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TEMA LIVRE : Marli Gonçalves

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Os proibidos
24/03/2009

Tudo parece proibido ultimamente. Fumar, beber, comer, transar, pensar, engordar, envelhecer, amar, ser livre, ser solteiro, ser diferente. Religiões vivem de culpa. Nós não podemos alimentar culpas.

Torresminho. Sim, torresminho com carne, dizia o cardápio. Fritinho. Uma delícia - lembra daquele cheirinho? Pois eu vi o prato chegando, deu água na minha boca, uma loucura rápida e ataquei. Depois, aquele peso no estômago, certa culpa pelo descontrole momentâneo. Torresminho, gente, não é igual a chocolate que quando você ataca, já vem com álibi. Ninguém resiste mesmo nem luta contra chocolate. Mas, torresminho? Quem precisa de torresminho?

E aí, me diga, por que dá mais vontade de fazer justamente o que é, seria ou deveria ser proibido? Mesmo que tenha sido proibido por uma só pessoa, não exatamente por uma lei. Ou vetado só na sua cabeça - uma auto-proibição. Vontade de transgredir? Necessidade de ter uma culpinha pra carregar? Aventura? Ou mera distração?

É um perigo como momentaneamente nós podemos nos arriscar. Tentar uma ultrapassagem errada ou arriscada em alguma curva da vida. É difícil entender por que fazemos algumas coisas com nós mesmos. Os diabéticos, por exemplo, por que se você se descuidar deles, atacam o açúcar iguais a formigas masoquistas? Não é um passo para a morte, não sou tão radical, mas eles passam muito mal depois. Minha mãe morreu desta maldita, maldita, maldita. E os hipertensos, atacando e chacoalhando saleiros em seus pratos? Não chame sua atenção se não quiser puxar e encarar uma briga raivosa.

Depois falamos que quem faz esporte radical é maluco. Nada! O que nos parece constantes e consistentes tentativas de suicídio, para eles é saúde, adrenalina, e um pouco de exibicionismo, claro. De alguma forma, também fazemos esse tipo de coisa, de andar na beirada do abismo, escalar montanhas, e todos os dias.

Enfim, fazemos coisas proibidas. Algumas até com um prazer inenarrável. Outras, com culpa, ou culpinha. Alguns o fazem perigosamente, se lixando lhufas (esses tipos são perigosos porque, egoístas, podem botar quem está por perto junto, numa fria, numa boa, sem remorso).

Estamos sempre um busca de um orgasmo, um clímax, um frio na espinha, algo para tornar a vida mais válida, a respiração mais ritmada, rápida. Pequenos delitos, até. Todo mundo que vive, faz ou fez ou fará, no mínimo, uma conversão proibida; pegará uma contramãozinha, mesmo que não necessariamente guiando um veículo qualquer, repara só...

E quem não gosta dessa palpitação? Desde criança somos assim. Acredito que assim é que aprendemos e treinamos como mentir, como teatralizar histórias, enganar um. Gatos, cachorros, por exemplo, sabem que estão fazendo coisas erradas, quando as fazem e ficam nos esperando pelos cantinhos com aquelas caras de coió sem sorte. No fundo devem se divertir com isso.

Quando amamos, ou desejamos alguém, e dá uma chance, fazemos amor em lugares não necessariamente próprios, fazemos loucuras. Quem ainda não fez isso, apresse-se! Entra na tal lista que um dia eu faço - "Não Morrer Antes de..." Vai passar de uns mil itens.

Amantes, traições e casos extraconjugais podem ser explicados por muitos até como unicamente essa tal vontade de transgredir, de experimentar o não-pode-isso, não-pode-aquilo, de fazer o que não te dão, ou o que te dizem não. Inclusive isso tudo que vocês estão aí pensando, que é um monte de coisas possíveis.

Mas é mesmo difícil a gente entender e aceitar isso claramente, conseguir verbalizar. Vira o cofrinho sete chaves; o segredo de cada um. Acho mesmo que todo mundo tem de ter pelo menos um segredo bem íntimo. Também sei de algumas pessoas que sofrem tanto e às vezes por tão pouco, por não conseguirem ver que aquilo que fizeram e por causa do que se remoem, considerando tão proibido, não daria nem para se inscrever num campeonato de quarteirão. É verdade.

Qual é o segredo do seu vizinho? Humm! Que curiosidade!

E o que é que o torresminho tem a ver com isso tudo? Nada. Sem culpa. Fiquei mal, mas um bom bicarbonato resolveu. E o prazer que eu tive comendo aqueles pedacinhos valeu uma boa lembrança, um prazer, e pensar nisso tudo aqui. Naquele dia, o dia que a chuva quase detonou a cidade, eu estava em um encontro de amigos muito antigos, grandes jornalistas, após uma missa em memória a outro amigo e grande jornalista levado daqui. Resolveram que iriam lhe fazer um brinde, em um restaurante mineiro. Então, depois de me fartar de comer, logo pensei que se aquele nosso amigo estivesse vivo, se estivesse ali, também não iria deixar escapar aquele torresminho. Mas não ia mesmo!

Sem hipocrisia, percebe como a gente tem que fazer umas coisas, um monte de coisas, antes de morrer? Será que lá no céu tem torresminho?

...

*Marli Gonçalves, jornalista. Acredita apenas em sonhos que consegue ver se transformarem em reais, e os persegue, trabalhando todos os dias. E vê os chamados pecados do mundo, às vezes de binóculo, às vezes com lupa.

São Paulo, outono, 2009, e tentação prá tudo quanto é lado.



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