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TEMA LIVRE : João Vieira
As razões profundas de Dom Cappio
22/12/2007
Há muitas Ecologias e entre elas a ECOLOGIA SOCIAL, naturalmente! O Teólogo Leonardo Boff, com sua autoridade de Ecólogo Cósmico, botou os pingos nos “ii”, relativamente ao jejum-protesto do franciscano Dom Cappio, esclarecendo que a Ecologia Ambiental nem sempre deve ser o foco da questão do bem-estar humano, na Terra. E põe nu a visão equívoca dos Magistrados, ao darem ganho de causa ao Governo, no artigo intitulado “Por uma justiça maior”, a que tivemos acesso. E que por pertinente e oportuno, transcrevemos neste nosso espaço – como segue:
“Muito de nós estamos acabrunhados com o resultado do Supremo Tribunal Federal concedendo campo livre para o governo implementar a transposição do rio São Francisco.
O debate naquela corte suprema foi mal colocado. A questão central não era de ecologia ambiental mas de ecologia social. Não se tratava apenas de decidir se o megaprojeto do governo implicava impactos ambientais danosos, coisa que o IBAMA, numa decisão discutível, garantiu não haver.
O que se tratava acima de tudo era de ecologia social: a quem beneficia socialmente o faraonismo daquela projeto governamental? Aos sedentos do semi-árido ou ao agronegócio e às indústrias? Os dados falam por si: cerca de 75% da água se destina ao agronegócio, 20% às indústrias e somente 5% à população sedenta.
Aqui se dá o confronto de duas posições: a do governo e a do bispo Dom Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra (BA).
O governo busca um crescimento que, segundo os dados cima referidos, atende primeiramente os interesses dos poderosos e secundariamente as necessidades do povo sofredor, o que configura falta de equidade. Esta posição é chamada de modernização conservadora, teórica e práticamente superada.
O bispo Dom Capppio encarna uma postura ética dando centralidade ao social e à vida, especialmente dos milhões de condenados e ofendidos do semi-árido com os quais ele trabalha há mais de 20 anos. Em função deste projeto social que prioriza o povo e a vida e que não nega outros usos da água, há de se ordenar a transposição do rio São Francisco.
A justiça legal consagrou o projeto de crescimento do governo. Mas a justiça não é tudo numa sociedade, especialmente como a nossa, marcada por profundas desigualdades e conflitos de interesses que debilitam fortemente a nossa democracia.
O que sustenta a posição do bispo é outro tipo de justiça, aquela originária que antecede à justiça legal, justiça que garante o direito da vida, especialmente daqueles condenados a terem menos vida e por isso a morrerem antes do tempo.
A larga tradição da ética cristã, racionalmente fundada em Aritóteles e em Santo Tomás de Aquino afirma aquela justiça originária e alimenta ainda hoje modernos projetos de ética mundial. Ela sustenta que acima da justiça está o amor à humanidade e a todos os seres.
Lamentavelmente, não foi isso que se ouviu no arrazoado dos ministros do Supremo Tribunal Federal. O amor ao próximo e ao sofredor é a regra de ouro, a suprema norma da conduta verdadeiramente humana porque abre desinteressadamente o ser humano ao outro a ponto de dar a própria vida para que ele também tenha vida, como o está fazendo o bispo Dom Cappio, figura de eminente santidade pessoal e de incondicional amor aos deserdados do vale do São Francisco.
Esta é a justiça maior de que fala Jesus, porque tributa amor e respeito Àquele que se esconde atrás do outro que é o Grande Outro, Deus. O povo brasileiro em sua profunda religiosidade é sensível a esse argumento.
Para entender a posição e a atitude profética do bispo, precisamos compreender este tipo de fundamentação. É perversa a tentativa de desqualificar sua figura considerando-o autoritário e falto de base popular.
Ele está ancorado nos milhões que geralmente não são ouvidos porque são tidos por incuravelmente ignorantes, zeros econômicos e óleo queimado. Mas eles são portadores de um saber de experiências feito, construido na convivência com o semi-árido e no amor ao rio que chamam com carinho de Velho Chico.
O compromisso de Dom Cappio continua, secundado por todos aqueles que até agora o acompanharam, especialmente, os movimentos populares e nomes notáveis da cena nacional e internacional.
Se ele, em consequência de seu gesto, vier a falecer, a transposição poderá ser feita, pois o governo dispõe de todos os meios, militares, legais, técnicos e econômicos. Mas será a transposição da maldição.
O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por tudo o que representa, não merece carregar esta pecha pelos séculos afora” – conclui o autor do texto, teólogo e pensador social Leonardo Boff.
...
*João Vieira, sociólogo, escreve quando bem entende no Saite Bão. E-mail: joaovieira01@pop.com
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Comentários dos Leitores
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Comentário de MEDEIROS (DONQUIXOTE@ESTADO.COM.BR) Em 22/12/2007, 19h53 |
BISPO FDP |
Nem uma ave-maria. Saiu do hospital da cidade do interior baiano, onde ocupou uma vaga na UTI que é negada a quem precisa. Esteve lá porque não comeu, no lugar de gente que vai lá para não morrer de doença. Duas ambulâncias só pra ele.
Estamos na semana do Natal e nem uma palavrinha do bispo sobre o Menino Jesus; sobre a Virgem. Não. Desceu o pau no Lula. Falou que a democracia está ameaçada. Sai do hospital público que lhe acolheu dizendo que a luta continua. A dele.
Agora foi viajar na proteção e às custas de sua família, que o levou para engordá-lo de novo. Esse é o bispo. Dom Luiz Cappio. Nem uma ave-maria rezou, para agradecer ao céus. Cachorro magro. |
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