Depois que a Regina nos deixou a minha vida complicou-se.

Não tenho mais com quem desabafar ante as dificuldades do nosso dia-a-dia. Não tenho ninguém para me dar a bronca para me acalmar. A proteção aos problemas familiares desapareceu, e tudo agora estoura na minha cara, não contando o cotidiano de uma” dona de casa” que tive que assumir.

Entender as meninas que fazem os serviços caseiros, o açougue, mercado, e abrir todas as correspondências que recebo diariamente, especialmente as bancárias. Tudo isso a Regina sempre fez com a máxima competência.

Ontem, pela primeira vez fui comprar uma passagem de avião.

Escolhi uma agência de turismo próximo à minha casa para evitar o seríssimo problema de estacionamento. Chegando ao local tentei entrar pela janela de blindex. Os funcionários vendo a minha dificuldade saíram correndo abaixando a persiana interna e indicando-me que o local seria à frente. Parei na segunda janela e tentei repetir o gesto. Nova correria. A porta ficava adiante e eu já havia passada por ela e não a percebera. A gerente sai à rua em meu socorro. Peço-lhe desculpas e aviso que sou marinheiro de primeira viagem. Bem educada sorriu e me introduziu na agência. Fui atendido com tratamento diferenciado graças à minha ignorância.

Na hora do pagamento novo problema: “O senhor pode nos fornecer o seu cartão?”

Gente, acho que sou a única pessoa desta cidade a não utilizar este instrumento. Pergunta-me então como quero pagar. Respondi que valores altos, com cheque. Sabendo das minhas dificuldades com a modernidade se ofereceu para preencher o cheque. Dei graças a Deus, pois tenho absoluta certeza que iria inutilizar muitas folhas do meu talão. Na saída a gerente me avisa que quando precisar de algum produto da agência é só telefonar e ela manda entregar o pedido na minha casa.

Como você faz falta Regininha!

...

Gabriel Novis Neves é médico, professor-fundador e primeiro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso

Compartilhe: