Índios trocam reféns por gerentes da usina invadida 26/07/2010
- Ricardo Valota e Vannildo Mendes - Agência Estado
Os cerca de 250 índios que mantinham reféns 280 funcionários do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Dardanelos, em Aripuanã (MT), no noroeste mato-grossense, a 1.050 quilômetros de Cuiabá, aceitaram, na noite de ontem, trocar todos os reféns por seis engenheiros e gerentes de setor, que se ofereceram para ficar no lugar dos trabalhadores braçais.
¨ O clima está tranquilo no local. Inclusive já retiramos as nossas viaturas e voltaremos para a usina por volta das oito horas da manhã de hoje. Os reféns estão no pátio, onde ficam o alojamento, o refeitório, a farmácia etc ¨, afirmou o capital Sebastião Taques do Espírito Santo, comandante da Companhia Independente da Polícia Militar de Aripuanã.
Ainda segundo o oficial da PM, está prevista para a manhã de hoje uma reunião entre os indígenas e uma comissão, formada por representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e agentes da Polícia Federal. O policial afirma que os 10 milhões de reais noticiados pela imprensa como sendo a reivindicação dos indígenas não partiu de nenhum dos que invadiram a hidrelétrica.
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Pintados para a guerra e armados com flechas e tacapes, índios de onze etnias invadiram ontem o canteiro de construção da usina hidrelétrica de Dardanelos, no Mato Grosso, e tomaram os operários como reféns. Eles querem receber uma compensação financeira de R$ 10 milhões pela inundação de áreas indígenas e a interrupção dos projetos de expansão da produção energética por meio de pequenas centrais (PCHs) previstas ao longo do rio Juruena, que corta as reservas.
Por determinação do Ministério da Justiça, uma comissão, integrada por representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Polícia Federal se deslocará hoje para Aripuanã, norte do Mato Grosso, a cerca de mil quilômetros de Cuiabá, onde fica a sede da hidrelétrica invadida, para negociar a solução do impasse. Os controladores do empreendimento também entram hoje com pedido de reintegração de posse.
A tomada da hidrelétrica foi feita pela manhã por cerca de 300 guerreiros, liderados por caciques das etnias Arara e Cinta Larga, conhecidas pela valentia. Os cintas largas procedem da mesma região de Rondônia, a Reserva Roosevelt onde, em 2004, foram massacrados 29 garimpeiros num garimpo de diamantes. Os primeiros relatos da invasão são imprecisos, mas não há registro de mortos ou de confronto entre índios e operários, que receberam os invasores sem resistência. Eles foram levados para um barracão na construção.
Maior hidrelétrica de Mato Grosso, Dardanelos vai integrar ao Sistema Nacional de 36 cidades atendidas por termelétricas na região. A usina é uma das duas que tiveram construção autorizadas último no leilão de energia nova promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).