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TÁ LIGADO?
Eyephone
05/07/2010
Uma lente de US$ 1 que, ligada a um smartphone qualquer, faz complexos exames de vista em menos de dois minutos – e sem a necessidade da presença de um médico especializado. Ao final do teste, um aplicativo mostra o seu problema na tela do celular.
Foi essa a invenção que garantiu ao estudante brasileiro Vitor Pamplona (foto) o segundo lugar no MIT Ideas, uma competição de ideias inovadoras para o serviço público. “Você consegue fazer o teste sozinho. Ele detecta miopia, hipermetropia e astigmatismo”, explica, em entrevista ao Link.
Cursando o doutorado em computação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Vitor Pamplona é desde outubro um dos pesquisadores visitantes do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Um mês depois de sua chegada, começou o projeto da Netra (ou EyePhone, como a revista Fast Company apelidou a lente). A ideia era fabricar um equipamento oftalmológico com materiais acessíveis para todos.
Para desenvolvê-lo, ele contou com a ajuda de seu orientador, o professor Manuel de Oliveira, e também com sugestões de Ankit Mohan e Ramesh Raskar, acadêmicos do MIT. Já em janeiro deste ano, os primeiros testes já haviam sido finalizados e o projeto aceito para a Siggraph, a maior conferência do mundo de computação gráfica.
No programa usado com o equipamento, o usuário vê duas linhas: uma vermelha e uma verde. No atual protótipo, elas são projetadas em diferentes ângulos e a tarefa do paciente é movê-las, com os botões do smartphone, até que se sobreponham. Se o usuário possuir uma visão perfeita, as linhas já estarão sobrepostas e ele não precisará fazer nada. Em casos de miopia, astigmatismo ou hipermetropia, elas estarão separadas – e cabe ao software identificar o problema e quantos graus o óculos terá.
Como a Netra é um dispositivo médico, é necessário fazer uma série de testes e obter certificados internacionais para que possa começar a ser comercializada. “Os próximos passos são os testes clínicos lado a lado com os equipamentos oftalmológicos profissionais. Para nós, é muito mais importante mapear os casos de falha do que os de sucesso”, diz o catarinense.
O inventor conta que o seu fascínio pela área surgiu conforme se aprofundava no assunto. “Ao contrário do que se pensa popularmente, ainda há muito o que pesquisar no sistema visual. Como a minha formação é em computação, eu posso ajudar outros pesquisadores e profissionais criando novas tecnologias e melhores meios de extrair informações do corpo humano”.
Seu objetivo é levar a tecnologia para lugares onde a oftalmologia é cara, rara ou inexistente, como áreas pobres da África, da Índia e do Brasil. Nesses três lugares, celulares não faltam.
“Há boas propostas surgindo para a popularização da medicina. Palavras-chave como Saúde 2.0 e Medicina Participativa vieram para ficar”, acredita. O equipamento criado pela equipe tem justamente esse espírito: democratiza os exames, que podem ser feitos por um agente local ou pelo próprio paciente. Habitantes de pequenas cidades e vilarejos poderiam se tornar provedores de saúde, participando de alguns treinamentos.
Vitor não pensa em ocupar o lugar do oftalmologista, mas oferecer mais uma ferramenta para o trabalho deles em lugares em que não há equipamentos ou onde há poucos médicos. “Quero facilitar o acesso à informação médica para a população.”
“No passado, para tirar uma simples fotografia era necessário ir a um especialista treinado em operar um dispositivo caro, complexo e sensível. Hoje em dia, todos possuem uma câmera no bolso, mas a profissão de fotógrafo ainda existe e continua sendo lucrativa. Dá para fazer uma analogia. Daqui a cinquenta anos, grande parte dos testes talvez já possam ser feitos em casa e apenas a parte importante precisará do auxílio de especialistas”, diz.
Para popularizar sua invenção, ele e os outros desenvolvedores criaram a PerfectSight, o braço comercial do projeto, que pretende vender o dispositivo no mundo todo. “Podemos mudar a vida de muitas pessoas com um dispositivo barato assim.”
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Rafael Cabral - O Estado de S.Paulo
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