ser a "senha" para um movimento de ajuste nos preços das ações.
Bancos dos EUA
Entre as principais notícias do dia, o banco JP Morgan Chase anunciou um lucro líquido de US$ 3,6 bilhões (US$ 0,82 por ação) no terceiro trimestre contra US$ 527 milhões (US$ 0,09 por ação) no mesmo período de 2008. O resultado bateu com folga as previsões de muitos analistas, que esperavam ganho de US$ 0,52 por ação. O mercado aguarda ainda os balanços do Goldman Sachs, Citigroup e Bank of America.
O Departamento de Trabalho dos EUA revelou que as vendas do setor varejista sofreram a pior queda deste ano (1,5%) em setembro, devido à retração nas vendas de veículos, com o fim dos programas federais de estímulo.
Ainda no front externo, a Eurostat, a agência europeia de estatísticas, informou que a produção industrial cresceu 0,9% em agosto nos países que fazem parte da zona do euro. Trata-se da quarta alta consecutiva deste indicador. Na comparação com agosto de 2008, a retração é de 15,4%.
Mais empregos no Brasil
O Ministério do Trabalho contabilizou a maior criação de vagas no país neste ano. Entre fechamentos e aberturas, foram gerados 252.617 empregos no Brasil. Trata-se do oitavo mês consecutivo com saldo positivo.
Sondagem da FGV (Fundação Getulio Vargas) estimou um crescimento de 1,6% da produção industrial no Estado de São Paulo em setembro. No confronto com setembro do ano passado, houve queda de 6,7%.
A Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) mostrou que o financiamento imobiliário com poupança teve o melhor resultado do ano, com empréstimos de R$ 3,18 bilhões.
E a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) revelou que o tráfego aéreo de passageiros teve um crescimento de quase 30% em setembro, na comparação com o mesmo mês do ano passado.