Avião da FAB é localizado com corpo de desaparecido 01/11/2009
- Renata Magnenti e Genival Moura - O Estado de S.Paulo
Equipes de mergulhadores conseguiram, por volta das 16 horas de ontem, chegar ao avião C98 Caravan da Força Aérea Brasileira (FAB), que se encontrava a 6 metros de profundidade, na margem direita no Rio Ituí, no Amazonas, após um pouso forçado na quinta-feira. Dentro do turboélice Cessna foi encontrado o corpo do funcionário da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) João de Abreu Filho, de 33 anos. Com apoio por terra de índios matizes e marubos, 25 homens das Forças Armadas prosseguiam na noite de ontem a busca pelo suboficial Marcelo dos Santos Dias, de 35 anos, mecânico do C-98, que estava desaparecido.
Os nove sobreviventes do acidente, que foram liberados do Hospital Geral do Juruá às 11h30 de ontem e seguiram para suas cidades, relataram que o mecânico ficou preso no avião quando concluía a retirada dos passageiros. O trabalho das equipes de resgate foi dificultado ontem pela mata densa e pelas más condições de visibilidade no rio. Para retirar os três militares e os seis funcionários da Funasa que sobreviveram ao pouso forçado, a Aeronáutica precisou usar anteontem um helicóptero com guincho e içá-los um a um, pois não havia onde pousar.
Para que o avião submerso no Igarapé Jacurapá pudesse ser retirado da água, foi necessário abrir uma clareira - o içamento só deve ser concluído hoje. Responsável pelo 7º Comando Aéreo Regional da Amazônia, o major-brigadeiro Jorge Cruz de Souza e Mello destacou que os esforços agora estão concentrados na busca pelo suboficial. "Ele acabou preso no avião porque a correnteza fechou a porta e impediu que saísse", lamentou o diretor técnico do Hospital do Juruá, Marcos Melo, com base nas informações dos pacientes. O militar ainda teria tentado sair pela frente da aeronave, sem sucesso.
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CAUSAS E PILOTO
Ainda não há pistas sobre as causas do acidente, segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). "Temos alguns indícios, mas é precipitado falar", disse o chefe do 7º Comando. Não há prazo para encerrar as investigações. A aeronave estava com as revisões em dia e voava com equipe experiente - o piloto, o primeiro-tenente Carlos Wagner Ottone Veiga, tem sete anos de experiência e 2,2 mil horas de voo, mais de mil em aeronaves C-98, da qual é instrutor.
Pelos relatos iniciais, a hipótese mais provável é de que uma pane no motor tenha provocado uma desaceleração do Cessna Caravan, que havia partido de Cruzeiro do Sul (AC) às 8h30 de quinta-feira, com destino a Tabatinga (AM), onde deveria ter chegado às 10h15, após a missão de vacinação de índios no Amazonas. Depois de notar a dificuldade e enviar um alerta de emergência, conforme as autoridades aeronáuticas, a tripulação teve 16 minutos para definir um local para o pouso.
Foi nesse momento, de acordo com Souza e Mello, que o piloto demonstrou perícia. O comandante observou que o avião foi encontrado 10 milhas à esquerda da rota normal, numa área que ofereceria maior segurança. Para ele, a ação de Veiga assegurou a sobrevivência do maior número possível de pessoas. "É necessária uma escolha de momento, apesar da rapidez com que as coisas acontecem. A aeronave foi determinante, porque o Caravan tem alta capacidade de sobrevivência, mas a competência do piloto e dos mecânicos em abrir as portas e auxiliar na saída das pessoas, mesmo dentro do rio, foi um elemento decisivo."
Os sobreviventes não conseguiram dar aos técnicos do Cenipa informações precisas sobre a queda. Dos nove, três moram em Manaus. Os outros residem em Tabatinga e em Atalaia do Norte. "Na busca pela própria sobrevivência, os passageiros não conseguem falar sobre parte do que houve. O máximo que conseguimos saber deles é que os dois desaparecidos não os acompanharam na saída da aeronave e até a margem do igarapé", afirmou Souza e Mello.
TRISTEZA
A família de João de Abreu Filho ainda tinha esperanças de encontrá-lo com vida. Vanessa, uma das irmãs, relatou ao Estado, anteontem, que o agente da Funasa não queria ir na missão. Havia pedido para se afastar do serviço de vacinação em aldeias porque começara a estudar na faculdade de Biologia, no Acre. "Como ele conhecia esse serviço e estava acostumado com a vacinação dos índios, teve de ir."