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TEMA LIVRE : Antonio de Souza
Mídia sem compromisso
10/11/2008
Muito mais do que o próprio Wilson Santos, os demais membros do tucanato e os aliados que formaram a coligação “Dante Martins de Oliveira”, foi parte considerável da mídia cuiabana que festejou a reeleição do prefeito do PSDB, no último dia 26 de outubro.
Wilson Santos despertou um entusiasmo incomum na maioria da Imprensa. Esse adesismo, no entanto, não foi de graça. Não teria sido à toa, por sinal, a freqüência inusitada com que assessores diretos (com destaque para os financeiros) e marqueteiros circularam por redações e gabinetes de donos de jornais, antes e durante a campanha eleitoral em Cuiabá.
Alguns veículos – mídia impressa, principalmente - aderiram de corpo e alma à campanha reeleitoral do prefeito tucano, abdicando do jornalismo apartidário e pluralista. Teria sido, quando nada, um comportamento digno daqueles jornalões do interior do Nordeste, sob a batuta dos velhos “coronéis” que sempre colocaram as suas próprias conveniências acima dos interesses coletivos.
O “Diário de Cuiabá” e “A Gazeta” atuaram como verdadeiros porta-vozes de Wilson Santos e aliados, com uma cobertura extremamente parcial (ou seria passional?). A “Folha do Estado” deixou claro que era pró-Walter Rabello (PP), por razões, até agora, desconhecidas.
Por meio de coberturas espontâneas (?) ou dos fartos releases produzidos pela assessoria tucana, o recandidato do PSDB obteve generosos espaços nos dois mais tradicionais jornais da Capital. Em contrapartida, os demais candidatos – Mauro Mendes (PR), Walter Rabello, Valtenir Pereira (PSB) e Procurador Mauro (PSOL) – foram relegados a um plano inferior no contexto da cobertura eleitoral. Só ganhavam destaques se seus nomes, por um motivo ou outro, estivessem envolvidos em algumas das muitas baixarias que marcaram o pleito.
Esse adesismo só deixou de ser flagrante no segundo turno, até porque seria por demais escandaloso desconhecer a existência do adversário do prefeito tucano. Ainda assim, Wilson Santos continuou a ter maior espaço nos dois jornais, inclusive, em chamadas da Capa. Deu a entender que as ações do tucano eram muito mais vistosas e interessantes – pelo menos, na ótica dos editores e donos desses veículos – do que as do republicano.
Um jornal – até mesmo um site, uma rádio, uma revista ou TV - pode aderir ao candidato que melhor lhe convier. Não pode, naturalmente, atuar como porta-voz, se empenhando ao máximo no sentido de abafar ou camuflar fatos que, direta ou indiretamente, pudessem comprometer ou causar algum constrangimento ao atual prefeito. Na última campanha eleitoral, o que mais se viu foram esses jornais – e alguns jornalistas, por extensão – fazendo a defesa intransigente de Wilson Santos.
No começo da campanha, por exemplo, um dono de jornal não teve papas na língua para dizer, alto e bom som, que não poderia dar espaço em seu veículo ao então candidato do PR a prefeito, Mauro Mendes, apenas em nome de uma suposta amizade que teria com o dono da metalúrgica Bimetal. Curiosamente, o tal empresário, há pelos menos seis anos, mama nas generosas tetas do Governo Maggi, que, como se sabe, patrocinou a candidatura governista. Nem a imprensa oficial, representada pela Secretaria de Comunicação (Secom), chegaria a tanto em matéria de bajulação, dizem as más línguas.
Sabe-se que o comitê financeiro de Mauro Mendes resistiu até o final, mas não cedeu às pressões (e até ameaças, dizem) de certos donos de veículos de Comunicação. Algumas propostas foram consideradas simplesmente indecorosas. Errou o candidato republicano, que não se rendeu às atitudes mercenárias de um grupo, ou acertaram os donos de jornais, que aceitaram compor com o prefeito e lucraram financeiramente?
Enquanto em Cuiabá parte da mídia impressa vestia, sem nenhum pudor, a camisa do PSDB, em Rondonópolis, a adesão ao candidato governista, o (ainda) prefeito Adilton Sachetti (PR), era vergonhosamente acintosa. Os jornais “Diário Regional” (do grupo Diário de Cuiabá) e “A Tribuna” (veículo que, segundo se informa, sempre viveu sob as asas dos plantonistas do Poder nessa cidade) só não subiram nos palanques, mas jogaram a ética e o bom senso na lata de lixo e assumiram a campanha de reeleição do republicano.
Vitorioso nas urnas, o (ainda) deputado José Carlos do Pátio (PMDB), certamente, tem duplo motivo para festejar: venceu a máquina do Governo e o rolo compressor de uma parte da mídia corrompida e preconceituosa, sem compromisso com o interesse social.
O que aconteceu em Cuiabá e em Rondonópolis, não há como negar, é emblemático do estágio de atrelamento ao Poder a que chegaram alguns segmentos da mídia mato-grossense. E o curioso desse processo, vale assinalar, é que os donos desses jornais costumam sair por aí arrotando imparcialidade e independência. Não terão, doravante, coragem para cobrar as promessas de campanha.
Na recém-encerrada eleição municipal, nas duas cidades – para citar os casos mais gritantes de imoralidade -, deixou-se de respeitar os princípios básicos do jornalismo: ouvir sempre o outro lado, em especial os acusados, não prejulgar, ser objetivo, ponderado e isento, atendo-se o mais possível aos fatos comprovados. Não levou em conta, também, o fato de que o público leitor é formado por pessoas que têm variadas visões de mundo.
Noutro ângulo da questão, há que se reconhecer que a Internet teve um peso muito importante no processo de cobertura (isenta) das recentes eleições na Capital mato-grossense. Afinal, esse segmento da Comunicação criou e expandiu um novo espaço de circulação e enfrentamento de idéias sobre o papel da mídia, bem como acerca da cobertura de uma eleição.
Esse tipo de debate, infelizmente, não ocorre nos meios tradicionais, como a mídia impressa, que parece muito mais preocupada com o volume de informações e a liderança comercial, enquanto relega a credibilidade e o prestígio a um plano secundário.
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*Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá.
af-souza1957@uol.com.br - asouza80@hotmail.com
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