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TEMA LIVRE : João Vieira
Reparador silêncio de Pirenópolis
07/10/2007
Verdadeiramente fenomenal – os 3 dias silenciosos (por semana) e de sadia solidão de Pirenópolis. Penso que só aqui em particular ou n`algum outro paraíso ecológico e pólo turístico do Brasil e do mundo, tem essa ventura, ou característica existencial: bonança de paz e tranqüilidade depois de uma ruidosa avalanche de visitantes.
É do conhecimento comum que Nova York, a megalópole do mundo, nunca dorme e São Paulo, no Brasil, não pára jamais! Agora sei, entretanto, que não vai nisso nenhuma vantagem. Bom mesmo é Pirenópolis que ao começar a semana, o faz mergulhada na pachorra de cidade interiorana, com a tranqüilidade silente, ou a calma civilizante de que todo lugar, com sua sociedade e seus cidadãos, precisariam ter ou gozar, ou então fruir como um lenitivo das labutas – brutas às vezes – na forma de um direito. Inalienável!
Já nos fins de semana e feriados (especialmente feriadões) de dias mortos – em verdade vivos (vivíssimos), por motivo de sua significação mítico-simbólica, seja ela de fundamento religioso ou motivação cívica, Pirenópolis se engalana para receber a vaga de forasteiros, originária, sobretudo, dos três pólos urbano-metropolitanos próximos, que são Brasília, Goiânia e Anápolis; e mais muita gente das diversas regiões do País e desse Mundo de meu Deus!
Aí então o que vigora é a agitação, o som alto, o frenesi que eletriza a cidade por inteiro, embora possam ser vistas filas comportadas nos bares/restaurantes e portarias de hospedarias à espera de um atendimento. Igualmente quantidade inusitada de fregueses de lojinhas ou exposições de quinquilharias, balangandãs e congêneres de que tanto gosta a leva viajeira do lazer e do turismo.
É certo que o poder público dá uma mãozinha inventando eventos ou promoções de oportunidade. Assim foi, por exemplo, com o 8º Canto da Primavera, versão 2007, que acabamos de presenciar e curtir -- quer dizer, viver a “muvuca” em todo o seu frenesi ordenado/desordenado da gente (jovem) invariavelmente barulhenta... Muito barulhenta acentue-se! Corrija-se, porém: muito do barulhão se deve aos carros sonorizados do tipo “eu cheguei” ou “olha eu aqui”... E que são geralmente guiados por um condutor solitário, isoladão, com possível e crônico problema de relacionamento social – quem sabe – desilusão amorosa.
Mas não fica nisso: de quebra há a questão das motos de cano-de-escape aberto, por si mesmas famigeradas!
Mas há os providenciais três ou quatro dias consecutivos de silencio reparador; uma “calmaria depois da tempestade”; ou recesso (cristão) do lar e da comunidade em si, que antes se beneficiara da recarregagem das baterias no geral e abstrato; e também no concreto ou objetivo – quer dizer – as “bolsas” que ficaram abastecidas, recheadas, para que se possa continuar vivendo uma digna e até boa-vida --- a vida dessa privilegiada comunidade de Pirenópolis, pólo do Turismo Ecológico e Histórico-Cultural, Goiano. E onde efetivamente corre dinheiro...
Como conclusão e também provocação de inveja a muitas cidades por onde andamos praticando, sempre, vida comum, mas vivificada pelo senso de observação do escriba, deixo consignado que aqui em Pirenópolis não é não, fatalmente arriscado deixar portas e janelas abertas ou coisa assim como esquecer, do lado de fora da casa, uma bicicleta – que normalmente fica lá mesmo, ou seja, não é roubada! Sobre essa questão, tivemos o cuidado de ouvir agentes de segurança local, especialmente a doutora Delegada do posto policial, principal, da cidade.
Há, sim, problemas – de longe amenizados ou diminutos se comparados com os de muitas localidades – grandes ou pequenas – desse País que se urbanizara sem se des-ruralizar, ou seja, que entrou em a-n-o-m-i-a, ou limbo, isto é, a ausência de padrão e de identidade! Basta ver nas massas urbanas de ideário, gosto ou preferência (musical, culinária, relacional, estética) visceralmente sertanejos. E o pior: preparo escolar precário ou limitado dos requisitados pelas lides sertanejas antigas e/ou tradicionais...
Este é o nosso juízo, de primeiro achego, mas pretendemos retornar ao assunto.
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João Vieira, sociólogo, dirigiu o Museu Rondon da Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: joaovieira01@pop.com.br
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