Conab minimiza ameaças de produtores de grãos 05/05/2006
- Valor Econômico
A Conab parece não levar muito a sério as ameaças feitas por lideranças do setor rural de reduzir em até 30% a área plantada com grãos, fibras e cereais na próxima safra, que começa em julho.
¨Se falassem em reduzir 5% ou 10%, tudo bem. Mais do que isso é luta política¨, afirmou ao jornal ¨Valor Econômico¨ o diretor de Logística da Conab, Silvio Porto.
Os protestos ruralistas, que começaram em Mato Grosso e espalham-se pelos principais pólos agrícolas do país, são encarados com restrições. ´O câmbio não está ótimo. Mas se atrapalha nas exportações, ajuda a reduzir custos de produção para a próxima safra´, observou o presidente da Conab, Jacinto Ferreira. ´Não está tudo bem no campo, mas não avalizo uma queda de 30%´.
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Os protesto ruralistas buscam a renegociação total das dívidas com vencimento até dezembro por 10 anos e com dois de carência; moratória de 180 dias com bancos e credores privados; taxa de câmbio ´especial´ na exportação; garantia dos preços mínimos; e ampliação do seguro rural. Ferreira anunciou que a Conab usará até R$ 600 milhões para sustentar as cotações agrícolas de arroz, feijão e milho - R$ 150 milhões neste mês.
Em meio à insatisfação no campo, a Conab confirmou ontem a terceira redução consecutiva em suas estimativas para a atual safra 2005/06, que termina em junho. Pela nova previsão, devem ser colhidas 121,07 milhões de toneladas. O desempenho significará uma perda de 2,115 milhões de toneladas em relação ao primeiro levantamento, anunciado em outubro de 2005 pela Conab como ¨recorde histórico¨. Na safra passada, afetada por rigorosa estiagem, o volume bateu em 113,89 milhões de toneladas. O recorde continua a ser a colheita de 123,2 milhões de toneladas na temporada 2002/03.
A frustração com a colheita total de grãos, fibras e cereais nesta safra pode ser ainda maior, segundo o gerente de Avaliação de Safras da Conab, Eledon Pereira de Oliveira. ¨Estamos preocupados com os efeitos das geadas do Sul nas lavouras de milho e trigo. E o excesso de chuvas em Mato Grosso pode complicar a qualidade da soja¨, disse.
A soja, aliás, é o melhor termômetro para avaliar a trajetória descendente da produção brasileira. Em outubro, estimava-se a colheita de 57,63 milhões de toneladas. Em seguida, a Conab previu 57,94 milhões. Depois, em janeiro, voltou a arriscar 58,17 milhões. Em março, ajustou para 57,2 milhões e, em abril, recuou a previsão para 55,7 milhões de toneladas. Ontem, a Conab reviu a projeção para 55,23 milhões de toneladas. Ou seja, as perdas sobre a previsão inicial já somam 2,4 milhões de toneladas desde outubro de 2005.
A produção de algodão e arroz acompanha a redução da soja, carro-chefe da produção nacional. Na fibra, haverá um recuo de 17,6% na produção, para 1,07 milhão de toneladas. No cereal, a queda chegará a 11,3%, para 11,74 milhões de toneladas. Nos dois casos, será necessário usar os estoques oficiais do produto e aumentar as compras externas para garantir o abastecimento interno. Pelos dados da Conab, haverá crescimento expressivo na produção de milho (16%), milho safrinha (18,9%), feijão da primeira safra (3,1%) e feijão da terceira safra (39,4%).