Lula apela para evitar execução de brasileiro na Indonésia 28/01/2010
- Ricardo Gallo - Folha de S.Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um apelo ao governo da Indonésia a fim de evitar a execução do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, 48, condenado à pena de morte no país asiático.
Em carta, Lula pediu "generosidade" ao presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, e disse que a morte do brasileiro afetaria a relação entre os dois países.
"Peço licença para tratar de um assunto de interesse humanitário (...) Conto com a sua generosidade para que o assunto não crie uma reação na opinião pública brasileira que teria, possivelmente, efeitos no nosso relacionamento, que tanto queremos estreitar", disse o presidente, que classificou o caso de "especialmente urgente".
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A carta, que exalta a boa relação entre Brasil e Indonésia, foi enviada após Marco pedir nova intervenção de Lula. "Vou cair no esquecimento aqui", disse ele à Folha no dia 17.
Trata-se de uma nova tentativa para que Yudhoyono dê clemência ao brasileiro. É a última chance de Marco escapar da execução --ele quer a conversão da pena para prisão perpétua ou para 20 anos.
Pelas leis locais, o condenado tem direito a dois pedidos de clemência -- o presidente da Indonésia já negou o primeiro em 2006 e ainda não se pronunciou sobre o segundo. Na Justiça, não cabe mais recurso.
Yudhoyono foi reeleito em 2009 com posição favorável à pena de morte. A punição é apoiada pela maior parte dos políticos e pela população local.
O brasileiro foi preso em 2003 ao tentar entrar na Indonésia com 13,4 kg de cocaína escondidos em sua asa delta. A condenação de morte ocorreu no ano seguinte. Ele disse que aceitou o serviço em troca de dinheiro para pagar uma dívida; segundo Marco, foi a primeira vez que ele fez isso.
A Folha vem tentando falar com o governo da Indonésia, mas ainda não obteve resposta.
Cela
Instrutor de voo livre, nascido no Rio, Marco está no presídio de Pasir Putih (a 400 km da capital Jacarta), em uma cela com mais cinco pessoas.
Ele dorme numa rede. Alimenta-se da comida da prisão, que acha muito condimentada, e de macarrão comprado na cela "supermercado" de um vizinho chinês, com os US$ 500 que a mãe lhe manda todo mês.
O brasileiro disse já estar acostumado à prisão e que é respeitado por colegas e guardas. Ele passa os dias em exercícios na academia ou em bate-papo com os presos -- Marco aprendeu o idioma local.
A Folha falou rapidamente com ele anteontem, por telefone, antes de saber da carta de Lula. Marco disse estar bem e que espera pela visita da mãe.
Em Pasir Putih também está Rodrigo Gularte, 37, condenado à morte em 2004 igualmente por tráfico de drogas. O processo de Rodrigo está em fase de apelação; depois, terá dois pedidos de clemência por fazer.
A execução na Indonésia é feita por 12 soldados com rifles; apenas duas armas são carregadas, sem que os atiradores saibam quais. Cada soldado atira no peito do condenado, uma vez. Se ele sobreviver, leva um tiro na cabeça, à queima-roupa.
O narcotráfico passou a ser punido com pena de morte no país em 2000. Desde então, cinco pessoas foram executadas pelo crime --duas em 2008, aponta a Imparsial, ONG local.