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TEMA LIVRE : Sérgio Rubens da Silva
O mérito de ¨Tropa de Elite¨
23/10/2007
É o assunto da moda, apaixonante, uns amam outros odeiam, mas é a mais pura realidade. Graças que essa situação ainda não chegou a Cuiabá, mas pode chegar se não houver uma integração das autoridades constituídas e sociedade civil em um interesse único. Quem já esteve do ¨lado bom¨, vai entender o que se passa...
O maior mérito do filme Tropa de Elite, do diretor José Padilha, em exibição nos cinemas, é o de fugir do maniqueísmo que cerca a discussão sobre a violência e os meios de combatê-la. Longe de endossar os abusos policiais, Padilha retrata a crueza com que se dá o combate entre os que representam o interesse da sociedade, e que nem sempre o fazem dentro da estrita legalidade, e o banditismo alimentado pela pobreza e pelo tráfico de drogas.
Muitos se insurgiram contra a opção de Padilha por escolher como protagonista um capitão do Bope carioca, (poderia ter sido um policial qualquer) grupo da Polícia Militar treinado para combate e tido como implacável, difícil de corromper e pouco afeito a ¨filigranas¨ legalistas. Em poucas palavras, é um grupo que quando vai para o enfrentamento, vai para matar.
A imagem das polícias brasileiras nunca foi boa. A nossa, da qual tive o prazer de participar, também não era. Elas sempre foram usadas para sustentar um status quo injusto, em que a violência contra os mais fracos sempre imperou. Durante as mais de duas décadas de ditadura militar, dos anos 60 aos 80, elas foram os mais perversos braços da repressão política. Até pouco tempo, a prática da tortura era comum em delegacias e quartéis, uma infâmia que ainda não foi totalmente erradicada, apesar dos avanços.
Mas esse histórico não é imutável. Na verdade, a violência social e a criminalidade só serão controladas com uma polícia que conte com o respeito e a confiança da população e o apoio irrestrito dos nossos governantes . Para isto, é preciso primeiro compreender que o policial é mais vítima de uma conjuntura perversa do que a sua causa.
Tropa de Elite mostra um policial acuado entre um trabalho sujo, desumano, mal remunerado e absurdamente arriscado, e uma vida normal, dedicada à família, a que todo cidadão deveria ter direito, sobretudo alguém que dispõe a sua vida para defender uma sociedade que se pretende civilizada. Os métodos violentos do capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, são os de um soldado em meio a uma guerra, sujeito a levar uma bala na testa e não retornar para casa. Apesar de o filme ser uma obra de ficção, esta é uma situação real, perigosa e de grande complexidade , amplamente comprovado pelos últimos acontecimentos desta semana passada no mesmo Rio de Janeiro, onde um policial foi morto e um delegado foi seriamente ferido.
A violência urbana no Brasil não será resolvida de uma só forma. Profundas ações sociais e pesados investimentos em educação são indispensáveis. Mas também é fundamental um posicionamento claro da sociedade em relação à polícia, oferecendo a ela condições de trabalho, justa remuneração, treinamento e reconhecimento do seu difícil papel. E uma sólida repulsa a toda forma de desrespeito aos direitos individuais e à paz social.
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*Sérgio Rubens da Silva é o xerife do Saite Bão no Litoral de São Paulo e adjacências
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