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TEMA LIVRE : Antonio de Souza
Os donos do Poder
08/06/2008
A insinuação do deputado Maksuês Leite (PP) de que Júlio Campos (DEM) teria manobrado para sua demissão sumária da TV Rondon, onde apresentava um programa policial, no auge de uma disputa que, acreditava-se, era de verdade, trouxe à tona uma questão delicada no contexto político-eleitoral: o monopólio que os “coronéis” exercem na Comunicação Social, sobretudo, na televisão.
Pela ótica do deputado, o ex-governador utilizara um argumento pra lá de convincente – uma suposta propina de R$ 2 milhões – para convencer os dirigentes da emissora a colocarem abaixo o palanque eletrônico do progressista. Suspeita-se que Júlio Campos seja o dono da TV Rondon, assim como da TV Brasil Oeste (Bandeirantes).
A retransmissora da Rede TV! é um caso sui generis em Mato Grosso: montou uma grade de programação que, à primeira vista, contemplaria fatos populares e regionais, mas pecou ao lotear seu estúdio entre políticos, alguns deles sem nenhum compromisso com a ética e o interesse público. Exemplo: o ex-deputado Lino Rossi (PP), ícone da Máfia das Sanguessugas.
O chefe de plantão da emissora, empresário Roberto Dorner, faz escola. Está na mira da Justiça Eleitoral porque utilizaria a TV como palanque, já que é pré-candidato a prefeito de Sinop, sede do seu império empresarial.
A TV Cidade Verde (SBT), alegando recomendação do MPE, livrou os telespectadores da demagogia do deputado Walter Rabello (PP). Mas, mantém na grade o apresentador Everton Pop, pretendente a uma vaga na Câmara Municipal.
A Record mantém em evidência o policial “Cadeia Neles”, um dos muitos trunfos que ajudaram a eleger políticos. O radialista Clóvis Roberto, que comanda o programa, foi deputado estadual, mas, embora possa ter-se beneficiado desse palanque, tem um diferencial: não pratica clientelismo. O grotesco fica por conta da triste e violenta realidade policial, que não dá para esconder.
A TV Centro América, como afiliada da Rede Globo, resiste ao formato e se esforça para seguir os padrões globais de qualidade. Essa resistência, dizem, dura só até começarem as campanhas eleitorais. Afinal, não há Vênus Plantinada que resista ao interesse comercial e/ou político.
Logo, o telespectador vai ver como a emissora dedicará generosos espaços para candidatos em seus telejornais.
É no período eleitoral que a mídia – num caso todo especial, a TV - deixa de ser um espaço para as necessárias discussões coletivas e vira um meio individualizado de propagação de idéias, virando um poderoso palanque político-eleitoral.
Taí a Record News, que, seguindo os passos da Globo News e da Band News, se propôs a fazer jornalismo de qualidade, mas, em Cuiabá, abre espaço para amadores.
Um levantamento do site Contas Abertas (contasabertas.uol.com.br) revela que, no grupo dos donos da mídia no Brasil, os políticos têm notável representatividade: 271 são sócios ou diretores de empresas de radiodifusão, sem contar parentes e laranjas. São 147 prefeitos, 55 deputados estaduais e 48 federais, um governador e 20 senadores com vínculo direto e oficial com os meios de comunicação.
Em Mato Grosso, dizem que o vice-governador Silval Barbosa (PMDB) é o campeão e costuma dividir compromissos no Nortão entre a política e as suas dezenas de emissoras de rádio e TV na região.
Lamentavelmente, a maior parte da TV regional se mantém na superfície, indiferente ao “mar de lama” da política. Quando nada, pisa em ovos, limitando-se a uma cobertura discreta, tímida.
Num amplo contexto, a TV é dependente do Poder Público, que controla gordas verbas publicitárias. O telespectador incauto aceita, sem saber que quem lucra com tudo isso são os donos do Poder.
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*Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá.
E-mail: af-souza1957@uol.com.br
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