Empresas dinamarquesas anunciam tecnologia para fazer etanol de bagaço de cana 28/02/2010
- Tiago Cid - revista Época
O etanol feito de capim, cascas e bagaços está próximo de se tornar uma realidade. Na semana passada, duas empresas dinamarquesas distintas anunciaram, separadamente, que chegaram a uma enzima capaz de quebrar a molécula de celulose dos resíduos vegetais e transformá-la em açúcar, com os qual é fabricado o combustível.
Apesar de projetos semelhantes estarem sendo desenvolvidos em todo o mundo, as moléculas produzidas pelas empresas Novozymes e Genecor são as primeiras experiências em vias de serem liberadas para o mercado.
Apesar de ainda não ter sido comprovada na prática nas usinas, a nova tecnologia promete um grande incremento na produção de etanol.
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Os especialistas divergem em relação ao potencial de aumento de produtividade – os palpites variam entre 40% e 100%. Com uma produtividade maior, os fabricantes terão mais lucros, mas os potenciais benefícios também poderão ser sentidos pela sociedade como um todo.
Como o etanol é a principal alternativa renovável aos combustíveis derivados do petróleo, uma produção maior de etanol teria o benefício ambiental de emitir menos gases de efeito estufa, que causam o aquecimento global. A troca dos combustíveis fósseis por biocombustíveis também pode tirar parte do poder concentrado nas mãos do cartel dos grandes produtóres de petróelo.
Um polêmica que gravita em torno do etanol é a de que a sua produção poderia reduzir a área de alimentos plantados. Os críticos sustentam que, por causa do retorno maior, muitos agricultores poderiam trocar a lavoura de alimentos por uma de cana ou milho, com o objetivo de produzir matéria prima para o etanol. Essa tese é validada por especialistas internacionais, mas não é um consenso no meio científico. Com a segunda geração de etanol, o receio da redução do plantio de alimentos deve diminuir.
Para o Brasil, o domínio da tecnologia tem potencial de consolidar de vez o status do país como o maior produtor de biocombustíveis. A situação do país é privilegiada por dois motivos.
O primeiro é que a infraestrutura para produzir etanol já está montada e o conhecimento técnico sobre o combustível acumulado pelos cientistas brasileiros é o maior do mundo. A segunda vantagem é o custo da matéria prima.
Também chamado de etanol de segunda geração, o combustível feito de restos vegetais pode ser obtido a partir de bagaços de fruta, casca de madeira, capim e restos de grãos. No Brasil, a matéria prima será o próprio bagaço da cana resultado da produção do etanol, que está disponível nos pátios das usinas e não representará custo algum.
A consagração do etanol de segunda geração também deve atrair muitos investidores para o Brasil, o que gera receitas e mais investimento em tecnologia. Para o consumidor, a entrada no mercado do etanol de segunda geração deve baratear o produto, mas ainda não é possível saber qual será o impacto nos preços.
Apenas a Novozym anunciou planos para o Brasil. A enzima, chamada de Cellic, será apresentada ao mercado brasileiro em março, mas estará à venda apenas em 2012.