Embrapa/Pantanal prevê maior enchente dos últimos 200 anos 22/01/2010
- João Arruda - Jornal Cacerense
Se as precipitações continuarem nas próximas semanas no Pantanal Mato-Grossense, conforme vem ocorrendo nos dias atuais, a região deverá ter uma das maiores enchentes dos últimos dois séculos. A previsão é da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com sede em Corumbá, no Estado do Mato Grosso do Sul, e foi divulgada pelo jornal “Correio do Estado” em sua edição de domingo.
Em Cáceres, cidade margeada pelo rio Paraguai, o principal formador da planície pantaneira, o nível da lâmina da água medida pela Marinha do Brasil, saltou de maneira assombrosa de 3,80 metros, registrados no domingo passado (dia 16), para 4,73 metros ontem, 22. Diante dessa situação, a Marinha, passou a coletar dados do nível do rio em dois períodos, manhã e tarde.
A cota de alerta para área urbana de Cáceres, estabelecida pela Defesa Civil de Mato Grosso, é de 5,40 metros.
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Entre terça e quarta passadas, o major Ramão Correia Barbosa, atual comandante do Corpo de Bombeiros em Cáceres, manteve a maioria da tropa em prontidão nos bairros mais problemáticos.
A Cohab Velha é onde se verifica o maior índice de alagamento.
Apesar do volume da água ter se estabilizado, a corporação dos bombeiros vem se mantendo em alerta, segundo seu comandante, para não ser pega de surpresa, conforme ocorreu em janeiro de 2007, ocasião em que várias famílias ficaram desabrigadas.
A elevação no nível do rio acaba represando o escoamento dos canais dos Fontes, Sangradouro e do Renato que, em tese, serviriam para drenar a cidade, mas devido à pouquíssima declividade o setor urbano acaba tendo um refluxo dos canais para os bairros.
“A cidade é totalmente plana, as águas descem pelos canais, mas não têm força para romper o volume do rio e da baia que margeia Cáceres. Com isso ocorre o fenômeno do refluxo. Diante dessa constatação, venho mantendo contato com os membros da Defesa Civil, com o Comando do Exercito e da Marinha, para uma eventual ação, porém os dois últimos dias de estiagem deixa a população sobretudo dos bairros mais baixos, mais tranqüila”, observa o major Ramão Correia.
Se na cidade paira a preocupação, nas fazendas situadas dentro do Pantanal, os pecuaristas já providenciam a evacuação do gado das invernadas mais baixas para a parte firme, as "cordilheiras".
Preocupação à parte, a cheia vem proporcionando um espetáculo aos moradores de Cáceres: o raro fenômento da "tapagem": a descida de "camalotes" -- blocos de plantas aquáticas como aguapé, orelha de onça e capim -- que se desprendem e descem, mansamente, rio abaixo em grandes quantidades.
O fenômeno virou até nome de rua em Cáceres.
De acordo com relatos no historiador da Academia Mato-grossense de Letras Natalino Ferreira Mendes, essa característica do Pantanal foi decisiva para impedir que Cáceres fosse tomada durante a Guerra do Paraguai.
O acúmulo desses camalotes nas baías de Gaíva e Uberaba, a sul de Cáceres, não permitiu a subida da flotilha paraguaia que tomou Corumbá e pretendia tomar Vila Maria do Paraguai, antigo nome de Cáceres.