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Rondon, exemplo de vida
05/10/2007- Almir Pazzianotto Pinto*

Encontra-se à venda biografia de Cândido Mariano da Silva Rondon, do brasilianista Todd A. Diacon. Trata-se de obra recomendável a estudantes em geral e a todas as pessoas que se entretêm com os devaneios insossos de Paulo Coelho ou livros de endeusamento de Guevara.

O Dicionário Histórico-Biográfico, editado pela FGV, é magnífica fonte de informações acerca desse extraordinário oficial superior das Forças Armadas. Também o é o clássico Rondônia, de Roquette Pinto. Nascido em 1865, em Mimoso ( MT), Rondon não conheceu o pai, Cândido Mariano da Silva, falecido em 1864, vítima de varíola, e, com 2 anos, perdeu a mãe, Claudina Lucas Evangelista, índia descendente de terenas e bororos. Passou, desde então, a viver sob os cuidados do tio Mariano da Silva Rondon, em Cuiabá, e em homenagem a ele adotou o nome Rondon.

Em 1879, após concluir a escola normal, Rondon foi nomeado professor primário, mas desistiu do magistério em 1881, e se alistou no Exército como voluntário. No mesmo ano transferiu-se para o Rio de Janeiro, para servir no 2º Regimento de Artilharia de Campanha, e, em 1884, matriculou-se na Escola Militar. Em março de 1889 ingressou na Escola Superior de Guerra e, em 15 de novembro, participou, sob as ordens de Benjamim Constant, do movimento que implantou a República. Em dezembro de 1889 recebeu o título de engenheiro militar e bacharel em Matemática e Ciências Físicas e foi promovido, sucessivamente, a alferes e segundo-tenente.

Aquilo que para as pessoas comuns seria o capítulo inicial de monótono viver burocrático para Rondon se constituiu no primeiro degrau de longa carreira de dedicação exclusiva à Pátria.

É impossível sintetizar os feitos de Rondon, cuja primeira missão, em 1890, consistiu em integrar comissão construtora de 580 quilômetros de telégrafo, entre Cuiabá e a margem esquerda do Araguaia, na divisa com Goiás. A última, aos 74 anos, a de presidir o Conselho Nacional de Proteção aos Índios, criado por Getúlio Vargas em 1939. Entre as tarefas levadas a cabo pelo insigne militar, sobressaem a implantação de 1.746 quilômetros de linhas destinadas a assegurar a ligação telegráfica entre o Rio de Janeiro, Corumbá, Coimbra e Porto Murtinho, na fronteira com o Paraguai, empreitada que consumiu seis anos, e a extensão das linhas de Cuiabá a Santo Antônio do Madeira, hoje Porto Velho, capital de Rondônia. Não pode ser ignorada a designação que recebeu do ministro das Relações Exteriores Lauro Müller para guiar e garantir a segurança de tresloucada expedição organizada pelo ex-presidente americano Theodore Roosevelt, seu filho Kermit e equipe de naturalistas, pela região amazônica, numa viagem iniciada em janeiro de 1914 em Tapirapuã (MT) e concluída, após 60 dias e 640 quilômetros, em Manaus. Rondon valeu-se da oportunidade para localizar a nascente do Rio da Dúvida, afluente do Madeira, rebatizado com o nome de Roosevelt.

Rondon passou para a reserva em 1930, como general-de-divisão, patente recebida em 1923, e foi promovido a marechal em 1955, por decisão do Congresso Nacional. Faleceu no Rio de Janeiro em 1958, aos 91 anos.

O que teria levado esse herói brasileiro e latino-americano a entregar-se a uma existência de trabalhos, de ataques de malária e de outras formas de padecimento? Entre 1890 e 1940 Rondon outra coisa não fez senão servir ao País, não obstante lhe pesasse a ausência da família, renunciando ao conforto da capital da República e de outros centros urbanos. Não, certamente, o minguado soldo pago pelo governo aos integrantes das Forças Armadas. Não deve ter sido, também, a esperança de reconhecimento, tanto que em 1930, com 65 anos e general-de-divisão, foi preso em Porto Alegre pelo general Miguel Costa por ter-se recusado a combater o governo Washington Luís. Pouco depois recebeu duras e injustas críticas de Juarez Távora, que o acusou de construir linhas telegráficas para diversão dos indígenas. A única explicação está no amor ao Exército, no sentimento de patriotismo, que lhe indicavam a necessidade de contribuir para a preservação da unidade nacional, e na inexcedível consciência das responsabilidades. Rondon marchou com os comandados, a cavalo ou a pé, ou em carro de bois, mais do que qualquer outro grande andarilho, a exemplo de Napoleão Bonaparte.

Os escândalos que já de há algum tempo comprometem altos representantes do Executivo, do Legislativo e não poupam sequer membros do sisudo Judiciário traduzem a decadência da classe política, dos partidos de aluguel, dos sindicatos pelegos, em cabal demonstração de como estão esquecidos e desvalorizados os paradigmas de amor à Pátria.

Ouso acreditar que a transferência da capital da República para Brasília divorciou a representação política do povo, fê-la ignorar as diferenças em que está dividido o País, gerou a crença na impunidade e impulsionou a formação de estratos burocráticos superiores, aquinhoados com benefícios desconhecidos daqueles que trabalham, produzem e pagam os mais elevados impostos de que jamais houve conhecimento.

Brasília converteu-se na imagem surrealista de país imensamente pobre, cujos governantes insistem em ser perdulários e administrá-lo como se rico fosse. Basta compararmos a Praça dos Três Poderes, os imponentes palácios projetados por Niemeyer, o que é gasto com gigantesco corpo de servidores, em grande parte desnecessários, com o entorno faminto, sofrido, violento e abandonado, tal e qual as favelas do Rio, São Paulo ou do Haiti.

Rondon dedicou a vida por um Brasil melhor, mais honesto, ético e justo. Nutro, apesar de tudo ao que assisto, esperanças de que não se tenha sacrificado em vão.

...

*Almir Pazzianotto Pinto, advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho



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