Pelotão dividido 24/10/2009
- Alan Rodrigues e Sérgio Pardellas- revista ISTOÉ
Pesquisa de ISTO É mostra que em 11 Estados PMDB não apoia candidatura de Dilma Rousseff, apesar de acordo com PT
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB, é a maior tropa política do País. Tem 8.497 vereadores, 1.119 prefeitos, 170 deputados, nove senadores e seis ministros. Em toda eleição, a legenda costuma valorizar esse poderio. Ele seria realmente imbatível e indispensável se não fosse o fato de que, desde a redemocratização do País, este exército nunca marchou unido.
Na terça-feira 20, mais uma vez, uma parte dele subiu à rampa do poder para oferecer seus serviços ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT na eleição presidencial. Em jantar no Palácio da Alvorada, com filé e costela de tambaqui, os dois partidos fecharam um tratado de intenções. O problema é que na guerra interna do PMDB esse documento ainda tem pouco significado, ou melhor, carece de garantia de que o batalhão possa somar alguma coisa para a candidatura da ministra Dilma Rousseff.
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Enquanto a batalha final não for travada - e isso só ocorre em junho de 2010 na convenção nacional do partido -, qualquer candidato que disputa o apoio do PMDB ainda terá incertezas se poderá contar com a arma mais poderosa desse exército: o tempo de televisão no horário eleitoral gratuito. Por ora, resta o velho embate orgânico. De um lado, o deputado Michel Temer (SP), que monta estratégia para ser o vice de Dilma, propagando o feito etéreo de que o partido irá "agora participar de todo o processo da candidatura, desde o nascedouro". De outro, o ex-governador Orestes Quércia - que pretende colocar a tropa a serviço da candidatura do governador tucano José Serra - bombardeando o tratado com o PT: "Foi uma violência, o Michel vendeu uma mercadoria que ele não tem como entregar", disse Quércia.
Na semana passada, ISTOÉ consultou os dirigentes dos 27 diretórios estaduais do PMDB sobre a suposta aliança com o PT. A conclusão da pesquisa é que o nome de Dilma não é, de fato, uma unanimidade nas bases do PMDB, mas está longe de ser uma aposta arriscada. A dez meses da eleição presidencial, 11 Estados não fecharam com ela, mas 16 são pró-Dilma. A situação é mais delicada porque, entre os 11 indefinidos, cinco deles declaram apoio a Serra. Pior: três dos Estados que são contabilizados como certos pelo lado governista - Bahia, Minas Gerais e Pará - ainda correm o risco de deserção. Juntos esses três Estados somam 134 votos dos 719 convencionais. Este resultado dificulta a tarefa dos governistas de mobilizar a tropa a favor de Dilma.
Por isso, o objetivo do acordo, por enquanto, não é a vitória final, mas aplacar a luta nos Estados. "O acordo nacional vai impor mais respeito e melhor compreensão das bases", afirmou o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), ligado a Temer. No Pará, o PMDB até aceita apoiar a reeleição da governadora petista Ana Júlia. Mas desde que o PT aceite entregar para o partido a Secretaria de Saúde do Estado, um cargo no Tribunal de Contas do Estado, além de apoiar o deputado Jader Barbalho para o Senado.
A sede dos peemedebistas paraenses não para por aí. Eles também querem que Hélder, o filho de Barbalho, que não tem idade para se candidatar a governador, ocupe a vaga de vice da petista. No Acre, São Paulo e Rio Grande do Sul a situação é péssima para Dilma. "Não tem como marchar com o PT, nem aliança nem nada. Aqui no Acre, eles são nossos inimigos", disse o deputado Flaviano Melo. A situação não é diferente em Santa Catarina. "Aqui o partido apoia o Serra", disse o ex-governador Eduardo Pinho Moreira.
Na Bahia, o clima ainda é de divisão. "Quem criava problema na Bahia para a candidatura Dilma era o próprio PT, que queria um único palanque. Agora não. Dilma terá dois palanques", garante o presidente do PMDB baiano, Lúcio Vieira Lima, irmão do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, candidato ao governo. Em Minas, o acordo fez mais efeito, embora tudo dependa da definição de todos os candidatos ao Planalto. "Essa aliança é natural aqui em Minas, mesmo porque participamos do governo Lula com vários ministros. É uma questão de coerência", garante Zaire Resende, presidente do PMDB mineiro.
O receio dos pemedebistas aliados ao governo é de que, ao protelar o ataque sobre os adversários regionais, pudessem perder qualquer chance de obter vantagens eleitorais da popularidade do presidente Lula, principalmente no Nordeste. Até a convenção, os dois lados empenhamse em avaliar que tropa de um e de outro campo tem mais peso. O primeiro embate para ver quem está certo está marcado para o dia 21 de novembro, em Curitiba, quando será realizado um encontro nacional do partido, que só ocorreria em 2010 e precisou ser antecipado.
Os governistas propagam força e Quércia diz que o apoio a Dilma está concentrado em Estados com menor potência eleitoral. No dia seguinte ao acordo, em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", Lula justificou o empenho em atrair um exército tão heterogêneo a um custo que ainda é cedo para avaliar, mas já se sabe que não deve ser baixo. "Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer coalizão", comparou o presidente. Até a Igreja Católica reagiu. Mas o PMDB não. É bom lembrar que a biografia do partido registra a melancólica candidatura presidencial de Ulysses Guimarães, que, mesmo com todo este exército, foi abandonado pela tropa e amargou uma derrota vergonhosa em 1989. Ou seja, Lula fechou o acordo, mas sabe que o PMDB pode trair a qualquer momento, basta sentir cheiro de vitória em outra candidatura, pois, desde a redemocratização, nunca lutou contra o poder. Mesmo dividido.