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TEMA LIVRE : Haroldo Assunção
Credo
28/06/2009
“Eu sou católico
tu és protestante
ele é espírita
nós somos cristãos
vós sois judeus
são eles ateus?
Moral:
Haverá lugar para todos
- O CÉU É
E N O R M E”
(Milton Duarte Segurado
Lembramos aqui o poema do emérito professor para que não paire dúvida acerca do imparcial escrito – para depois não seja acusado ideológico pela Santa Sé, Igreja de batismo.
No templo Nossa Senhora Auxiliadora – ali na Prainha -, aos doze anos, padrinho Santiago e saudosa madrinha Célia – que os escolhera sob olhar e permissão de pai e mãe na terra, de Pai e Mãe no céu – acolheram na pia sagrada.
Feita a ressalva, ao tema.
RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL, 2009 – O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou o médico Olímpio Moraes, sua equipe e a família da menina que, na flor dos nove aninhos, grávida estava depois do estupro que sofrera – gestação que poderia levá-la à morte, se não interrompida.
CUIABÁ, MATO GROSSO, BRASIL, 1995 – A historiadora Loiva Canova, em brilhante ensaio, já denunciava a desumanidade contra a vida que, na visão do clero, “não é valorizada sequer quando o prosseguimento da gravidez pode levar a gestante à morte” – caso faz necessária intervenção clínica, o dito aborto terapêutico no jargão da Medicina.
Canova lembrou a Encíclica Casti Conubii, que, textualmente, sentencia:
“Os médicos que têm probidade e ciência profissional louvavelmente se esforçam por defender e conservar ambas as vidas, a da mãe e do filho; portanto, mostrar-se-iam indignigníssimos do nobre título e da glória de médicos os que, sob pretexto de arte médica, ou por mal entendida piedade, pusessem em perigo de morte mãe e filho”.
NEW YORK, ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA DO NORTE, 2004 – O relatório John Jay, encomendado – ironia – pela Confederação de Bispos Católicos daquele país à Faculdade de Justiça Criminal que empresta o nome ao documento aponta milhares – isso mesmo, nem erro de digitação, nem de leitura -, milhares de padres acusados de pedofilia nos EUA.
MÉXICO, 2005 – O padre Dagoberto Arriaga, em razão do temor à Igreja, matou o próprio filho – crime pelo qual foi condenado a 55 anos de prisão.
O recente vem do longe...
Lá de Paulo de Tarso, mensageiro maior do cristianismo no século I.
No ano 306 as leis da cristandade foram reformuladas pelo concílio regional de Elvira – decretada foi abstinência sexual a padres e bispos, mesmo os casados.
Em 325, o concílio de Nicéia proibiu em definitivo que sacerdotes habitassem na companhia de mulheres – à exceção de irmãs e tias.
Imagine-se o incesto consequente...
A obrigação sine qua non do celibato, porém, seria imposta quase setecentos anos depois, desde 1074, pelo papa Gregório VII.
Nos séculos XVI e XVII os reformadores protestantes incisivamente questionaram o Vaticano – já apontavam no impedimento conjugal contradição aos princípios da Sagrada Escritura e, o pior que chega a nossos dias, causa das “abominações e más condutas sexuais” praticadas por homens escondidos em nome de Deus, sob sacros paramentos, da batina ao solidéu.
De volta ao hoje.
Cá.
SÃO PAULO, BRASIL, 2006 – O compatriota cardeal dom Cláudio Hummes – transferido para a chefia da Congregação para o Clero no Vaticano, antes de seguir para a Cidade Eterna, disse textualmente ao Estado de São Paulo que “apesar de o celibato fazer parte da história e da cultura católicas, a Igreja pode reverter essa questão”.
Tempos conservadores, sob Bento – não será o Benedito? – XVI...
Acolá.
BASÍLICA DE SÃO PEDRO, VATICANO, 2007 - Alto membro da Congregação para o Clero, o monsenhor Tommaso Stenico flagrado por um jornalista - “muito gostoso”, palavras do clérigo - travestido de prostituto, ao vivo e em cores, matéria televisiva.
Aqui em Pindorama, quem mais quiser saber, leia o excelente relato da socióloga Regina Soares Jurkewicz – “Desvelando a Política do Silêncio: abuso sexual de mulheres por padres no Brasil”.
Daí vem folclórica mula-sem-cabeça...
“Lobisomem feminino”, nas palavras de nobre dicionarista de provérbios...
O texto rendeu-lhe – a Jurkewicz - demissão do Instituto de Teologia da Diocese de Santo André (SP), onde labutara durante oito anos.
MADRID, ESPANHA, 2009 – O cardeal Antonio Cañizares, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, sugere que o aborto é pecado maior que o abuso sexual contra crianças.
Sobre o escândalo descoberto nas escolas católicas irlandesas, onde milhares de crianças sofreram abuso sexual, disse:
“Não é comparável o que pode ter acontecido em alguns colégios com as milhões de vidas destruídas pelo aborto”.
Contextualize-se no tempo e espaço – o infame paralelo foi traçado pouco após aprovação, naquele país, de projeto para legalização do aborto até a 14ª semana de gestação.
Hummes foi obrigado à retratação pública.
Vistas grossas para Stenico...
E Cañizares sequer repreendido foi.
Não se trata, aqui, da defesa do aborto provocado.
Essa questão é outra e nossa opinião há muito manifesta de público.
Mas da condenação à apologia de hediondo crime – abuso sexual de crianças – pela alta cúpula da Santa Sé.
Quiçá legislação em própria causa...
Silêncio é o mal pior àqueles cuja obrigação é a mensagem.
Cada qual no ínfimo ser, dever que nos cabe.
E, cada qual, a seu modo, ser, crer.
“Creio em Deus Pai, Todo Poderoso, Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, Seu único filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo.
Nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.
Desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus.
Está sentado à direita de Deus Pai Todo Poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja, na comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na Vida Eterna”.
“Eu Vos peço o bem-estar para todas as crianças”.
Amém. Jesus, Maria, José.
...
*Haroldo Assunção é jornalista em Cuiabá/MT
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