O bom jornalismo é o que veicula informação de qualidade, caracterizada não só pela objetividade em si, mas pela busca, apreensão e divulgação da verdade oculta atrás do fato objetivo.
A partidarização política da notícia só é admissível, mas não palatável, em órgão informacional de partido político. A isenção político-partidária é exigência fundamental à informação de qualidade.
O pluralismo tão em moda é recomendável e necessário, dando-se espaço às partes. Mas só a opinião é pluralista, não a informação. O pluralismo representa iniciativa salutar no processo de democratização do jornalismo, mas não é jornalismo e a informação não é democrática nem autoritária -- é verdadeira ou falsa. Inexiste posição intermediária entre a verdade e a mentira. A informação é ou não é.
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Existe a informação objetiva e a objetividade pura, absoluta só é difícil, não impossível. Depende de trabalho e talento.
O bom jornalismo é o destituído por completo de preconceitos e juízos apriorísticos. Há que estar sempre atento á verdade, que pode ser boa ou má, gratificante ou dolorosa. A verdade existe em si, independente do jornalismo, que pode (e deve) apenas veiculá-la.
O bom jornalismo se documenta para informar. Especialmente para denunciar.
O bom jornalismo não vive apenas da verdade factual. Pode e deve ter opinião, aqui entendida como a visão subjetiva do jornalismo. Para tanto existem os editoriais e matérias assinadas.
A simples notícia não deve ser assinada, já que não comporta subjetividade, ou seja, a opinião pessoal e/ou da instituição jornalística.
A maior qualidade do bom jornalista é a desconfiança quanto a si mesmo, é o autopoliciamento (não confundir com autocensura), procurando evitar a inoculação de sua opinião pessoal na informação.
O bom jornalismo é impermeável à covardia. Jornal é metralhadora impressa na luta das idéias universais, já que toda informação, na base, é ideológica. A verdade também. Até a não informação.
A informatização representa formidável recurso científico e tecnológico à disposição do jornalismo. Mas o jornalista jamais poderá cometer o crime de desprezar ou secundarizar o mais sofisticado equipamento existente: o cérebro humano. Pensar é preciso.
Jornal e jornalista não são noticia e a autopromoção, seja do órgão de publicação ou do profissional jornalista, é a mais condenável deformação da imprensa. Abastarda a instituição. É o antijornalismo com ranço de cretinice narcisística. Se o elogio já deprime, que jornal não existe para tal, o auto-elogio então é insuportável, causa urticária.
No bom jornalismo a forma ou apresentação, aqui compreendida como a solução visual emprestada ao veículo, só é importante na medida em que reveste um conteúdo de qualidade. Jornal, basicamente, é para ser lido, tem compromisso com o código sintático, e jornal bonito mas sem conteúdo (Ou de conteúdo ruim) é como fruto de casca atraente, mas podre por dentro. Ou como uma rosa que fede.
O lado melhor do bom jornalismo não é a informação, é a denúncia, num país em que a corrupção foi institucionalizada, virou caldo cultural.
A maior desgraça do jornalismo é o “press release”. A copidescagem é a maior chatice.
Nada mais asqueroso e inútil do que a famigerada Lei de Imprensa, instrumento fascista de intimidação e amordaçamento do jornalismo, que não merece respeito nenhum. Também já não vale mais nada, é excrescência jurídica diante da nova Constituição e o jornalismo de denúncia há que estar atento, apenas, para não resvalar ao fosso condenável da calúnia, da injúria e da difamação, o que aliás já é questão da competência do Código Penal.
O bom jornalismo não ameaça nem conversa. Executa sua missão.
O bom jornalismo não se faz na base da amizade ou da inimizade, mas com isenção, veiculando a informação verdadeira.
O bom jornalismo, no respeitante à abordagem crítica de assuntos e questões da administração pública, não deve partir do pressuposto de que toda autoridade é corrupta. Há nobilitantes exceções.
A imprensa do país, que experimentou avanço vertiginoso em termos de modernização da produção industrial, sofre perda gradativa de qualidade jornalística na medida em que vem transformando o profissional jornalista em mero entrevistador, menosprezando a investigação, a pesquisa, a reportagem, notadamente a chamada grande reportagem. O bom repórter, que fuça, escarafuncha, desencava o “furo”, disseca e esgota o tema (ou a pauta), esse a peça fundamental na estrutura de todo bom jornal. Todo o poder ao bom repórter, que sempre será mais importante que o editor, o editorialista, o dono do jornal.
RONALDO CASTRO -- MARCOS ANTONIO MOREIRA -- J. MAIA DE ANDRADE
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*Manifesto publicado na primeira edição do jornal "Correio da Semana".