Chávez pede que Farc libertem reféns em sinal de paz a Santos 08/08/2010
- Folha Online
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, parece disposto a oferecer ao seu novo colega colombiano, Juan Manuel Santos, uma nova relação diplomática e aconselhou neste domingo as guerrilhas colombianas a libertar todos os reféns.
Chávez rompeu relações diplomáticas com o governo colombiano, ainda sob Alvaro Uribe, em 22 de julho passado, ao ser acusado perante à OEA (Organização dos Estados Americanos) de abrigar ao menos 1.500 guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) em território venezuelano.
Neste sábado, horas após a posse de Santos em Bogotá, Chávez deu uma série de declarações de que está disposto a retomar os laços diplomáticos e convidou o novo colega para um encontro cara a cara.
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"Essa guerrilha deveria se manifestar pela paz, mas com manifestações contundentes. Por exemplo, poderiam libertar todos os reféns. Porque uma guerrilha vai ter reféns?", questionou Chávez, em seu programa de rádio e TV "Aló Presidente".
"Creio que estamos num novo momento de busca da paz. Digo a vocês, assim como o governo da Colômbia propõe o caminho da paz, a guerrilha também (...) deve fazê-lo", acrescentou o presidente.
A guerrilha colombiana das Farc completou 46 anos em maio está em seu pior momento militar, obrigada a recorrer a uma estratégia de pequenos golpes, emboscadas e atentados para manter viva o que chama de "a guerra negada pelo governo para não reconhecer o caráter político da insurgência".
Enfraquecida após a morte, em 2008, de três dos sete membros de seu comando central - o chamado Secretariado, as Farc, que surgiram em 1964 de um movimento de resistência na região de Marquetalia para reivindicar o direito dos camponeses à terra, estão longe de desaparecer.
Com um contingente estimado entre 6.000 e 7.000 homens, contra os 20 mil de oito anos atrás, as Farc mantêm presença em zonas de plantação de coca, da qual obtêm entre US$ 400 e 600 milhões por ano, segundo o Ministério colombiano da Defesa do governo anterior.
Chávez disse ainda esperar que a confiança nas relações bilaterais com a Colômbia comece a ser reconstruída com a chegada ao poder de Santos.
"Esperamos que eles começam a reconstruir o que o governo cessante da Colômbia destruiu, pulverizou: a confiança", disse Chávez.
Chávez já havia feito o convite a um diálogo a Santos na noite deste sábado, poucas horas depois do colombiano tomar posse com discurso de paz e retomada com Caracas.
Os chanceleres da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Colômbia, María Ángela Holguín, se reúnem neste domingo para discutir a crise diplomática entre os dois países.
Chávez ordenou a Maduro que expresse a Holguín seu desejo de se reunir "cara a cara" com Santos em Caracas ou em Bogotá. "Se ele (Santos) não puder vir nos próximos três ou quatro dias, eu estaria disposto a ir a uma reunião na Colômbia", completou.
APAZIGUADO
O encontro de chanceleres acontece no primeiro dia após a posse de Santos, o passo que não só os dois países, como seus vizinhos, incluindo o Brasil, esperavam para apaziguar os ânimos e avançar na mediação.
Santos discursou pela primeira vez como presidente neste sábado, após sua posse, e discursou como esperado, preenchendo as expectativas de que seu governo buscará uma saída diplomática para a crise com a Venezuela.
Sem citá-lo, convocou Chávez, para um diálogo direto, sem mediações, e "o mais rápido possível". "Antes de soldado, fui diplomata", disse o 59º presidente do país, e o segundo integrante da tradicional família Santos a ocupar o cargo.
O novo presidente afirmou que é um "propósito fundamental" de seu governo reconstruir os elos com Caracas.
O rompimento diplomático das relações foi feito por Chávez no último dia 22 de julho, horas depois da Colômbia do então presidente Alvaro Uribe levar à OEA (Organização dos Estados Americanos) a denuncia de que há ao menos 1.500 guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) em território venezuelano.
"A palavra guerra não está no meu dicionário. Quem fala de guerra nunca teve de mandar seus soldados a uma de verdade", afirmou Santos, se afastando quilômetros do tom duro utilizado por Uribe, de quem, contudo, herdou os votos em sua eleição.
Para uma certa decepção de vários dos líderes regionais presentes, que passaram as últimas semanas oferecendo-se para mediar a crise, Santos foi categórico ao dizer que prefere o diálogo direto. "E que o diálogo ocorra o antes possível, que seja um diálogo com respeito, e de firmeza contra a criminalidade", complementou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, secretário-geral da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), buscam promover, com o aval de Chávez, a retomada dos vínculos com o novo governo da Colômbia. Antes da cerimônia deste sábado, afirmava-se que o brasileiro levaria uma proposta do venezuelano a Santos.