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TEMA LIVRE : Antonio de Souza
Câmara não é botequim
17/02/2008
O fato de notícias e denúncias serem, atualmente, de pleno conhecimento da sociedade já é um avanço dos mais significativos. Isso permite que a mídia séria faça a sua parte e contribui para o trabalho do Ministério Público, sempre atento às maracutaias em algumas áreas do Poder Público. Sacanagem, diga-se de passagem, sempre cometida com a utilização do meu, do seu, do nosso rico dinheirinho.
É uma triste rotina: todo dia, por toda parte, lêem-se e ouvem-se denúncias de corrupção. Na verdade, o que há é um forte (e justo) sentimento de indignação generalizado na sociedade. Antes, era a banda podre da Polícia; hoje, ganha corpo a banda apodrecida dos Poderes constituídos, com um destaque todo especial para o Legislativo.
Têm sido em vão os esforços para que o país, como um todo, passe por um profundo processo de moralização. E a situação se agrava em períodos de campanha eleitoral, quando os plenários se transformam em palanques, as acusações mútuas crescem, na mesma proporção em que florescem as suspeitas de mau uso do dinheiro do contribuinte.
A reabertura dos trabalhos na Câmara Municipal de Cuiabá, na sexta-feira (15), é um exemplo marcante desse estado de coisas. Longe dos tempos em que o cidadão era brindado com mensagens, por assim dizer, de alento, de dias melhores, a sessão solene configurou mais um capítulo na disputa entre os vereadores por espaços na mídia. E, claro, nos palanques eleitoreiros já devidamente montados, num processo de campanha extemporânea que só o TRE não enxerga.
Por iniciativa do vereador Domingos Sávio (PMDB), já na terça-feira (19), deve ser aprovada a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar suposto desvio de dinheiro pela Mesa Diretora em 2007, sob o presidente Lutero Ponce (PMDB). Isso poderá ser um complicador a mais para ele, que já enfrenta a ira de alguns colegas, defensores intransigentes da redução do recesso parlamentar de 90 para 55 dias. A lei não foi promulgada e Lutero é acusado de fugir à responsabilidade. Lembrando que ele enfrenta processo por infidelidade partidária, por ter trocado o PP pelo PMDB, fora do prazo.
A briga pela CPI parece fichinha diante do bate-boca que o presidente da Casa, Lutero Ponce, teve com vários colegas, dias atrás, quando, enfim, resolveu dar as caras, após ser perseguido por oficiais de Justiça e se “esconder” no litoral carioca. Numa demonstração de que o Legislativo cuiabano vive, hoje, um dos momentos mais deploráveis de sua história, a troca de acusações entre os vereadores – pior, tendo à frente o presidente da Casa -, para muitos, refletiu a imagem de um bate-boca num desses bares da pior categoria. As fotos publicadas nos jornais e sites dispensaram legendas.
Há algum tempo, a opinião pública, em Cuiabá, se revela estarrecida com o mar de lama que escorre do Palácio Paschoal Moreira Cabral. O lamentável é que ninguém toma uma providência, exceto as “ameaças” de instalação de CPIs e que, muitas vezes, não levam à nada. Pelo contrário, alimentam a suspeita de que a maioria dos “nossos” representantes na Câmara só se preocupa com o comportamento ético dos seus pares quanto têm os seus interesses contrariados. Enquanto seus apetites são saciados, o silêncio, às vezes, é de doer.
Falta compostura em alguns inquilinos da gloriosa Câmara cuiabana. Um mar de lama está prestes a atingir, em cheio, a instituição. Se alguém não tomar uma providência, esse festival de suspeitas, fatalmente, transformará o noticiário político – notadamente aquele relacionado ao Legislativo Municipal - num mero apêndice das páginas policiais.
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*Antonio de Souza, o ¨Toninho Dragão¨ é jornalista em Cuiabá
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Comentários dos Leitores
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Comentário de Montezuma Cruz (montezuma@agenciaamazonia.com.br) Em 18/03/2008, 08h39 |
SUADO DINHEIRO |
Rico dinheirinho, que seja. Suado, sim, ah! se é. Toninho, saudades da sua pessoa. Está em Cuiabá ou no Nortão? |
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