Bovespa fecha com baixa de 4,75%; pior "tombo" em sete meses 28/10/2009
- Epaminondas Neto - Folha Online
A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) amargou o seu pior "tombo" desde 2 de março deste ano, em plena crise financeira mundial. Com mais de um mês "de atraso", o mercado de ações brasileiro começou a "queimar" a gordura acumulada há meses, cumprindo os prognósticos de dez entre dez analistas, que já consideravam a Bolsa "cara demais". As perdas de hoje apagaram a valorização registrada em outubro. E nesse ambiente de maior aversão a risco, a taxa de câmbio voltou ao patamar de R$ 1,75.
No mês, a Bolsa acumula desvalorização de 2,2%. A perda é ainda maior -- uma queda de 10,52% -- considerando desde o pico do ano, registrado há apenas dez dias. A taxa de câmbio ainda acumula desvalorização no mês, de 0,96%.
O Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa paulista, perdeu 4,75%, aos 60,162 pontos. O giro financeiro foi alto, de R$ 9,05 bilhões. Nos EUA, a Bolsa de Nova York fechou em queda de 1,21%.
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As perdas foram puxadas pelas ações preferenciais da Vale, que movimentaram mais de R$ 1,2 bilhão somente hoje. O papel foi negociado com forte desconto de 4,53%, no dia em que a companhia deve abrir seus números do trimestre.
E em sua estreia na Bolsa, a ação ordinária da Cetip desabou 9,53%, para R$ 11,76, movimentando R$ 261,7 milhões.
"O principal motivo me parece que ainda é a questão do IOF [taxação do capital estrangeiro]. De repente, os investidores perceberam que 'aquele governo', que aparentemente não interferia, passou a interferir, e isso com certeza criou um desconforto muito grande. Além disso, a Bovespa havia subido muito, mais do que as demais Bolsas de Valores. Quer dizer, havia um otimismo exacerbado sobre a economia do país", comenta Guilherme Mazzili, gestor de renda variável da Daycoval Asset Management. "Há também um fator secundário hoje: as Bolsas lá fora não ajudaram muito". E acrescenta: "com certeza, há mais espaço para o mercado realizar".
Ronaldo Zanin, gestor da Advisor Asset Management, reforça que a Bolsa brasileira segue um movimento mundial de "realização" (vendas), agravado pelo fato de que os ativos brasileiros "subiram rápido demais". "Isso não quer dizer que nós achávamos que as ações estavam sobrevalorizadas. Na verdade, a nossa visão não é pessimista para a Bolsa, pelo contrário: ainda há espaço para valorização, só que sujeito a algumas oscilações no curto prazo", afirma. "Acreditamos que as medidas fiscais tomadas pelo governo realmente fizeram efeito e as perspectivas são boas para a economia brasileira".
Zanin avalia que a Bolsa terá outro dia difícil pela frente, com indicadores bastante importantes a sair nos EUA, destacando-se o PIB americano.
O dólar comercial foi vendido por R$ 1,755, em alta de 0,92%. A taxa de risco-país marca 245 pontos, número 2,08% acima da pontuação anterior.
EUA
Entre as principais notícias do dia, o Departamento do Comércio dos EUA informou que o volume de pedidos de bens duráveis teve crescimento de 1% em setembro. Excluindo os pedidos no setor de transporte, o índice registrou alta de 0,9%, acima do 0,7% esperado pelos analistas nessa leitura.
Ainda nos EUA, o mesmo órgão apontou que as vendas de casas novas caíram 3,6% no mês passado, para um ritmo anualizado de 402 mil unidades. O resultado ficou abaixo do esperado pelos analistas, que previam uma cifra em torno de de 440 mil unidades.
Analistas ainda destacam a preocupação entre investidores de que comece a haver uma reversão, entre os governos de vários países, das políticas fiscais para combater a crise. Hoje, a Noruega se tornou o primeiro país europeu a elevar seus juros básicos. No início do mês, a Austrália já foi a primeira nação do G20 a apertar sua política monetária.
Internamente, uma das principas notícias do dia foi a recuperação do nível de confiança dos empresários, detectado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). O indicador bateu seu décimo mês consecutivo de alta.
Empresas
No setor corporativo, o grupo espanhol Santander informou um lucro líquido de 2,22 bilhões de euros (US$ 3,28 bilhões) no terceiro trimestre deste ano, em um crescimento de 0,72% o desempenho no mesmo período de 2008. No Brasil, a filial apurou um ganho de R$ 1,47 bilhão, quase dobrando (92%) o lucro registrado no mesmo período de 2008.
A gigante do setor siderúrgico ArcelorMittal reportou um lucro líquido de US$ 903 milhões depois de três trimestres consecutivos de prejuízos, revertendo as expectativas de um novo resultado "no vermelho". Na comparação com o balanço de um ano antes, no entanto, o lucro foi 75% inferior.