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POEMAS & SONETOS
Cuiabanália - Êta cidade canalha!
10/11/2007
- Ronaldo de Castro*
Ah! cuiabanália...
Cidade intoxicada do bagaço
tecnotrônico
estereofônico
biônico
supersônico
agônico
ATÔMICO
Onde o viver canônico
à sombra cheirosa dos quintais em flor?
Narcotizou-se o amor?
Ah! cuiabanália...
Agora, espigões, néon,
excesso de decibéis,
jeans, gatonas, trepadas
no lombo rouco das motos,
superlotando os motéis.
Só há rock, drive-in,
lanchonete, pizzaria
e o terror dos quartéis.
Onde a boa putaria?
(O bom era o Beco do Candieiro
a desembocar no Bar Colorido,
com o beijo disputado na valentia)
Ah! cuiabanália...
Pobre não mora, formiga
nas favelas do BNH.
Rico vira executivo
e coça no CPA.
Onde a Cuiabá telúrica
parindo a raça viril
emprenhada por Sutil?
Ah! Cuiabá canalha
-- c u i a b a n á l i a --
cortesã das multinacionais
com seu arsenal eletrônico
agônico
estereofônico
biônico
supersônico
ATÔMICO
Ah! cuiabanália...
Onde a Cuiabá pudenda
das igrejas, candomblés
e dos pios cabarés?
Já não há virgens postiças
nas escolas enfermiças.
A boêmia e seus vícios,
seus bêbados vitalícios.
Prostitutas sacrossantas
pelas ruas não há tantas.
Só há tóxico e frescura
poluindo a noite pura.
Ah! cuiabanália...
Êta cidade canalha!
Cuiabá metálica
neurótica
caótica
virótica
semi-ótica
estroboscópica
Cuiabá feia e fétida
esfingética
hermética
cibernética
Cuiabá caquética
Ah! cuiabanália...
Onde a Cuiabá erudita
doce e mansa
culta e santa
Cuiabá romântica
semântica
dos artistas e poetas?
Onde a barroca matriz,
o coreto e o chafariz?
Ah! cuiabanália...
Cuiabá morreu e
vou para San Sebástian
-- fronteira do México com o Nepal --
que tenho porre marcado
com Rimbaud, Chopin, Van Gogh
e São Francisco de Assis
(Cuiabá não é mais feliz)
...
*Ronaldo Arruda Castro -- (1941-2001) -- foi jornalista, poeta, membro da Academia Mato-grossense de Letras e companheiro de jornada aqui no Saite Bão, entre tantas outras trincheiras.
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