Supersafra e câmbio farão preço da soja cair, diz entidade 06/11/2009
- Reuters
Os preços da soja no mercado internacional devem sofrer pressão ao longo da safra 2009/10, confirmando-se as grandes colheitas esperadas para Brasil e Argentina, enquanto o produtor brasileiro pena adicionalmente com real valorizado, que afeta a formação das cotações internas, segundo a Sociedade Rural Brasileira.
O Brasil caminha para ter uma safra recorde da oleaginosa, sob a influência positiva do fenômeno El Niño para as lavouras e por ter plantado soja também em parte das áreas antes ocupadas por milho (mais custoso), lembrou o presidente da SRB, Cesário Ramalho, ao divulgar um estudo sobre o impacto do câmbio para o setor.
O Ministério da Agricultura estima que o Brasil poderia colher um recorde de até 63,6 milhões de toneladas de soja em 09/10, ante 57 milhões em 08/09.
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"Essa supersafra vai levar a uma queda na bolsa de Chicago... Vai dar um excesso de produção, vai ter um superavit [no mercado mundial de soja] de 10%", disse Ramalho a jornalistas, considerando os Estados Unidos, que estão colhendo uma grande safra, assim como se espera da Argentina.
Ele destacou que os preços atuais na bolsa de Chicago, referência internacional, acima da média histórica de US$ 7 por bushel (medida americana que equivale a 27,2 quilos), estão compensando parcialmente a desvalorização do real frente ao dólar -- o contrato em Chicago está perto de US$ 10 por bushel.
Mas ressaltou que, com a grande produção prevista nos três maiores países produtores de soja do mundo, os preços não mais evitarão a perda da rentabilidade decorrente do câmbio.
O estudo da SRB afirmou ainda que, ao mesmo tempo em que o câmbio pressiona a formação de preços, tira competitividade do Brasil no mercado internacional, ainda que não tenha apontado quanto o país, segundo exportador mundial, poderia perder de sua fatia de vendas.
O real registrou valorização de 32% em relação ao dólar entre dezembro de 2008 e setembro deste ano, destacou o levantamento, enquanto o euro subiu apenas 8% ante a moeda norte-americana no mesmo período.
Considerando que o real se valorizou mais que o euro frente ao dólar, a soja brasileira ficou bem mais cara para um dos principais compradores do produto nacional, os europeus.
"O Brasil vai perder mercado, e isso leva o produtor rural ao prejuízo", declarou Ramalho, ponderando que a formação de preços para a próxima temporada, desfavorável, está retardando as vendas antecipadas da safra, que poderiam já ter atingido um patamar de 40% do total esperado, mas estão em apenas 20%.
Prejuízo
De acordo com Ramalho, o produtor brasileiro precisaria colher uma média superior a 3 toneladas de soja por hectare para evitar o prejuízo em 2009/10, "e isso não é fácil", diante do cenário de preços e câmbio avistado. A média de produtividade nacional para 09/10 foi estimada nesta quinta-feira em 2,8 toneladas.
"Vamos exportar [a produção]... mas vamos falar novamente sobre endividamento [ao final da safra]. O setor rural não tem vontade de ficar devendo, mas quando não tem rentabilidade...", acrescentou o vice-presidente da SRB, Roberto Ticoulat.
Num cenário futuro em que o Brasil continuará a receber investimentos estrangeiros, a entidade avalia que o governo precisaria trabalhar para reduzir o chamado "Custo Brasil", cortando a carga tributária e melhorando as condições logísticas de escoamento, além de mexer na política cambial.