CTNBio libera duas variedades de soja OGM e levedura para produção de diesel da cana 12/02/2010
- Lígia Formenti - O Estado de S.Paulo
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou ontem a liberação comercial de uma levedura transgênica que permite a produção de diesel usando a cana-de-açúcar. É a primeira vez que um transgênico desse tipo é aprovado pela comissão.
Em sua primeira reunião plenária após a mudança do comando, o órgão também aprovou o uso comercial de duas espécies de soja modificada, resistentes ao agrotóxico glufosinato de amônio. As sojas foram produzidas pela Bayer.
Também houve a liberação de duas vacinas veterinárias transgênicas. Com isso, sobe para oito o número de vacinas aprovadas para liberação comercial pela comissão, formada por 27 integrantes.
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A reunião de ontem foi conduzida pelo novo presidente do colegiado, o pesquisador da Embrapa Edilson Paiva.
PRODUÇÃO
Com o sinal verde da CTNBio, a Usina Boa Vista, instalada na cidade goiana de Pirenópolis, deve concluir a construção de uma linha de produção de diesel feito da cana. A expectativa é que, em 2011, sejam fabricados 2 milhões de toneladas do produto, que, a exemplo do etanol, é menos agressivo ao meio ambiente do que o combustível fóssil.
"Ele não tem enxofre, produz quantidade menor de material particulado e é renovável. Tudo isso reduz o impacto para o aquecimento global", afirma Luciana di Ciero, gerente de assuntos regulatórios e relações institucionais da empresa que desenvolveu o produto, a Amyris.
A aprovação também deve acelerar a negociação com outras usinas interessadas no desenvolvimento do novo produto. Até agora, nenhum país no mundo produz comercialmente o diesel de cana.
A levedura é um fungo, amplamente usado na produção de vinhos, cachaça e fermento de pão. A espécie aprovada ontem teve seu DNA modificado, o que a torna agora capaz de produzir um precursor do diesel, o farneseno. "A liberação aumenta a relação de produtos derivados da cana. Agora, além de açúcar, etanol também servirá de matéria-prima para o diesel e outros produtos para indústria química", diz Luciana. Nessa lista estão, por exemplo, lubrificantes.
O desenvolvimento da levedura transgênica é o desdobramento de um outro projeto, iniciado em 2004 para a produção de um medicamento para combater a malária, feito com uma planta chamada artemísia. A partir de 2006, partindo de conhecimento já acumulado, a empresa Amyris passou a investir no desenvolvimento da levedura geneticamente modificada.
Para o projeto de diesel, a empresa recebeu, em apenas um ano, US$ 100 milhões de vários fundos de capital de risco. Entre eles, investimentos da Votorantim Novos Negócios.
Luciana afirma que não é preciso fazer alterações nos motores para o uso do novo produto. O projeto é usar, em um primeiro momento, um blend de diesel de cana-de-açúcar e diesel fóssil. Na primeira etapa, a ideia é misturar 10% do novo produto com 90% do diesel fóssil.
"Foi a solução encontrada, pois não há como garantir o abastecimento do mercado em grande escala", afirma Luciana. As usinas, por sua vez, teriam de fazer pequenas alterações em suas instalações para produção do novo diesel. "São poucas mudanças", diz.
Além do diesel de cana, a Amyris está desenvolvendo um querosene para aviação, também a partir da cana-de-açúcar. Há acordos para o uso do produto com a Força Aérea Americana, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e a companhia Azul, que deverá fazer testes com o novo combustível em 2012. "Tudo é feito com a levedura. A plataforma de pesquisa é a mesma, o que varia é a modificação genética", diz a gerente.