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TEMA LIVRE : Sérgio Rubens da Silva
Afinal, quem é o culpado?
10/02/2009
Acho curioso -- para não dizer vergonhoso -- o "quase silêncio" de boa parte da grande mídia em relação aos desdobramentos da Operação Satiagraha.
Semana passada, houve o bloqueio de US$ 2 bilhões em contas bancárias no Exterior, dos quais US$ 496 milhões envolveriam o banco Opportunity, de Daniel Dantas. Foi o maior bloqueio de recursos suspeitos da história do B rasil.
Os telejornais noticiaram? Sim, até porquê não há como ignorar um fato desses. Mas a maioria dedicou apenas alguns segundos, com míseras notas de estúdio.
Não é difícil, contudo, entender o porque. Ano passado, na época em que Daniel Dantas foi preso, a PF apreendeu no apartamento do banqueiro documentos que comprovariam o pagamento de propinas a "políticos, juízes e jornalistas".
Ou seja: tem muita gente -- e graúda -- com o rabo preso nesse negócio.
Em relação ao esquema de corrupção, pouco se fala. Por outro lado, veem-se em vários veículos tentativas de desqualificar o trabalho de pessoas envolvidas na investigação, como o delegado Protógenes Queiroz e o juiz Fausto DeSanctis. Às vezes, dando a impressão de que os dois são os verdadeiros bandidos da história.
Foi o que ocorreu, por exemplo, quando Protógenes esteve no Roda Viva, de TV Cultura, mês passado.
Aliás, a entrevista mais pareceu um interrogatório. Participaram os jornalistas Ricardo Noblat (O Globo e Blog do Noblat); Renato Lombardi (TV Cultura); Fernando Rodrigues (Folha de S. Paulo) e Fausto Macedo (O Estado de S. Paulo), além da apresentadora Lilian Witte Fibe.
Concentraram as indagações em possíveis erros no relatório do inquérito, fizeram perguntas capciosas e agiram de forma corporativa (como se não houvesse jornalista corrupto). Quando Protógenes esboçava falar sobre as relações da mídia com Dantas, logo era atropelado, com intervenções que mudavam o rumo da conversa.
Curiosamente, quando o mesmo Roda Viva teve o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, como entrevistado, o clima foi completamente diferente. Ah, Mendes é o senhor que mandou soltar o Daniel Dantas da cadeia duas vezes, e em tempo recorde!
Neste dia, além da Witte Fibe, o programa contou com a presença de Márcio Chaer (editor do site Consultor Jurídico); Reinaldo Azevedo (Veja); Eliane Cantanhêde (Folha de S. Paulo) e Carlos Marchi (O Estado de S. Paulo).
Mendes recebeu elogios de Chaer e Azevedo, e nem de longe a entrevista lembrou o ambiente pesado e inquisitório da edição com Protógenes.
Outro lado curioso desse caso: a midia, que costuma não pensar duas vezes antes de julgar e culpar alguém, mostra-se "cheia de dedos" com Daniel Dantas, sempre tratado como um "suspeito" de ter praticado os crimes dos quais é acusado: lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas, sonegação fiscal, formação de quadrilha, espionagem e tentativa de suborno a um delegado.
Só isso.
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Sérgio Rubens, ex-subsecretário de Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de Mato Grosso
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