Bovespa fecha 2009 com saldo recorde de capital estrangeiro 05/01/2010
- Toni Sciarretta - Folha de S.Paulo
Bolsa de maior alta no mundo em dólar em 2009, a brasileira BM&F Bovespa fechou o ano passado contabilizando uma entrada recorde de R$ 20,45 bilhões em recursos estrangeiros de fundos de pensão e de hedge internacionais, já descontadas as repatriações de capital. Foi o maior saldo de capital externo na Bolsa desde 1994, início dos registros.
A entrada de recursos externos na Bolsa deve perdurar pelo menos no primeiro trimestre de 2010, apesar da forte recuperação no preço das ações brasileiras, segundo analistas.
Ontem, a Bolsa iniciou o ano com uma alta de 2,12% no Ibovespa, que terminou o primeiro pregão de 2010 marcando 70.045 pontos -primeira vez acima de 70 mil desde junho de 2008. No mercado de câmbio, o dólar comercial iniciou o ano com baixa de 1,32%, negociado novamente a R$ 1,72.
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O otimismo ontem foi atribuído a indicadores positivos vindos do setor industrial na China e nos EUA, que reforçam a perspectiva de retomada consistente da economia global. A indústria chinesa manteve recuperação em dezembro pelo nono mês consecutivo. Nos EUA, o indicador industrial de novembro do ISM (gerentes de compras) teve o melhor desempenho desde abril de 2006.
Nos EUA, a Bolsa de Nova York encerrou o dia com valorização de 1,5% no índice Dow Jones e de 1,6% no Standard & Poor"s 500. A Bolsa Nasdaq teve alta de 1,73%.
Com o otimismo na indústria e a expectativa de inverno rigoroso no hemisfério Norte, o petróleo subiu 2,78% e atingiu US$ 81,57 o barril, puxando os preços da maioria das commodities internacionais.
Estrangeiros
Segundo a economista Vitoria Saddi, especialista em mercados internacionais do Insper (antigo Ibmec-SP), alguns dos principais investidores estrangeiros do planeta aumentaram recentemente sua exposição a papéis brasileiros e reduziram o percentual de ativos de Rússia, Índia, Ásia e outros países emergentes.
"Mercado emergente hoje é igual a Brasil. Nada indica que isso vá mudar agora. A crise beneficiou o Brasil e mostrou que o país é melhor em termos financeiros do que os outros emergentes", disse.
Na avaliação de Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora, a entrada de recursos estrangeiros na Bolsa brasileira só deve mudar quando EUA e Europa começarem a retirar os estímulos econômicos e voltarem a subir os juros, o que só deve ocorrer a partir do terceiro trimestre. Bandeira afirma que a temporada de resultados financeiros das empresas, que começam a ser divulgados no final do mês, deverá ser positiva e sustentará o otimismo por mais algum tempo nos mercados internacionais.
"A grande dúvida do ano é como e quando os governos e os Bancos Centrais vão agir na retirada dos estímulos. Tudo vai depender de como será essa sintonia fina. No primeiro trimestre, nada disso deve acontecer", disse Bandeira.
"Nós vamos passar o ano, a cada 45 dias, pensando se os juros nos EUA sobem ou não sobem. O problema é o timing do aumento nos juros. Continuo achando que é pouco provável uma alta em 2010. Eles não querem errar; se for para errar, é melhor errar para a inflação. E inflação não é ruim para a dívida deles. Depois corrigem", disse José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
Apesar de recorde, o volume de dinheiro do investidor estrangeiro que ficou na Bolsa no ano passado ainda é menor do que os R$ 24,63 bilhões que deixaram o mercado acionário nacional em 2008, no auge da crise e em meio à aversão ao risco dos países emergentes.
No ano passado, o Ibovespa rendeu 145% para o investidor estrangeiro que traz dólares ao país. Além de embolsar os 82,7% da alta em reais, como ocorre para todos os brasileiros, o estrangeiro faturou mais 34% com a valorização do real.
Segundo a Bolsa, o investidor estrangeiro esteve em 34,2% dos negócios realizados com ações em 2009 e comprou em média 65% das ações vendidas em ofertas públicas no mercado. No ano anterior, o estrangeiro respondia por 35,5% dos negócios e ficava em média com 70% das novas ações que entravam na Bolsa.