Aécio cresce no jogo 14/11/2009
- Sérgio Pardellas e Fabiana Guedes - ISTOÉ
A cena é uma espécie de batismo para todo candidato a presidente da República. Mas só costuma ocorrer quando o concorrente consegue reunir credenciais realistas para ser o protagonista. Um grupo de seletos 100 empresários, representando boa parte da riqueza produtiva do País, sentados para jantar e ouvir as propostas de um pretendente à cadeira mais importante do Palácio do Planalto. Até agora nenhum dos supostos concorrentes na eleição de 2010 havia ocupado este cenário.
Na segundafeira 9, em São Paulo, um deles, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, fez sua estreia e saiu do palco aplaudido de pé por cinco minutos. Com um discurso de conciliação com os adversários, reconhecimento aos acertos do governo Lula e fidelidade ao projeto do PSDB, sobretudo no caso das privatizações, Aécio ganhou a plateia composta por nomes como Luiz Trabuco (Bradesco), Roberto Ermírio de Moraes (Votorantim), Ivan Zurita (Nestlé), David e Daniel Feffer (Suzano), Horácio Lafer Piva (Klabin), Cledorvino Bellini (Fiat), José Carlos Pinheiro Neto (General Motors), Patrick Larragoiti (Sul América), entre outros.
Esta aprovação em público ao nome de Aécio reflete o seu crescimento no jogo da sucessão que já está sendo captado pelas pesquisas eleitorais. Uma delas é uma consulta espontânea feita pelo instituto Vox Po puli por encomenda de um partido da base aliada ao governo federal à qual ISTOÉ teve acesso com exclusividade.
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Os números surpreenderam a quem teve acesso ao resultado, inclusive o Palácio do Planalto. Aécio só perdeu para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, claro, não é candidato à reeleição. Na cabeça dos dois mil eleitores consultados em todo o País, o nome do governador mineiro está mais forte do que o da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do governador paulista, José Serra, seu contendor no PSDB pela vaga de candidato.
Ao serem perguntados em quem votarão para presidente - sem que lhes fosse mostrada nenhuma lista -, 13% dos consultados responderam Lula, 11% falaram Aécio, 10% Serra, 6% Dilma. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ficou com 3%, a senadora Marina Silva (PVAC) com 2% e a vereadora Heloísa Helena (PSOL-AL) com apenas 1%. E 53% responderam que não sabem em quem votarão.
Procurado por ISTOÉ, o diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, recusou-se a comentar a pesquisa, mas confirmou a existência do levantamento, concluído em 2 de novembro. Coincidência ou não, esta semana a candidatura de Aécio ganhou amplitude. Os empresários deixaram o jantar convencidos de que ele disputará o Palácio do Planalto. Mas antes mesmo de ser aplaudido à noite, o governador já havia obtido sucesso ao fazer a palestra "Novos rumos para o Brasil" para outros 300 empresários reunidos pelo grupo Lide em um hotel em São Paulo. Nos dois eventos, Aécio agradou ao defender "um choque de gestão no governo federal", embora tenha deixado claro que o PSDB jamais aceitará a "armadilha" imposta por "um partido e um candidato que se confundem com Estado e governo e que pretendem transformar a disputa em uma eleição plebiscitária".
Em outra consulta do Vox Populi, desta vez estimulada, na simulação em que Serra é substituído pelo governador mineiro, Aécio já aparecera com 18%, contra 20% de Dilma e 19% de Ciro, mas com apenas 5% de rejeição, a menor entre os supostos concorrentes principais. A ministra carrega 12% de rejeição e Serra, 11%. Amparado pelas pesquisas e com o discurso afiado, Aécio está conseguindo, cada vez mais, convencer o PSDB de que é o melhor nome para disputar a sucessão de 2010. "Não há dúvidas de que Aécio tem capacidade de ampliar mais as alianças do que Serra", afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
As declarações de apoio político da última semana comprovam a afirmação de Guerra. Da base aliada - onde a pesquisa do Vox Populi circulou mais - à oposição houve acenos para o governador mineiro. PMDB, PDT, PP, PSB e DEM estão, aos poucos, fazendo movimentos políticos na direção de Aécio e deixando o governador Serra em um aparente isolamento. "Posso rever minha posição se o Aécio for candidato", anunciou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, candidato do PMDB ao governo de Minas e, até agora, um aliado de Dilma. "Não posso ficar contra uma indicação do presidente Lula, afinal sou ministro. Mas também não posso ficar contrário a uma candidatura mineira", disse Costa. Na segunda-feira 9, foi a vez do PDT. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado da legenda, teve uma longa conversa com o senador Cristóvão Buarque (PDTDF).
No bate-papo, Lupi confidenciou ter se rendido à candidatura de Aécio a presidente. "Se Aécio for candidato o PDT vai apoiá-lo", disse o ministro. Ainda prezando pela cadeira onde trabalha na Esplanada, Lupi prefere negar publicamente sua decisão. Mas Buarque confirmou o teor da conversa com o ministro a pelo menos dois integrantes do PDT ouvidos por ISTOÉ. Outro pedetista, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), não esconde de ninguém que a entrada de Aécio na disputa atrairia os sindicatos sob a sua liderança. "Acredito que boa parte da Força Sindical o apoiaria", afirma.
Outra legenda que mandou recado a Aécio foi o PP do deputado Paulo Maluf (SP). Primo do governador mineiro, o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), confidenciou a interlocutores que seu partido deve marchar com Aécio se ele sair candidato. Toda esta movimentação, portanto, faz supor que a declaração de Guerra é menos por simpatia e mais por deter informações de bastidores que o levam à conclusão da maior capacidade de apoios para ao governador de Minas.
Há duas semanas, a candidatura de Aécio foi tema de uma conversa entre o presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de avaliar a conjuntura da política nacional, Campos confessou: "Não temos como não apoiar Aécio se ele for o candidato." Ao que Lula, preocupado, respondeu: "Se Aécio for o nome do PSDB mesmo, ele bagunça a base governista." É este o motivo pelo qual o Planalto torce pela candidatura de Serra.
O governador paulista despertaria menor simpatia de partidos que hoje estão com o governo, têm cargo no primeiro escalão e, a rigor, se manteriam fiéis a Dilma. O empresariado também seria mais resistente a apoiar Serra, visto como inflexível, autoritário e ainda por cima pouco confiável para as empresas. Até hoje, a indústria farmacêutica, por exemplo, não engole decisões do então ministro da Saúde, como a criação dos medicamentos genéricos e a quebra de patentes em antivirais de combate à Aids - medidas consideradas agressivas à livre-iniciativa.
Nem só o empresariado e os partidos da base do governo federal estão percebendo a vantagem de Aécio em relação aos apoios políticos. Foi na principal seara para o governador de Minas, neste momento, o próprio PSDB, que ele começou a colher mais adesões, depois de muito tempo reivindicar a escolha do candidato da legenda por uma eleição prévia e esbarrar nos 40% que Serra tem nas pesquisas de intenção de voto. Esse quadro começa a mudar não apenas na declaração do presidente do tucanato, mas também entre a base parlamentar.
O líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (SP), registrou o bom desempenho de Aécio na busca de alianças. "O apoio do Hélio Costa é mais uma demonstração de que Minas está muito sensibilizada com a possibilidade de ter um candidato a presidente", disse Aníbal. Na quartafeira 11, Aécio compareceu a um jantar na casa do deputado tucano Eduardo Gomes (TO). Oficialmente, o evento era para dar as boas-vindas aos novos filiados do partido no Tocantins. Mas Aécio constatou, mais uma vez, que está ampliando o terreno.
Até mesmo por simpatia. Serra também foi convidado, mas enviou apenas sua ausência. "Valorizo muito aqueles que buscam uma nova filiação partidária no momento em que esse partido não tem poder para distribuir, no momento em que este partido está na oposição", disse Aécio para mais de 50 deputados e quase dez senadores. Resultado: além de aplausos, ouviu gritos de "Aécio presidente". Horas antes do jantar, os deputados Eduardo Barbosa e Nárcio Rodrigues, ambos do PSDB mineiro, circularam pelo salão verde da Câmara com um adesivo dizendo: "Aécio é bom para Minas e será melhor para o Brasil."
Estas manifestações enfraqueceram definitivamente a esperança daqueles que, dentro ou fora do PSDB, sonhavam com uma chapa puro-sangue dos tucanos, com Aécio vice de Serra. "Essa possibilidade não existe", afirmou mais uma vez o governador de Minas ao sair do encontro com os empresários em São Paulo.
Outra posição que Aécio fez questão de ressaltar em seus encontros durante a semana passsada foi que, mesmo com a garantia de apoio de partidos da base aliada e com a intenção de impedir uma campanha plebiscitária, fará as críticas que, em sua opinião, devem ser feitas ao governo Lula. "Nos últimos oito anos, enquanto o Brasil cresceu, no total, entre 27% e 28%, o custo da máquina pública federal aumentou 74%. A conta não fecha. E esse crescimento de gastos não veio acompanhado da melhoria da eficiência do setor público", disse.
O caminho para a candidatura, porém, ainda depende do PSDB. A cúpula do partido abriu mão das prévias e optou por adiar sua definição para o próximo ano. É o prazo, na verdade, estabelecido por Serra, que promete anunciar se concorre ou não a presidente em março. A demora está provocando irritação até mesmo no potencial maior aliado do PSDB, o DEM.
O presidente dos Democratas, deputado Rodrigo Maia (RJ), não esconde a insatisfação com o calendário tucano. "Estamos com nossas bases nos Estados sem condição de definição, sem um contraponto que lhes auxilie na campanha", disse Maia. Aparentemente, o PSDB está seguindo os mesmos moldes da fadada estratégia de 2006. Ninguém esquece o famoso jantar ocorrido em fevereiro daquele ano entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Serra, o próprio Aécio e o senador Tasso Jereissati (CE). Enquanto a cúpula fazia o que ficou conhecido como a "convenção do Massimo", em alusão ao nome do restaurante paulistano, e comia cordeiro e tomava várias garrafas de vinho italiano, Alckmin, então concorrente de Serra, conquistava sua candidatura com o apoio da base do partido.
Até mesmo por ter estado presente ao encontro, Aécio sabe que essa tática causa ressaca eleitoral. Por isso, decidiu estabelecer seu próprio prazo a despeito da vontade de quem quer que seja. Em dezembro, se o PSDB não escolher o candidato, garante o governador de Minas, ele deve anunciar que disputará uma cadeira no Senado Federal. Pelas cenas da última semana, certamente, provocaria frustração em muita gente.