Apesar de problemas físicos, Marcos pode rever aposentadoria no fim do ano 06/03/2010
- Julyana Travaglia - G1
O sorriso exibido com frequência em anos de Palmeiras desapareceu. Com um semblante sério e triste, por vezes, o goleiro Marcos voltou a comentar sobre a aposentadoria no fim do ano, na manhã desta sexta-feira, na Academia de Futebol. Caminhando para o 18º ano de Palmeiras, o camisa 12 sente o tempo nas dores do corpo. Aos 36 anos, o arqueiro, chamado de "Santo" pela torcida alviverde, só revisará sua decisão mediante uma conversa com diretoria e o técnico Antônio Carlos, em dezembro de 2010. A ideia, segundo ele, é fazer apenas algumas partidas, ficando por vezes no banco de reservas. Mesmo que isso represente uma redução no seu salário.
- Vou parar pelas minhas condições físicas, porque estou com um probleminha no joelho e no ombro. Para não manchar a imagem que construí, acho melhorar parar. O Palmeiras precisa de um goleiro mais novo e mais paciente. Mas, quem sabe, posso chegar no fim do ano e não parar, ficar na reserva, jogar algumas partidas e apoiar o Bruno e o Deola. Se eu for para a reserva, não acho justo ganhar o mesmo que eu ganho hoje. Poderia ficar mais um ano viajando com o time, mas ganhando menos. O que não dá é para jogar a quantidade de jogos que o time tem no ano. A questão é relativa. Vamos ver o que vai acontecer. Tomara que possa ter força e saúde para conseguir - ponderou o penatacampeão pela seleção brasileira, dois dias depois de dizer que encerraria a carreira no fim do ano.
Confira os principais trechos da entrevista:
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Declaração sobre aposentadoria
Foi um desabafo porque alguns torcedores estavam me criticando. É um pensamento não pelo momento, mas pelas minhas condições físicas. Tenho um probleminha no joelho e no ombro. Para não manchar a carreira que tive, é melhor parar. O Palmeiras precisa de sangue novo, de um goleiro mais paciente. Às vezes os jogadores não têm culpa que o time não vence, e eu cobro demais. Acho que vai ser bom para todo mundo: para quem está em campo e para mim, que vou poder dormir tranquilamente.
482 jogos pelo Palmeiras e fim de carreira
Vou alcançar o seu Valdir (Joaquim de Moraes, goleiro nos anos 60) na quantidade de jogos, mas na sabedoria e na postura nunca vou chegar no joelho dele. O pessoal espera hoje o Marcos de 1999, com 26 anos. Tem chegado muita bola no gol e não tenho tanta condição de alcançar. Perdi a agilidade, a velocidade de arrancada. Sinto porque sei o que posso e o que não posso fazer. Estou ficando cada dia mais limitado.
Reserva e redução de salário
A questão de parar de jogar é tranquila. Tenho mais um ano de contrato (como jogador, até o fim de 2011), mas não dá para jogar a quantidade de partidas de uma temporada. Mas, quem sabe, posso chegar no fim do ano e não parar, ficar na reserva, jogar algumas partidas e apoiar o Bruno e o Deola. Posso não ser o titular, mas entrar em quando for necessário. Se eu for pra reserva, não acho justo ganhar o mesmo que eu ganho hoje. Poderia ficar mais um ano viajando com o time, mas ganhando menos. Vamos ver o que vai acontecer. Tomara que possa ter força e saúde para conseguir.
As pessoas percebem que estou chateado porque sou alegre. Mas, às vezes, não há condição para estar assim. Não dá para perder de 4 a 1 (como na derrota para o São Caetano) e sair feliz. Eu não seria um bom político porque não sei apaziguar as coisas. Fico chateado por ser julgado. É uma democracia, todos podem falar, mas quando eu falo gera polêmica. Quando não falo, dizem que estou chateado. Não sou um jogador que passa pelo Palmeiras e vai embora. E a torcida sabe que não sou de contar mentira. Gostaria de ter esse perfil, para dormir melhor, mas não tenho. Não tenho vida social, pois ela se resume ao que está acontecendo em campo. Eu cobro os jogadores da forma que sou cobrado na rua. Isso me abala bastante. Nem sei o que vou fazer, se estou afim de entrar no futebol logo depois. Às vezes não tenho paciência para brincar com meus filhos e quero dar atenção. Quero dar um tempo.
Dores no corpo
Tenho dores no ombro e no joelho, mas não vou falar de que lado porque senão os caras vão bater o pênalti e as bolas em cima (risos).
Conversa com companheiros sobre aposentadoria
No vestiário eu já tinha comentado que, em dezembro, poderia parar. Falei com o Pierre e com o Wendel. Eles falam que dá para continuar porque é conversa de amigo. Mas já venho amadurecendo isso há algum tempo. Se tivesse falado em um momento bom, não teria gerado tanta coisa.
Pressão e cobranças no time
Se não tiver personalidade para receber críticas, como vai jogar em time grande? Prefiro ser cobrado por não estar rendendo do que ser acomodado. Reserva não pode se acomodar. Esse time é bem diferente do de 2009. Todo mundo está trabalhando, é um grupo jovem. São grandes jogadores e de caráter. É que infelizmente não tem conseguido resultado, mas espero que isso possa acontecer no decorrer dos campeonatos.
Momento ruim do Palmeiras vai passar?
Ninguém no grupo e na diretoria conhece tão bem o Palmeiras quanto eu. Já vi coisas boas e ruins aqui. Pela grandeza do clube, claro que vai passar. Mas tem de trabalhar bastante, porque só se superam os problemas com trabalho. O momento é difícil, mas ficar fora das semifinais do Paulista não é o fim do mundo. Não é motivo para se matar. O momento é de fortalecer o time e os jogadores para que a equipe tenha condições de jogar de igual para igual com qualquer um.