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TEMA LIVRE : Haroldo Assunção
Entre Ribeirão Bonito e o Cuyabá
19/07/2009
‘...lá na prefeitura eles seguem roubando...’
“Era engraçado porque
despertava a atenção das
pessoas e assustava
os corruptos”
Natália Viana o reportou.
“Embelezar a cidade, perceberam eles, só escondia o ladrão”.
Interior paulista.
“Ruas estreitas, calçadas floridas, praça, igreja”.
Banzo.
Raiz reuniu, década atrás, a molecada que meio século antes – mais uns, menos outros – reinava nas águas do ribeirão Bonito.
1999.
Homens firmes, pés no chão.
Aos irmãos Chizzotti, - José, jurista, aposentado procurador do Estado de São Paulo, e Antônio, doutor em educação, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) -, somaram Josmar Verillo - presidente da multinacional Alcoa, fabricante de alumínio – e Antoninho Marmo Trevisan – da Trevisan Auditores e Consultores.
“Filhos de Ribeirão Bonito”.
Gênese da Amarribo.
Amigos Associados de Ribeirão Bonito.
“Não queremos dar o peixe, mas ensinar a pescar”.
BOM JESUS
Reforma do oratório, volta no tempo...
Bom Jesus, o morro onde a capela decrépita, primeira missão.
Lembrou Antônio.
“Para nós, tinha uma importância muito grande, nós vimos nascer aquilo... agora estava sem luz, abandonada, depredada”.
Narra Natália:
“Com muito esforço, a capela foi restaurada”.
“Organizaram também uma programação cultural, com direito a baile e orquestra, e restauraram um antigo cinema, o Cine Piratininga, único da cidade. Trabalho feito. Orgulho”.
REI NU
- De que adianta ajudar a cidade se lá na prefeitura eles seguem roubando?
Perguntou anônimo cidadão, derribou a casca pra mostrar o cerne.
Sintetizou Antônio.
“Era disso que os moradores estavam precisando, não de enfeite”.
CARNE DAS CRIANÇAS
Homônimo, outro Antônio - Sérgio de Mello Buzzá.
Era prefeito.
Sete comerciantes de carne estabelecidos à época em Ribeirão Bonito não dispunham do capital nem da tecnologia de embalagem – a vácuo – que exigiu à concorrência para fornecer à merenda escolar, o edital.
E, de tal sorte...
Excluídos.
Venceu empresário sediado em São Carlos - proprietário do luxuoso veículo usado pela família Buzzá desde a posse.
“Hidráulica e elétrica”, objeto de outro criminoso contrato.
Ao tempo, dobro da remuneração de juiz e promotor.
Provas à mão, Amarribo provoca o Ministério Público.
Conta José.
“Queríamos era tirar aquele prefeito; quanto mais ele ficasse mais roubava”.
Natália resume:
“Para tirar o homem da prefeitura, nem adiantava esperar o fim do processo judicial, que demora muito”.
Daí o povo forçou à Câmara Municipal instaurar Comissão Especial de Inquérito.
FOGOS DE ARTIFÍCIO
“Notas falsas, licitações dirigidas, contratos para serviços não prestados”.
Desvelar da roubalheira escandalizou o povo...
De curta memória.
Antônio ensina.
“É preciso cuidar bem da repercussão, senão as coisas ficam só no plano judicial e ninguém fica sabendo”.
Natália descreve.
“Procuraram professores, o pastor e o vigário – a intelectualidade local – para inteirá-los dos fatos. Conseguiram apoio de vereadores. Convocaram uma audiência pública no ginásio da cidade que juntou cerca de mil pessoas”.
Barulho.
Muito barulho.
Pontual.
Religiosamente, às 17h de todo santo dia, salva de fogos.
Antônio recorda.
“Era engraçado, mas ao mesmo tempo muito interessante, porque despertava a atenção das pessoas e assustava os corruptos”.
SANGUE NA VEIA
Farta nos churrascos do prefeito...
Faltava carne às crianças.
Natália resume.
“Jamais aparecera no refeitório da escolinha”.
Servidoras humildes denunciaram.
Conta José.
“As merendeiras foram de uma coragem incrível!”
“Uma delas confessou que um dia teve que bater uma sobrecoxa de galinha no liquidificador para fazer um sopão para as crianças”.
“Esse fato foi candente porque pôde mostrar para as mães que seus filhos não estavam recebendo a alimentação devida porque o prefeito estava roubando”.
“Isso teve um impacto terrível”.
RESUMO DA ÓPERA
Força da massa, ao fim de três meses, na Câmara Municipal concluso processo de cassação.
Buzzá renunciou, fugiu para Rondônia.
Foi achado e preso.
VIL SEMELHANÇA...
“Vencida a batalha” – descreve Natália – mal começara o trabalho.
“Aqui na minha cidade também acontece isso, como eu faço?”.
Pergunta mesma, aos milhares, de Chuí a Oiapoque.
VIU COINCIDÊNCIA?
Sintetizou Cláudio Abramo.
“A população das cidades pequenas não tem condição nenhuma de controlar esses gastos – não tem estudo, não tem verba, não tem estrutura”.
Diferente de Cuabá, que não é cidadezinha e onde a farra com o dinheiro público estampada para quem quiser ver...
MANUAL DE INSTRUÇÃO
Narra Natália:
“E eles perceberam que não só a corrupção nas prefeituras brasileiras era ‘endêmica’ – palavra do Antônio – como as práticas se repetiam, num padrão facilmente detectável”.
Daí o guia:
“Livro de combate à corrupção”.
Recomenda.
“É a vez de encarar a briga”.
Justiça.
Ministério Público.
Parlamento.
Controladorias.
Ouvidorias.
Associação de bairro.
Sindicato.
Grêmios estudantis...
Afins.
"O livro mostra como, passo a passo”.
O endereço:
www.amarribo.org.br.
“Vale a pena dar uma olhada”.
Natália Viana o sugere.
Assino embaixo.
...
VIANA, Natália. A limpeza em Ribeirão Bonito. Revista Caros Amigos, n. 25. Editora Casa Amarela. São Paulo, 2005.
...
*Harondo Assunção é jornalista em Cuiabá/MT
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