Dólar fraco e grandes safras deixam plantadores de soja em alerta 16/11/2009
- Reuters
Um cenário de safras recordes nos maiores produtores mundiais de soja em 2009/10 deixa agricultores do Brasil em alerta, disseram analistas. Eles temem que os preços possam cair, apertando as margens já prejudicadas pelo câmbio do país, segundo do ranking global da oleaginosa.
A situação só não é pior porque o dólar fraco no mercado internacional age como fator altista para os futuros da soja, com investidores aproveitando a fraqueza da moeda norte-americana no mundo para comprar commodities nela denominadas, o que acaba tendo também impacto positivo nas cotações domésticas.
Entretanto, há dúvidas se a partir da concretização de uma grande safra na América do Sul os fundamentos eventualmente não passariam a ter maior peso nas decisões dos participantes dos mercados de futuros.
PUBLICIDADE
"O produtor está temeroso com o cenário [de preços] da safra. Se esses níveis [de safra global] se confirmarem, vai ter muita soja no mercado. É um ano temeroso, os produtores estão com margens muito ajustadas em cenário com muita incerteza", afirmou o analista da Agroconsult Marcos Rubin.
Nas condições atuais, acrescentou Rubin, os preços ainda são compensadores para os produtores brasileiros, apesar do dólar estar sendo negociado perto de R$ 1,70.
Com a fraqueza da moeda norte-americana no mercado internacional, a soja em Chicago, referência internacional, voltou a ser negociada acima de US$ 10 por bushel (medida americana que equivale a 27,2 quilos), apesar de os Estados Unidos estarem caminhando para o final da colheita de uma safra recorde da oleaginosa, acima de 90 milhões de toneladas.
Ao mesmo tempo, Brasil e Argentina plantam também para ter produções recordes, de 63 e 53 milhões de toneladas, respectivamente. Enquanto no Brasil tudo vai relativamente bem para o plantio, na Argentina há certa preocupação com a seca, embora os dados meteorológicos indiquem uma regularização das chuvas, afirmou Rubin.
"A relação de estoque e uso de soja no mundo deve pular de 17% em 08/09 para 25% em 09/10. Esses números se tornando reais, a soja será negociada entre US$ 8,5 e US$ 9. Com esse preço e a expectativa de dólar abaixo de R$ 1,70, vai ter margem muito ajustada no Mato Grosso, no Paraná, mas ainda fecha a conta", declarou.
O analista explicou que isso só acontece pelo fato de os custos em 09/10 terem caído cerca de 20%, puxados principalmente pelos preços dos fertilizantes, que foram reduzidos mais de 35% em Mato Grosso, na comparação com os picos de 08/09.
"Os custos (menores) acabaram compensando a queda dos preços. A conta fecha, mas não com folga", disse ele, estimando rentabilidade de R$ 180 por hectare em Mato Grosso, contra R$ 570 em 08/09 no mesmo Estado.
De acordo com outro analista, Eduardo Godoi, da Agência Rural, Mato Grosso, com piores condições logísticas para o escoamento da safra, precisa de cotações em Chicago em patamares elevados para compensar o câmbio.
"Nos dias em que o contrato março de Chicago passou de US$ 10, vimos gatilhos de negócios. Chicago acima de US$ 10, Mato Grosso vende, essa é a nossa leitura", destacou Godoi, lembrando que a comercialização antecipada da safra andou bem em outubro, num volume de 1,3 milhão de toneladas no mês passado, com os produtores aproveitando os melhores momentos do mercado.
Câmbio não é desculpa
Para um terceiro analista, que pediu para não ser identificado, o câmbio não pode ser utilizando como justificativa de eventual prejuízo, numa época em que há instrumentos de hedge.
"O Brasil virou a bola da vez e o real vai continuar se apreciando. O mais deletério é o descasamento entre o câmbio de plantio e o de colheita, porque não se tem a cultura de travar o câmbio, só 2% dos produtores fazem isso no Brasil", disse o analista, ressaltando que o agricultor brasileiro deveria se "tecnificar" também fora da porteira.
O analista lembrou que na safra 09/10 o descasamento entre o câmbio de plantio (entre R$ 1,80 e R$ 1,90) e o de colheita deve ocorrer novamente. "Essa é a diferença entre uma safra que poderia permitir ao agricultor pagar dívidas, ter sobras, ou ter prejuízo."