BB quer ampliar uso de instrumentos do mercado financeiro por produtor rural 24/08/2010
- Thaís Bilenki - Folha Online
O Banco do Brasil projeta aumentar o uso de instrumentos financeiros por agricultores, como forma de proteção contra variações de preço de seus produtos.
O caminho será ampliar a oferta das chamadas "opções de venda" para os produtores rurais. Trata-se de um complexo instrumento financeiro, usualmente negociado na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
A opção funciona como uma espécie de "seguro" ao agricultor, ao permitir que ele trave o preço de sua mercadoria, mediante o pagamento de um prêmio.
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Em sentido estrito, o produtor adquire um direito de vender seu produto por um determinado valor para uma contraparte (que contrai uma obrigação). Esse direito deve ser exercido num prazo determinado, caso contrário "vira pó", no jargão de mercado.
O risco embutido nessa operação é que, caso o preço à vista seja mais vantajoso na data em que a opção expira, o agricultor "perde" o prêmio (já que é melhor negócio não exercer a opção, mas sim, vender seu produto no mercado à vista).
DIFICULDADES.
O BB reconhece a dificuldade que o uso desse instrumento poderá implicar para os pequenos agricultores, mas a defende como forma de descentralizar o agronegócio brasileiro.
Segundo o banco, a opção de venda que trava o preço da mercadoria deverá ter um salto de 0,8% para 9,9% do montante total de custeio da produção agrícola. Segundo projeção da área de agronegócios do banco, o valor pode atingir R$ 1,1 bilhão na safra 2010/2011, já em curso.
"Pretendemos avançar nesse ano um pouco mais na proteção do preço. Devemos caminhar na direção de que os produtores incluam nos seus financiamentos a proteção do mercado futuro", diz Luis Carlos Guedes Pinto, vice-presidente de agronegócios do BB.
A defesa de Pinto do mercado futuro decorre da percepção de que o país "caminha na direção da concentração da produção, o que não é salutar". "Temos que fazer revisão dos atuais mecanismos de redução de preço", diz ele.
Na avaliação de José Carlos Vaz, diretor de agronegócios do banco, "é preciso que os outros bancos ofereçam [opção de venda] e que os produtores se habituem a usá-la. Massivamente, apenas o BB oferece o crédito".
Segundo o BB, agências em mais de 4 mil municípios no Brasil oferecem financiamentos rurais e mil funcionários foram orientados a assessorar o agricultor.
A opção de venda "dá garantias na Bolsa que [diferenças do valor real e o estimado] podem ser creditadas ou debitadas em função do mercado. Para operar mercado futuro, tem que ter um mínimo de informação e disponibilidade de tomar decisão", diz Vaz.
Na sua avaliação, os pequenos produtores não têm condição, porque se ocupam em tempo integral de suas atividades. Os grandes produtores, diz, têm mais estrutura e conseguem operar no mercado. O governo tem um programa, mais padronizado, para os pequenos produtores, afirma.
SEGURO AGRÍCOLA
"Ao em vez de proteger contra o preço, o seguro agrícola protege contra intempéries climáticas", explica Márcio Montella, secretário-executivo de agronegócios do BB.
Operada há mais de dez anos, essa modalidade de seguro tem foco atual em soja e milho. Na última safra (2009/2010), o BB destinou R$ 4,5 bilhões ao programa Seguro Agrícola, segundo documento divulgado nessa terça-feira pela instituição. Quantia idêntica abasteceu o Proagro, que assegura operações de até R$ 200 mil.
O total de R$ 9 bilhões em seguros agrícolas corresponde a 60% do custeio agrícola da última safra. Para a próxima, o BB anunciou que o preço do seguro será subvencionado, gerando redução do custo final ao produtor de 50% para culturas como soja e milho, e 70% para trigo e milho safrinha.