Grupo Bertin agora vai disputar trem-bala 28/04/2010
- Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
Depois de vencer o leilão da Hidrelétrica de Belo Monte, no consórcio Norte Energia, o Grupo Bertin se prepara para entrar em outra competição de peso. A empresa, tradicional no ramo frigorífico, deve ser um dos principais sócios brasileiros do consórcio coreano KTX, que vai disputar a concessão do Trem de Alta Velocidade (TAV), entre Rio, São Paulo e Campinas.
Os dois empreendimentos (TAV e Belo Monte) são os maiores do Brasil na atualidade. Juntos somam investimentos de R$ 50 bilhões. A dúvida é se o Bertin terá capacidade financeira para bancar parceria nos dois projetos bilionários. Há cerca de dois anos, o grupo participou, em consórcio, de dois leilões de usinas termoelétricas, mas não conseguiu fazer o depósito das garantias no prazo estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), nos valores de R$ 370 milhões e R$ 196 milhões. Além de ser multado, também teve 1% da garantia executada pelo órgão regulador.
Para os coreanos, no entanto, o episódio ainda não é motivo de preocupação. Outras cinco companhias negociam uma possível entrada no consórcio para disputar o TAV. Três são brasileiras, uma é argentina e outra é italiana, afirma o representante brasileiro do grupo coreano, Paulo Benites. Ele não quis dar os nomes das demais empresas por ainda estarem em negociação.
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Em visita de três dias pelo Brasil, os coreanos estão otimistas com a disputa e se colocam como "a solução para o TAV brasileiro". Ontem, eles se reuniram em um hotel em São Paulo para confirmar seu interesse no empreendimento. Além dos executivos das empresas KRNA (Korea Rail Network Authority), Korail e KRRI, núcleo do consórcio, a comitiva coreana contava com representantes de gigantes (construtoras) como Posco, Hyundai, GS Group, Lotte, Daewoo, Daelim, Samsung e SK.
Segundo o presidente da KRNA, Cho Hyun Yong, essas empresas vão ajudar o consórcio a preparar o modelo de negócios e a proposta coreana para o TAV brasileiro. "Assim que o governo definir as regras (lançar o edital), essa equipe estará pronta para adequar nossa participação no projeto."
Ele alertou, no entanto, que é preciso ter agilidade para conseguir liberar o processo o mais rapidamente possível, se o País quiser contar com o empreendimento até os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio. "Para colocar o trem em operação nesta data, temos de receber os estudos de viabilidade este ano e começar a construção em 2011."
Mudanças no traçado. O coordenador-geral do projeto, Daniel Sunduck Suh, destacou que o grupo, que tem total apoio do governo coreano, trabalha com algumas alternativas de mudanças no traçado do TAV para reduzir o custo e melhorar a rentabilidade do projeto. "Mas tudo vai depender das determinações do governo no edital. Se puder, podemos mexer até no número de estações, preservando aquelas estações mandatórias."
A comitiva deve participar hoje de reuniões em Brasília, com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a estatal Valec e o Ministério dos Transportes.
Os representantes não adiantaram qual a pauta, mas esperam alguma sinalização do governo em relação aos principais riscos do empreendimento, como a questão ambiental e as desapropriações. Na avaliação dos coreanos, se não forem bem definidos, os dois pontos podem atrapalhar o cronograma do projeto.
PARA LEMBRAR
Além dos coreanos, os chineses também devem entrar na disputa pelo Trem de Alta Velocidade (TAV), entre Rio, São Paulo e Campinas. Há ainda expectativa de ofertas por parte de japoneses, franceses e alemães. Mas, até agora, são asiáticos que tem demonstrado maior apetite pelo projeto. Diante da possível disputa, o governo brasileiro corre contra o tempo para tentar realizar logo o leilão de concessão. Como é um ano eleitoral, há prazos para assinatura de contratos. A ideia é fazer a disputa até julho para não correr o risco de deixar o processo para o próximo governo, que pode encostar o projeto. O edital está em análise no Tribunal de Contas da União (TCU).