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TEMA LIVRE : João Vieira
MT & MS
06/06/2009
A redivisão territorial do Brasil sempre foi e será tema em aberto, recorrente, no fluir das décadas, senão mesmo séculos! De minha parte tive a oportunidade, histórica, de participar, com alguma atuação, do desmembramento de Mato Grosso para fazer a nova unidade federativa Mato Grosso do Sul. Valeu a pena, porquanto a alma foi grande e os resultados incomensuráveis. Principalmente porque não de todo ainda completados. Fechados.
Talvez agora com o episódio da “Copa do Pantanal”, Mato Grosso do Sul ponha-se de pé de vez, para aperceber-se pleno e grandioso. Orgulhoso de sua importância no domínio prático e sua projeção transcendente no que diz respeito à nacionalidade – querendo significar ou resumir – brasilidade! Ciente e certo das palpáveis potencialidades e determinado a seguir na senda de um futuro promissor e mágico! E por que não?
A região sul do Mato Grosso indiviso era a que conferia singularidade e autenticidade ao Grande Mato Grosso. A que fazia a diferença – o Mato Grosso da Seriema dos seus campos limpos (do capim-barba-de-bode), dos cerradões e dos pantanais. Mato Grosso legendário da fronteira bem viva (viva-fronteira-viva), mágica e romântica; heróica e guerreira. E sobremaneira musical...
O Mato Grosso dos vazios intermináveis e que hoje, agricultados, fazem de MS celeiro por excelência. O Mato Grosso pantaneiro – de um vazião onde não se podia “passar régua” (Manoel de Barros) e que representa, em verdade, o tradicional, o antigo por oposição ao Mato Grosso remanescente e refundado, que paradoxalmente ficara sendo o novo ou inovado! E que, de sua vez, cumpre garbosamente, proficientemente, sua destinação – não menos excelsa – como sempre foi, de pródiga área fontal de matérias primas, agora as “comodities” – como queira – oriundas de seus imensos (e misteriosos) espaços férteis, repartidos, estes, nos três ecossistemas básicos: Pantanal, Cerrados e Mata Amazônica.
Ecossistemas tais, diga-se, onde não cabe (de jeito nenhum), detentores de troféus do gênero “motosserra-de-ouro”. E que, por isso mesmo, Maggi-governador, sabiamente, inteligentemente e por conta e risco, correu para o lado que quer ser em especial preservacionista. Ecologicamente correto...
Falamos aqui, explique-se, das hostes políticas e governamentais de Lula da Silva, a que Blairo Maggi, num gesto inesperado e, queremos crer, acertado aderiu.
Voltando a Mato Grosso do Sul, proclamado que fora, ao nascer, verdadeiro “cheque-ao-portador”, cumpre insistir na representação de marca simbólica para Mato Grosso como um todo – o que para efeito externo continua valendo. Explico: a entidade “mato grosso” seja o velho estado continental, indiviso, ou como se acha na atualidade, repartido nas duas unidades federativas (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), continua espelhando o marco diferencial: os pantanais, a paisagem do sem-fim, romântica e épica (guerreira); ou, mais realísticamente, violenta! Entretanto viva e sobremodo musical – reafirme-se. E acrescente-se por justiça e oportunidade – produtiva...
E daí que, não faz sentido a polêmica e/ou propositura de troca de nome para Estado do Pantanal, ou outra exagerança, tal como não vingara a denominação de Estado de Campo Grande, da era em que foi perpetrada a divisão.
Resta um adendo esclarecedor ou registro: o de que o Pantanal sempre fora polarizado e referido por sua ”capital”, a cidade propriamente pantaneira que é Corumbá. E que estendia sua influência, ou polarização ao Pantanal do Mato Grosso, por assim dizer, “cuiabano”. Porém, em última ou derradeira análise, Corumbá era, de sua vez, polarizada por Cuiabá – com a qual tinha expressa ligação hidroviária e real articulação administrativa, cultural e sentimental.
Concluiremos o depoimento-reflexão, não sem antes deixar consignado que Cuiabá, já quase tri-centenária, é célula urbana matricial, originante de todo o Mato Grosso (os). E que tem igualmente o seu quinhão de pantanal (e que quinhão)! Além do que a velha e barroca Cuiabá, de funções inovadas, hoje polariza o novo; o dinâmico, plural e ciclópico! Hercúlio ou gigantesco – pelos seus vastos ecossistemas a serem submetidos, domesticados ou simplesmente preservados...
Assim, a sub-sede da Copa de 2014 haveria mesmo de ser cuiabana – de “tchapa e cruz”.
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*João Vieira -- joaovieira01@pop.com.br --, professor-fundador do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Mato Grosso, com participação na instalação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, escreve quando bem entende no Saite Bão
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Comentários dos Leitores
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Comentário de Felisbino Porta (fporta@royalties.com) Em 06/06/2009, 11h40 |
??? |
Lula e Blairo, ecologicamente correto?
Fumou estragado, bicho! |
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