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TEMA LIVRE : Eduardo Mahon
Porre Ético
24/09/2007
Disse o deputado federal Paulo Bornhausen que a votação da CPMF foi um “topa tudo por dinheiro” na Câmara. Novidade alguma, na maré vermelha que afoga a política. Provavelmente, somente agora o público – incluindo a imprensa – está se dando conta que o petismo é um rebotalho das piores doutrinas políticas existentes: uma pitada de leninismo, outra de stalinismo, algumas gotas de maoísmo e, finalmente, o recorrente populismo sul-americano de esquerda. Esse governo nem é de esquerda, propriamente – não ter cor, não tem cheiro, não tem forma.
Como o partidão não tinha quadros suficientes para compor uma equipe de trabalho e nem sustentação parlamentar suficiente, utilizou-se do expediente de outros mandatários de cooptar deputados e senadores, lançando mão de fato pouco crível – uma mesada em espécie para que os caça-níqueis pudessem compor a base governamental. Ademais, devorando o profissionalismo, avançou como uma nuvem de gafanhotos menores nos cargos públicos de escalão inferior os sempre devotados funcionários públicos do aparelho partidário.
Ora, e qual é a revolução que o governo lulista trouxe? Se, de um lado, rebatizou um programa social tucano para transformá-lo numa subvenção que corrompe milhões de brasileiros esfarrapados – mensalidade eleitoral da fome – de outro, manteve os mesmos fundamentos econômicos tão criticados outrora, aprofundando os arrochos que eram objetos de acaloradas discussões. O nordestino que está sentado na maior cadeira da República trouxe consigo lições de coronelismo para a vida nacional. Noutras palavras, provou-se a farsa da oposição petista, ignorante no mister de governar, irresponsável no dever de fiscalizar, cúmplice na função de corromper.
Infelizmente, a massa proletária que está mantida no cabresto governamental da mesada prefere trocar dignidade por uma sacola de comida, com cinqüenta ou cem reais. Era de se esperar, entretanto, serem os formadores de opinião – compadres da esquerda por décadas – responsáveis pelo contundente combate ao populismo latino.
Não satisfeito em embolsar os miseráveis analfabetos e patrocinar orgias dos políticos em Brasília, por meio de lobistas dos mais rasteiros, agora o governo investe nos executivos, aviando soluções fantasiosas ou liberando verbas de modo a sufocar a oposição – também vendável. Nessa mercearia, salvam-se poucos congressistas coerentes como, em Mato Grosso, a deputada Thelma de Oliveira, única parlamentar a votar contra a prorrogação do imposto que subsidia a esmola governamental.
Finalmente, antigas suspeitas de compras de parlamentares ou cooptação por meio da liberação de emendas ao orçamento, denunciadas no governo anterior com veemência pelos atuais mandatários, são confirmadas ao ponto de pregar a expressão “topa tudo por dinheiro”, em escambos de votos e emendas. É óbvio ser esta um ruminado mecanismo de barganha, surpreendentemente alçado à condição de imprescindível para manterem sedados os pudores públicos dos parlamentares.
Não há o que se fazer que não seja o protesto. Evidentemente, não cabe requerer o afastamento do chefe da quadrilha, posto que sem o bando, fecha-se o Congresso, mal maior. Na era Collor, o Presidente da República pôde ser afastado, porque o Congresso não estava todo comprometido.
Portanto, aturar a legislatura anterior – a pior da trajetória nacional – assim como o governo reconduzido à custa de corrupção, é um fardo democrático que precisamos observar. Não sem denunciar, é bem verdade. O país não merecia esse retrocesso e paga um preço triste por ceder ao apelo publicitário do salvacionismo vermelho. Era uma doce ilusão adolescente que não poderíamos ter acalentado na maturidade.
Daí não restarem outras conclusões que não admitir estar o Brasil de porre ético. Dos altos graus etílicos de onde somos governados de forma bêbada, as pernas do Congresso Nacional já trançam com as do governo federal. Sem a corrupção que é o álcool governamental, no Senado já se sente os tremores delirantes da abstinência que também poderá ser chamada de obstrução. E, face aos surtos de lucidez de alguns e torpor alcoólatra da maioria, resta saber se, tal qual o porre da cachaça tão festejada pelo Presidente, o povo brasileiro vai amanhecer com uma ressaca tal que fique de cama nos próximos anos.
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Eduardo Mahon é advogado em MT e Brasília
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