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TEMA LIVRE : Gabriel Novis Neves
Respeito faz bem
13/03/2009
Sou torcedor de futebol e, sem entrar no mérito da utilização dos recursos propalados, desejo que a copa venha para Cuiabá. Será o segundo acontecimento de repercussão mundial envolvendo a nossa cidade.
O primeiro foi por ocasião da visita do Papa. O choque emocional no menino da Rua de Baixo foi semelhante à produzida pela viagem do Gagarin - primeiro astronauta russo que lá do espaço viu o mundo azul.
A visita do Papa acabou com o mito de para se ver o Papa teria que ir a Roma. E aquele que fosse a Roma e não visse o Papa, diziam que não foi a Roma. Eu vi o Papa no bairro do Porto. De lá pra cá, nunca mais ouvi essa história.
Sei dos subprodutos que Cuiabá receberá ganhando uma sub-sede da copa. O maior de todos não será os bilhões anunciados em obras de um novo estádio "modelo europeu", estacionamentos espetaculares e acessos aéreos ao estádio, além dos centros de treinamento em quatro municípios.
O grande ganho será a elevação da auto-estima da nossa gente, em baixa com os últimos acontecimentos. Crise econômica mundial ainda não aferida, corrupção em plena ascensão, a volta das oligarquias que tanto mal fizeram ao Brasil, o vale tudo pelo poder incompreensível aos simples seres humanos, enfim, a falência do poder publico.
O inaceitável é a ameaça - forma truculenta ainda hoje utilizada por aqueles que não foram informados que o mundo não é mais redondo e sim plano. Jornais de hoje (ontem) em manchete e ampla matéria destacam o inaceitável: ”Cuiabá receberá dois bilhões de reais, caso seja sede do mundial”.
Esta civilização foi construída com muito sacrifício e sangue. Não aceito ameaças demagógicas de punição, caso a nossa querida cidade, por obra da fatalidade, não seja escolhida para a sede da copa. O seu povo não merece este tratamento das autoridades que daqui a dois anos estarão fora do poder. E se a crise mundial se agravar? Ou se os próximos comandantes do governo estadual e federal resolverem pedir vistas das despesas e dizer que este compromisso é do governo passado, como é praxe no governo político?
Cuiabá hoje é um grande centro universitário, com professores com pós graduação e entendimento necessário para ver o mundo de uma maneira diferente. Os migrantes que aqui chegam também são qualificados intelectualmente na sua maioria.
Cuiabá não é mais a cidade curral e não aceita chefes.
É um crime o governo falar ao pagador de impostos que tem dinheiro em caixa para construir um estádio de oitocentos milhões de reais para o jogo Coréia x Irã e não possuir recursos para construção de um hospital para os pobres.
Se for dinheiro para o circo temos, para coisas de interesse do povo não.
Outro assunto é depender dos recursos federais.
Já vi este filme na divisão do Estado. Até hoje, Mato Grosso não recebeu a grana prometida. Já vi vários passageiros ilustres inaugurando o trem para Rondonópolis. Tenho até a sensação de que sou portador daquela doença psiquiátrica – “o já ter visto”.
Lamentável a ameaça das autoridades, percebida pela população muda.
Não aceito, pois não sou imbecil como pensam. A população de Cuiabá merece pelo menos respeito e respeito não faz mal à saúde.
Que venham os recursos guardados no tesouro, com ou sem a copa, para a Cidade Mãe dos mato-grossenses.
...
*Gabriel Novis Neves é médico obstetra, professor-fundador, primeiro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso e "ginecologista" estatutário do Grupo Fazendas Reunidas Perereca Enterprise, Broadcasting&Corporation
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Comentários dos Leitores
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Comentário de evita (evdol@gmail.com) Em 13/03/2009, 10h46 |
Grito emudecido |
Dr. Gabriel conseguiu demonstrar toda a nossa "muda" indignação frente aos demandos dos governos. Ele é um político de verdade pois, segundo Sollers "Toda escrita, querendo ou não, é política. A escrita é a continuação da política por outros meios."
E Dr. Gabriel está se tornando o paladino da verdade e da justiça. Veremos as consequencias? Talvez não. Mas, com certeza a semente está lançada.
Gabriel, continue empunhando a caneta e fazendo da escrita a sua arma política e "gritar" por nós, pobres seres emudecidos, iludidos, acomodados e, por que não dizer, covardes.
Evita |
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